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Ministro ameaça deixar de importar produtos do Chile caso haja retaliação à carne brasileira

Da Redação - Érika Oliveira

O ministro da Agricultura e Pecuária, Blairo Maggi (PP), afirmou que o País poderá deixar de importar produtos do Chile, como a maça e o salmão, caso haja retaliação à carne que é produzida no Brasil. A fala do ministro diz respeito a possibilidade do País vizinho, a exemplo da União Europeia, interromper a importação da proteína animal em função da deflagração da Operação Carne Fraca.

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“Daqui para frente tudo pode acontecer, mas nós também temos os nossos argumentos. Nós somos importadores de vários produtos do Chile, como peixes, frutas. Os produtores brasileiros vivem reclamando que nós devemos criar barreiras quanto a isso. Comercio é assim, não tem só bonzinho e às vezes tem que ser na cotovelada. Se eu tiver que ter uma reação mais forte para proteger o mercado brasileiro, não tenham dúvidas que eu farei”, disse o ministro durante entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (20).

O ministro afirmou que ainda não foi informado oficialmente sobre a decisão do Governo chileno de embargar ou não a importação da carne brasileira, mas disse que espera cautela do País, até por conta dos tratados comerciais firmados entre os países que fazem parte do Mercosul. O Chile, apesar de não fazer parte do bloco econômico, participa como País associado.

O Chile é o 7º maior importador da proteína animal que é produzida no Brasil. 30% da carne consumida no país tem procedência brasileira.

“Nós temos uma relação comercial muito boa [com o Chile], então, se eles tiverem alguma restrição que nos entreguem isso circunscrito nesse sentido. Eles precisam, no mínimo, ter a calma de nos deixar auditar os procedimentos. O que eu não gostaria de ver no Chile é a suspensão total, por isso eu devo esperar o que vai acontecer”.

Até o momento, 21 empresas que possuem o SIF - Serviço de Inspeção Federal que atesta a qualidade da produção dos produtos de origem animal no Brasil – estão sob regime especial de fiscalização do Ministério da Agricultura. Destas 21 empresas, 3 tiveram irregularidades comprovadas pela operação "Carne Fraca" e seguem interditadas.

Conforme Blairo Maggi, a União Europeia, que exporta produtos de 4 SIF’s das 21 que estão sob audição do MAPA, a China e a Coréia do Sul já se manifestaram no sentido de embargar às carnes brasileiras.

“Eu torço e rezo”

Durante a coletiva, o ministro destacou sua preocupação quanto a outros países seguirem essa tendência e também reagirem no sentido de romper relações comerciais com o Brasil.

“Nós temos embargos em andamento de alguns países e, obviamente eles têm autonomia e liberdade de fazer as fiscalizações e as averiguações que acharem necessários. O que nós temos que provar é que o nosso sistema não foi quebrado, nós tivemos um problema pontual”, disse o ministro.

Questionado sobre a real possibilidade de todos esses países optarem por parar de comprar a carne brasileira, Maggi afirmou que, nesse caso, ocorreria um “desastre”.

“A China é um grande importador, a comunidade europeia além de ser um grande parceiro é também o nosso cartão de visita. Quem vende para a Europa vende facilmente para outros países. Eu torço, eu rezo, eu penso e trabalho para que isso não venha a acontecer”, pontuou.

A operação

A operação da Polícia Federal denominada "Carne Fraca" foi deflagrada na manhã desta sexta-feira, 17 de março, em sete Estados (São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás), com o objetivo de desarticular organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio.

A operação é considerada a maior já desarticulada pela Polícia Federa. Estão envolvidos na ação aproximadamente 1100 policiais federais no cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão, em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.

As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR). Gravações telefônicas divulgadas obtidas pela Polícia Federal e divulgadas nesta sexta-feira, 17 de março, apontam que vários frigoríficos nos Estados investigados comercializavam carne estragada tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo.

Em torno de 30 empresas frigoríficas estão envolvidas na operação "Carne Fraca". Entre as empresas, segundo documentos divulgados pela Polícia Federal, estão a BRF, que controla as marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, além de frigoríficos pequenos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com a Polícia Federal, agentes públicos utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva.

As investigações ocorreram durante dois anos e dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos, com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Conforme a Polícia Federal, tal conduta dos agentes públicos permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente. 

 
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