Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Salve o Centro Histórico, salve o Gran Bazar!

Alguns meses atrás uma colega jornalista soprou no meu ouvido a história de um homem chamado Júlio, que tinha investido uma grana legal em um estabelecimento comercial no Centro Histórico, ali colado na Praça da Mandioca. Disse que estava rolando samba, rock, rasqueado. Que o tal Júlio estava entusiasmado, queria ajudar os outros comerciantes que já estão na área a trazer de volta a vida e a cultura para aquele lugar. Eu fui.

Fui e não parei mais de ir. Mistura de tribos, de sotaques, de estilos. A comida era boa, a cerveja gelada, o papo cabeça, e a música excelente. As pessoas sorriam, cantavam, se emocionavam, se beijavam, falavam sobre política, sobre a cidade, sobre as pessoas, sobre as drogas e curtiam muito cada minuto naquele lugar.

Cheguei no miudinho, apenas um visitante, mas me senti tão em casa que não quis mais sair. As rodas de samba foram minha carta de entrada e hoje me sinto parte do Gran Bazar Pac. Entrar ali era inspirar cultura. A sensação de ver as pessoas felizes às margens da Pedro Celestino é revigorante, é a certeza de que é possível sim revitalizar, reviver, renascer.

É possível sim, os empresários embarcaram nessa onda, alguns reformaram seus casarões, se instalaram por ali, compraram a ideia. Mas e o Poder Público? Ah, o Poder Público. Há anos escuto falar em revitalizar o Centro Histórico, especialmente nas campanhas eleitorais. Mas ações, efetivamente, são raras e isoladas no sentido de fomentar essa necessidade. Hoje, querem tirar até a prefeitura do centro. 

Pior. Ao invés de ajudar, atrapalha. Nesta ultima quinta-feira (28), mais uma noite de efervescência cultural. Gente de todas as áreas reunidas, o Centro Histórico povoado. Em função de intervenções anteriores, a capacidade de som foi reduzida em mais de 60%. Era noite de festa, lançamento do novo lote da premiada cerveja cuiabana, Benedita.

As pessoas cantavam de olhos fechados, um casal dançava de rosto colado, o público revitalizava. Estava tudo muito perfeito, parecia um sonho. Como um furacão, a Prefeitura de Cuiabá chegou. Caras amarradas, olhares indiferentes, caneta pesada. As pessoas se assustaram, o casal foi embora, a música parou, o Gran Bazar Pac fechou.

Viatura de polícia lá fora, fiscais lá dentro. Tensão. Éramos nós os bandidos do Centro Histórico ou o Centro histórico dos bandidos? Ação psicologicamente truculenta, um efeito fatal. No bolso, duas multas pesadas, na cabeça, uma dúvida mortal. A quem interessa a revitalização? 

Júlio, pau fincado, amante da nossa terra, quer resistir, quer ficar, mas sente que está sendo expulso. Hora pelos ‘noiados’ que entram no seu estabelecimento pelo telhado. Hora pela Prefeitura, que insiste em acuá-lo como um fora da lei. Eu quero mais cultura e menos Prefeitura, eu quero mais amor, menos ódio. Salve o Centro Histórico, salve o Gran Bazar. Júlio, o ‘Sol, há de brilhar mais uma vez. A luz há de chegar aos corações. Do mal será queimada a semente. O amor será eterno novamente. É o juízo final. A história do bem e do mal. Quero ter olhos pra ver, A maldade desaparecer. O amor será eterno novamente’.

#Raoni Ricci é jornalista e cuiabano
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