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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Fazendo a própria comida

Crise muda hábitos alimentares de mato-grossenses; restaurantes tentam se adaptar

Foto: Ilustração

Crise muda hábitos alimentares de mato-grossenses; restaurantes tentam se adaptar
Os efeitos da crise econômica, que se agravou nos últimos anos e vem assombrando país, se estendem à mesa do brasileiro e vem modificando os hábitos alimentares milhares de pessoas que antes comiam fora de casa. É o caso de muitos cuiabanos, que, em janeiro 2017 desembolsaram 47,39% do salário mínimo (R$ 937) na cesta básica. Diante dos R$ 408,51 pagos, oitavo maior valor do Brasil, levar a comida pronta para o trabalho, por exemplo, se tornou uma opção viável, ainda que se comparmos à praticidade de uma refeição feita no restaurante ou entregue pelas empresas.

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No perído, mesmo com o discreto recuo dos preços e o aumento de 6,48% no salário mínimo, o tempo médio de trabalho necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 91 horas e 48 minutos. A informação é do Departamento Interesindical de Estatísticas e Estudos Socioeconõmicos (Dieese), que, em dezembro de 2016, calculou uma jornada necessária de 98 horas e 58 minutos por pessoa. O mesmo levantamento mostra que o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 3.811,29, ou 4,07 vezes a quantia paga atualmente.

Foi pensando nestes cálculos e nas economias guardadas para uma futura viagem que Isabela Alves abandonou os pedidos diários de salada e passou a procurar por melhores preços de ingredientes para fazer tudo em casa. A receita garantirá economia de 50% no orçamento mensal, do qual antes eram destinados R$450 apenas para os almoços dela e do marido. O valor incluía as refeições, de R$ 14 reais cada, e a taxa de entrega, de R$ 2 reais.

Adotada há quase um mês, a medida já começa a mostrar resultados não apenas nas finanças. “Em alguns mercados o valor sai praticamente o mesmo, então compramos as verduras e legumes em um atacadista. Parei de pedir a salada também pra poder escolher o que colocar, ter mais liberdade com o cardápio. Este ano o preço da salada subiu e nós queremos viajar, então estamos sempre economizando pra tentar fazer um mochilão pela América do Sul ainda em 2017”, explica.

O corte feito pelo casal se repete em outras empresas e representa impacto negativo para quem está do outro lado dessa balança. No restaurante Luana Refeições, especializado em entrega de marmitas, por exemplo, os pedidos tiveram queda de 20% desde 2016. A diferença, de acordo com a proprietária, Luana Camargo, também é atribuída ao crescimento da demanda por produtos Fit, que se multiplicam no mercado também com a opção “delivery”.

De acordo com ela, o custo médio na produção de uma marmita é de R$11, a depender do cardápio. Assim, para que sejam feitos 70 pratos é necessário um investimento diário de pelo menos R$770, fora as despesas com entregador, que leva as refeições de moto, e auxiliares de cozinha. Para tentar driblar os desafios da concorrência fitness e da crise, o empreendimento, que atua há quase dois anos no setor, abriu mão da taxa de entrega e aposta na flexibilidade para manter os clientes.

O tempero também é destaque dos pratos, que tem foco na culinária caseira.“Embora a gente não faça a refeição fit, temos trocado alguns itens do cardápio por salada, de acordo com o que o cliente pede. Além disso, a entrega não tem custo e fazemos uma comida com sabor bem caseiro, de mãe mesmo, pra fidelizar o público. Nosso foco não é produzir comidas muito elaboradas”, explica a empresária.

Frente a mesma situação o restaurante Goiabeiras Goumert, que funciona há uma década na Capital, também optou pela versatilidade. Em março de 2016 passou a realizar entregas e investe em três escolhas diferentes de refeição: a executiva, de R$17,80, o marmitex do dia, de R$12 e o marmitex com bife grelhado, de R$13, sendo que a taxa de entrega é cobrada de acordo com o bairro do pedido. A produção também conta com a avaliação de uma nutricionista.

Segundo uma das administradoras do estabelecimento, Edinéia Moraes de Oliveira, o delivery, que foi adotado depois que os proprietários perceberam uma queda no volume de clientes, tem dado resultados positivos. Em uma média semanal são entregues cerca de 50 refeições pelo restaurante, que conta com pratos elaborados e público de poder aquisitivo mais elevado. “Conseguimos segurar muitos clientes. Se por algum motivo eles não podem vir, nós levamos. Com temos mantido um fluxo parecido ao que já tínhamos antes da crise”, diz.

Contra a maré

Em movimento contrário ao que afeta a maior parte dos empreendimentos do setor, a gastrônoma Sandra Regina de Souza resolveu investir nas saladas de pote. Formada no final de 2015 ela deu início a produção das refeições, armazenadas em potes, assim que concluiu o curso. A aposta é na praticidade e durabilidade da comida, que pode ser guardada por até uma semana. Seu cardápio conta com exigências básicas para um almoço saudável e incluem também proteínas e carboidratos aliadas as folhas, verduras e legumes.

O nicho, que ainda não apresenta grande concorrência, tem rendido a ela um saldo positivo na conta bancária, uma vez que, diferente da maioria dos restaurantes, aponta para o crescimento da clientela. “Atribuo parte disso ao aumento da procura por comida saudável. Via muita gente reclamando que nos restaurantes a comida era pesada e ofereciam muita fritura, por isso resolvi investir na salada. Por enquanto, ainda não senti o impacto da crise nas vendas.”

Sandra explica que os potes são retornáveis e que os investimentos por porção são de R$ 6 reais em média, sendo que o valor cobrado nas vendas é de R$ 15 reais. “Também não cobro pela entrega se for em algum lugar na região central da cidade” afirma a empreendedora.
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