Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

Cuiabá, fé e festa

Festeiro por excelência, o povo cuiabano introduziu nas festas de santo todo um extenso repertório de "brincadeiras" ou "funções", que propiciam a diversão e o lazer da população, ao lado da motivação religiosa e devocional. Aqui se festeja, entre outros, São Benedito, Senhor Divino, São Gonçalo, São João, Santo Antônio e São Pedro.

Os preparativos começam dias antes, meses até. E isso já é uma festa: comparecem vizinhos, parentes, compadres, enfim, uma porção de gente para “dar uma mão”. Mãos solidárias, mãos de fada. Transformam papel crepom em belas e coloridas flores e bandeirolas para o salão da festa e para os altares. Preparam pratos e licores de dar água na boca aos paladares mais exigentes. Dominam a técnica de trançar as palhas de coqueiro que cobrirão o "empalizado" para o baile e a reza. Mãos que tocam viola e rufam o bombo.

Até os santos ajudam... E ai deles se não ajudarem! Mulheres solteiras beliscam os pés de Santo Antônio até conseguirem um marido. Caso não funcione, colocam-no de cabeça para baixo. Se também não funcionar, estamos diante de uma moça encalhada. O problema é grave, mas não impossível. Pelo menos para São Gonçalo. Comemorado em janeiro, São Gonçalo é considerado o casamenteiro das velhas:

"São Gonçalo do Amarante Casamenteiro das velhas
Porque não fez casar as moças
Que mal fizeram elas? "

Como veem, não é fácil ser santo em Cuiabá. São João que o diga! Cabe a ele responder se a pessoa sobreviverá mais um ano. Diz o povo que no momento da lavagem do santo, se você se mirar na água e nela não vir refletida a sua imagem, é certo que não estará vivo para festejar São João no ano seguinte.

Mas calma, milagres é com São Benedito e Senhor Divino. Basta ter fé. Celebrado em maio, o Senhor Divino é representado por uma linda pomba branca, símbolo da paz. Os pães do Senhor Divino, distribuídos durante a coleta de esmolas, de casa em casa, são considerados bentos. Ninguém os come. São guardados para os casos de doenças, quando então rala-se o pão e faz-se um chá. Levanta até defunto, dizem.

E como fé não falta ao povo cuiabano, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito vive repleta de fiéis às terças-feiras, dia da missa ao Santo Negro, que aqui chegou com os escravizados e até hoje é reverenciado. A sua festa acontece mês de julho e é uma das maiores festas do calendário religioso de Cuiabá.

Cuiabá é fé e festa. Impossível ficar indiferente a tanta devoção e alegria. Prova disso é que nem os santos resistem e caem na dança!

* Ivan Belém- é doutorando e membro do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT.
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