Copa afeta consumo e amplia a ociosidade de moinhos de trigo
22 Jul 2014 - 14:32
Canal do Produtor
Em vez de escassez do cereal, como se previa no início deste ano, houve uma certa "folga" no abastecimento, de forma que os moinhos até desaceleraram a moagem de trigo para produção de farinha. Isso ocorreu porque houve um menor consumo de pães e outros derivados de farinha no período. Com isso, estima-se que, nos últimos dois meses, a indústria tenha reduzido em 5% a moagem de trigo, quando o normal é elevar o volume processado em 15% devido à maior demanda típica do inverno.
A situação afeta principalmente os moinhos que fornecem matéria-prima para o setor de panificação, que responde por metade das 8,3 milhões de toneladas de farinha consumidas no país, segundo o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika. "O forte da panificação fica em São Paulo".
De fato, o movimento das padarias na capital paulista ficou muito abaixo da expectativa do segmento no período da Copa. A receita do setor caiu 20%, segundo Antero Pereira, presidente do Sampapão, entidade que representa as padarias do Estado. Ele elenca os fatores que levaram a esse cenário: antecipação das férias escolares, cancelamento de eventos de negócios na cidade e decretação de feriados nos dias de jogos. "A Copa foi um desastre para as padarias, com exceção daquelas localizadas próximas do Itaquerão e em alguns outros bairros, como na Vila Madalena", afirma.
Nas contas do sindicato que representa a indústria moageira do Estado de São Paulo (Sindustrigo), a queda na moagem afetou todo o semestre. Os moinhos do Estado processam 1,9 milhão de toneladas de trigo por ano, 950 mil toneladas por semestre. "Mas nos primeiros seis meses deste ano, esse volume caiu 5%, para cerca de 900 mil toneladas", diz o presidente do Sindustrigo, Christian Saigh. Ele acrescenta que a ociosidade dos moinhos paulistas, normalmente em 30%, está em 35%.
Parte dessa redução pode ser explicada pelo clima quente neste inverno, diz Marcelo de Baco, da De Baco Corretora, de Porto Alegre (RS). O tempo quente reduz a demanda por alimentos calóricos, à base de farinha, e as chuvas no Sul mantiveram os pastos verdes, reduzindo a necessidade de complementar a alimentação animal com ração. O consumo entre os turistas que vieram para assistir aos jogos da Copa também decepcionou. "As fotos só mostram os turistas segurando cerveja, e não cachorro quente", brinca Baco.
Fora de São Paulo também houve retração. No Rio Grande do Sul, a redução da moagem no semestre é estimada em torno de 10%, segundo José Antoniazzi, presidente do sindicato que reúne os moinhos do Estado. "Maio e junho foram os piores meses dos últimos anos", afirma. O processamento das indústrias gaúchas costuma somar 1,6 milhão de toneladas no ano, mas no primeiro semestre o setor moeu cerca de 100 mil toneladas a menos que o normal para o período. Essa queda significou uma ociosidade na casa dos 10% - os moinhos do gaúchos utilizam normalmente 100% da capacidade instalada, segundo Antoniazzi.
Mas para quem tem uma clientela diversificada, a redução da moagem de trigo não tem sido significativa. Foi o caso do Moinho Estrela, com sede em São José (RS), que fornece farinha para padarias, indústrias de biscoito, massa e panificação e para o varejo. "A queda nas compras foi mais por parte da indústria de biscoito e massa", afirma Gerson Preto, diretor industrial da empresa.
O Estrela também reduziu o volume de trigo moído no semestre, mas o recuo foi resultado da interrupção das atividades durante os dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo. Segundo Preto, as paradas devem ter prejudicado o faturamento, mas ainda não é possível mensurar o efeito. Porém, ele avalia que o processamento deve retomar o fôlego a partir de agosto por causa dos preparativos para o consumo de fim de ano e alcançar a meta de 240 mil toneladas no ano - o mesmo volume processado pelo moinho em 2013.
Além do consumo em queda, outro fator tem pesado na retração das atividades dos moinhos: o excesso de farinha de trigo em estoque nas indústrias. No ano passado, houve quebra na safra de trigo por conta do frio, o que fez o preço do cereal disparar no mercado interno. "Com essa memória e com os preços ascendentes no início do ano, os compradores de farinha tentaram garantir o padrão de qualidade e fizeram contratos para recebimento em abril e maio, acumulando estoques para até 5 meses", diz Marcelo Baco.
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