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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Safra 15/16 está ameaçada em Mato Grosso devido à liberação de crédito, afirma Rui Prado

Safra 15/16 está ameaçada em Mato Grosso devido à liberação de crédito, afirma Rui Prado
A demora na liberação de créditos por parte do governo federal, com o Plano Safra, ameaça a safra 2015/2016 em Mato Grosso. A afirmação é do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado. O setor produtivo ainda sofre com as constantes altas das taxas de juros, bem como o custo que produção, visto a instabilidade do dólar. A previsão é que até o final de abril o governo federal, por meio dos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Kátia Abreu (Agricultura), anuncie o Plano Safra 2015/2016.

As estimativas são de que o Plano Safra 2015/2016 tenha, no mínimo, os mesmos recursos do Plano Safra 2014/2015 de R$ 156 bilhões. A projeção foi apontada pela ministra Kátia Abreu durante a abertura da 14ª Tecnoshow Comigo, realizada em Rio Verde (GO).

De acordo com o presidente da Famato, em entrevista ao Agro Olhar, a instabilidade do dólar é outra preocupação dos produtores mato-grossense, tendo-se em vista que os insumos são adquiridos em dólar, o que eleva o custo de produção ainda mais.

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Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revela que em março, com o dólar cotado a R$ 3,14, o custo de produção médio por hectare para a soja convencional no Estado para a safra 2015/2016 é de R$ 2.922,95 e da soja transgênica de R$ 2.949,07, enquanto em outubro do ano passado, com o dólar a R$ 2,45, estimava-se para a mesma safra R$ 2.506,54 para a soja convencional e R$ 2.491,33 para a transgênica. O Imea revela ainda que a safra 2014/2015 ficou em uma média estimada por hectare de R$ 2.442,49 para soja convencional e R$ 2.412,05 para a transgênica com o dólar cotado a R$ 2,33 em setembro de 2014.

Confira a entrevista com o presidente da Famato, Rui Prado:

Agro Olhar - Quais são as expectativas para 2015 no agronegócio diante esta economia em que o Brasil está vivendo? O ano de 2016 como espera que vá ser diante a desvalorização da moeda que vemos?

Rui Prado - Essa oscilação do dólar não é boa. Nem para um lado e nem para outro. O ideal é a estabilidade da economia e ter uma estabilidade do dólar também. Estou vendo, neste momento, com muita preocupação o crédito para o produtor. O crédito hoje ele está sendo represado, não está como estava o ano passado, e se o crédito não vier para a mão do produtor rapidamente, agora na compra dos insumos, com certeza vamos ter problema de crise, problema de menos aplicação de insumos nas lavouras e problema de menos produção com maior preço, o que levará o consumidor a pagar mais. Então, a questão toda é o crédito neste momento para o produtor.

Agro Olhar - O que precisaria ser feito? Já há uma discussão com o governo federal?

Rui Prado - Precisa o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, informar o que ele irá fazer, porque, por enquanto, só tem ameaças. A verdade é essa. Ameaças de que os juros vão aumentar e eu acredito que vá mesmo. Mas, não tem ainda o valor exato do aumento destes juros. Não há ainda o volume de recursos que o governo irá disponibilizar equalizado e isso é importante não só para quem pega recursos, pois baliza, inclusive, os outros recursos em função deste. Então, está precisando acontecer isso. O governo soltar o Plano Safra.

Agro Olhar - Nós podemos dizer que a safra 2015/2016 está ameaçada?

Rui Prado - Neste momento está.

Agro Olhar - Até por conta dos custos de produção?

Rui Prado - Até por conta dos custos de produção. Se na semana que vem haver recursos nos bancos e tivermos os anúncios e forem bons na semana que vem não temos mais ameaças. Neste momento temos sim ameaça em função do crédito.

Agro Olhar - E no caso do dólar? Hoje, ele não está bom para o setor?

Rui Prado - A instabilidade não está boa para o setor. Lógico que o setor de soja, e do algodão também, é um setor que demanda muito produto para a exportação e o dólar mais forte é bom. Porém, os insumos sobem, também. O fato é o seguinte, o ideal é a estabilidade. É eu plantar uma safra com o dólar, por exemplo, de R$ 3 e eu colher com o dólar de R$ 3. Essa história que você planta com R$ 3 e colhe com R$ 3,50 ou planta com R$ 3 e colhe com R$ 2,50 é ruim, não é bom. O bom é a estabilidade.

Agro Olhar - Na próxima semana nós deveremos ter, no dia 22 de abril, a regulamentação da Tabela de Frete Mínimo por parte do governo federal. Caso isso não ocorra, essa regulamentação, nós teremos paralisação dos caminhoneiros novamente. Essa nova paralisação para o setor produtivo pode complicar em quê? Que tipos de prejuízos pode trazer para o escoamento da safra, para a produção, trazer os insumos?

Rui Prado - A paralisação é preocupante, porque nós vamos entrar em uma fase agora onde os insumos terão de ir para as fazendas. Agora tabelamento de frete como está sendo proposto, como vai acontecer, não vai funcionar. Infelizmente, tenho de dizer isso. Não existe tabela de frete, porque isso aí é uma distorção de uma economia livre, vamos dizer assim tabelamento de qualquer produto, inclusive o frete. O que tem que dar é condições para quem faz o transporte ganhar dinheiro também. Ser remunerado por isso. Mas, o que está mostrando claramente esse problema de frete no Brasil é a falta de investimento que todos os governos passados não fizeram no país. O que se está mostrando agora a ineficiência do investimento. Porque plantar grão em Mato Grosso e levar para um porto de Santos, Paranaguá ou para o Sul do país isso não é economicamente viável. A verdade é essa. Então, cadê o investimento em ferrovia, hidrovia e pavimentação das rodovias, conservação das rodovias. Isso está mostrando uma deficiência estrutural do país. Não é o preço do frete em si, o preço nominal do frete que vai resolver essa questão.

Agro Olhar - Hoje, Mato Grosso é destaque mundialmente. O que faltaria para o Estado se tornar mais competitivo?

Rui Prado - A logística. Obras estruturantes, vamos falar assim. Logística de modo geral, rodovia, ferrovia, hidrovia. Armazenagem falta e energia.

Agro Olhar - Como está esta questão da armazenagem e da energia em Mato Grosso?

Rui Prado - Pois é, o governo criou um programa interessante que é o PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns), com uma linha de crédito no Banco do Brasil, e quando olhamos os números o Mato Grosso, dentre os Estados produtores, foi o Estado que menos investiu em armazenagem e é o que mais precisa. Então, quer dizer, tem alguma coisa acontecendo. Ou os bancos não estão conseguindo aplicar esse recurso ou os produtores estão tendo dificuldades. Eu não sei. Mas, não está acontecendo a armazenagem que precisaria estar acontecendo. Existe uma linha de crédito e não se está conseguindo ter acesso no Estado, digo assim no volume que é suficiente. E com relação a energia o processo industrial depende da energia, inclusive da agricultura. O assunto que chegou até nós é que na agricultura com uso de pivô é que tem pivô parado por conta do preço da energia elétrica. Esse é outro ponto que tem que estudar. Essa energia tem que ficar mais barata. Porque, como é que nós vamos industrializar nossos produtos com a energia a esse preço. Eu não vejo como o industrial vir para cá e nem como o produtor fazer agroindústria aqui, porque é impagável. A verdade é essa.
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