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Notícias / Logística

Professores defendem no Ministério projeto para trazer trem a Cuiabá e reduzir “Custo Brasil”

Da Redação - Vinicius Mendes

Os professores Luiz Miguel de Miranda, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Silvio Tupinambá, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e Carlos Antônio Garcia, elaboraram uma Proposta de Manifestação de Interesse (PMI), apresentada ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, para a ampliação da malha ferroviária de Mato Grosso.

Além de trazer vantagens para o escoamento da safra do Estado, a intenção principal dos autores da proposta é que, com a chegara da ferrovia a Cuiabá, seja criado um pólo industrial na capital. Ao Olhar Direto o professor doutor Luiz Miguel explicou que isto geraria centenas de empregos e não eliminaria o transporte rodoviário.
 
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O PMI trata de dois projetos de interesse para Mato Grosso, a ligação ferroviária de Rondonópolis / Cuiabá / Sinop (EF-364/170), ligando o Estado de norte a sul, e a ligação ferroviária que liga Alto Araguaia (MT) a Uberlândia (MG), a EF-262. O intuito é que o Governo Federal abra uma licitação para a realização das propostas.

O professor Luiz Miguel disse que a decisão de trazer a ferrovia a Cuiabá é para cumprir o projeto do senador Vicente Emílio Vuolo, em 1975, a Ferronorte, que já tinha a capital nas rotas. A intenção é criar um pólo industrial em Cuiabá.

“O que a gente quer na Baixada Cuiabana é o pólo industrial para a agroindústria, razão pela qual, já naquela época, o governador Garcia Neto gastou um esforço enorme da gestão dele para fazer o distrito industrial, que hoje está metade abandonado".

"A gente tem a infraestrutura preparada, ali não deve ter mais que 40 hectares ocupados, mas se precisar de 250 hectares você pode ampliar para qualquer direção, sem atravessar nenhum rio, sem pegar em nenhum morro, sem passar em cima de nenhuma vila, e temos a energia que você precisa para fazer a industrialização”.

O professor explica que apenas a ferrovia consegue transportar cargas de baixo valor agregado, nas necessárias para a industrialização (como minério de ferro, carvão mineral, etc.) por altas distâncias por um custo viável. Com a ferrovia passando por Cuiabá, as commodities chegariam à capital e boa parte ficaria na indústria local.

“Porque não interessa só passar com 40 milhões de toneladas de milho aqui, por exemplo. Interessa chegar 40 milhões aqui, mas eu só exportar 10, o resto transformar em proteína, em coisa de valor agregado (industrializado), a gente não quer botar mais boi na baixada, queremos botar uma centena de empregos, e o que gera emprego é a industrialização”.

Segundo ele isto não causaria prejuízo ao agronegócio já que, de qualquer forma, a mercadoria seria vendida. Ele também diz que, caso haja alguma crise mundial e o preço das commodities caia, este setor quebraria.

“Quando você tem esta industrialização você vai trabalhar com carga de valor agregado, porque você gera postos de trabalho. E uma carga de baixo valor agregado como soja, milho, algodão, quando você bota isso dentro de um caminhão, não vai de graça, alguém vai ter que pagar. Como o preço de commodities é internacional, você tira a diferença do produtor, quando há aumento de taxas, ele cada vez ganha menos, até que vai sumir algum dia”.

Já sobre a ligação ferroviária entre Alto Araguaia em Uberlândia (MG), o professor diz que já estava incluída no projeto do senador Vuolo de 1975. Esta linha passará por Rio Verde, em Goiás, região já industrializada onde também passa a ferrovia Norte Sul, e também pelos municípios de Mineiros, Jataí, antes de chegar ao porto de Vitória. Todas estas regiões também seriam impactadas pela industrialização.

“Naquela oportunidade, em 1975, os pesquisadores e especialistas já sabiam que Mato Grosso  viria a ser pólo de produção agropastoril, e por conta disso, como é carga de baixo valor agregado, teria que ser transportado por hidrovia ou por ferrovia, como as hidrovias não conseguem chegar em todo lugar o jeito seria a ferrovia. Este projeto, chamado Ferronorte, foi feito desta maneira, uma licitação em 1989, ganho pelo grupo Itamaraty, que não concluiu as obras”.

As obras, segundo Luiz Miguel, não iriam cruzar nenhuma aldeia indígena, nenhuma comunidade quilombola, nenhuma serra e nenhuma terra úmida, apenas terreno propício à ferrovia.

Ele explica que o custo do transporte, que hoje 66% é feito por rodovias e apenas 18% por ferrovias, tem sido muito alto. Ele afirma que em grandes distâncias o transporte de carga de valor não agregado encarece muito. Por causa disso decidiram pensar numa solução. Ele afirmou que o recente movimento dos caminhoneiros também foi um motivador para esta busca de alternativas.

Ele afirma, no entanto, que a proposta não é para acabar com os transportes rodoviários. Mesmo com a ampliação da malha ferroviária, o transporte de mercadorias em caminhões ainda seria necessário.

“Ninguém consegue viver sem caminhão em distâncias entre 300 ou 400 quilômetros, daí para diante, tudo o que você botar em caminhão, uma parcela está indo para o ralo, é o Custo Brasil. E é um custo alto, quando você tem uma rede rodoviária não concessionada, quem paga a conservação do pavimento são os contribuintes”.
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