Olhar Direto

Terça-feira, 16 de abril de 2024

Opinião

Sobre o manifesto "Por uma candidatura única centro-democrata

De acordo com o site “o antagonista” (disponível em www.oantagonista.com; acessado em 20/09/2018), um grupo de pessoas incluindo advogados como Miguel Reale Jr. até integrantes de movimentos como o “Livres” lançou um manifesto por uma “candidatura única centro-democrata”. Segue transcrição na íntegra do documento:

“Fazemos este apelo em defesa da LIBERDADE de todos os brasileiros: chamemos nossos políticos do centro-democrático à responsabilidade. Sra. e srs. Candidatos à Presidência da República, Marina Silva, Alvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e João Amoêdo, defendam nossa democracia unindo-se em torno de uma candidatura única, que nos dê esperança de um país livre do radicalismo, sem que, para isso, sejamos obrigados, pelo medo, a eleger outro extremista. Acreditamos que não há espaço para arriscar, por isso propomos esta convergência imediata.

Somos brasileiros, que fomos às ruas lutar pela nossa jovem democracia. Mas estamos cansados. Queremos a pacificação do país e seu progresso. Estamos em diferentes regiões e classes sociais, clamando por um ato de desprendimento e generosidade dos atuais candidatos centro-democratas à Presidência da República. Os candidatos da extrema direita e extrema esquerda destilam ódio e medo, dividindo o país e incitando a violência. Esperamos que reflitam, rapidamente, em que lado da história querem estar nas próximas décadas: a que contará sua grandeza ao convergir para uma candidatura em prol do país e que o salvou, ou a indiferença que acabou levando-o ao caos”.

O manifesto encerra com frase de Joaquim Nabuco: “Eduquem seus filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia, único meio de não ser a sua própria liberdade uma doação gratuita do destino, e de adquirirem a consciência do que ela vale, e coragem para defendê-la.”

Fica evidente que esta declaração de intenções objetiva persuadir eleitores de que existe uma polarização de “extrema-esquerda” representada pelo Candidato-poste do presidiário de Curitiba Fernando Haddad e outro de “extrema-direita” personificado pelo candidato Jair Bolsonaro pelo PSL. Nesse sentido faço as seguintes considerações:

1. A primeira diz respeito a tentativa de enquadrar os partidos e candidatos do País no espectro político esquerda-direita. Sim, existem partidos que se encaixam neste plano horizontal, contudo, o espectro, pela sua complexidade também é analisado em um eixo vertical, formando um plano com quatro quadrantes. A primeira dificuldade é que determinados elementos são comuns a ambas as visões de mundo, portanto, seria impossível abordar esse tema neste artigo (ver artigo publicado nesta coluna em 30/08/2017). A título de exemplo, o nazi-fascismo possui elementos de ambos os lados do espectro político, no sentido de serem ideologias totalitárias. Assim sendo, a primeira crítica ao manifesto diz respeito exatamente a querer “enquadrar” as candidaturas no espectro político dessa natureza, uma vez que não existe consenso na literatura sobre o tema e ainda vê-se nitidamente a carga valorativa imposta quando referem-se aos candidatos.

2. Tecnicamente, o PT não seria de extrema-esquerda porque, pelo menos em seu estatuto, não existe de forma explícita a opção pelo “socialismo real” ou comunismo, o que, em última instância, apregoa o fim de Estado. Isso não quer dizer que seus integrantes não defendam internamente tal postura (acredito mesmo que o façam).

3. De outro lado, não se tem elementos objetivos para afirmar que Bolsonaro e seu partido pertecem a uma “extrema-direita”, muito pelo contrário, em apertada síntese, a proposta do candidato do PSL seria de uma “direita liberal econômica e conservadora nos costumes”, algo próximo ao Partido Conservador da Inglaterra ou o Partido Republicano dos EUA.

4. Também não faz sentido colocar no mesmo saco os candidatos Marina Silva, Alvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e João Amoêdo. Este último, aliás, no campo econômico está emparelhado com o candidato Bolsonaro. Marina Silva e Henrique Meirelles foram ministros do candidato citado como de “extrema-esquerda”. Geraldo Alckmin pertence ao partido que apoia o atual governo, que estava aliado do partido do mesmo candidato “extremista”. Alvaro Dias ninguém sabe qual “banda toca” haja vista ter passado por inúmeros partidos.

5. Ao defenderam a liberdade, os manifestantes optam claramente pela direita. A esquerda defende a igualdade em detrimento da liberdade individual. Esse é um ponto pacífico na análise do espectro.

6. Sobre o candidato ditos de “extrema-direita” estar incitando a violência, já manifestei aqui (ver artigo publicado em 11/09/2018 nesta coluna) o fato de que o candidato Jair Bolsonaro, ao pregar o uso da violência contra pessoas que praticam crimes, o faz em nome do estado weberiano, ou seja, sendo o Estado, por definição, possuir o monopólio do uso da força legítima, deve fazê-lo sempre que o próprio Estado, suas instituições ou seu povo estão ameaçados ou sofreram qualquer tipo de violência de outros. Trata-se de violência legítima, proporcional e necessária, sob pena da volta à barbárie e auto-tutela. Diferentemente, a violência pregada pela esquerda não tem esse viés. Trata-se de uma violência de cunho “marxista”, com matriz revolucionária e voltada à destituição e/ou deslegitimização do poder vigente, facilmente observável nos discursos do representantes da esquerda nacional.

7. Joaquim Nabuco foi um dos grandes diplomatas do Império do Brasil (1822-1889). Monarquista, abolicionista e convertido ao catolicismo. Trata-se, portanto, de um legítimo representante da direita conservadora. Vejam que prega a educação como responsabilidade das famílias, mais do que do Estado.

Compreendo a preocupação dos “manifestantes” com o atual cenário político brasileiro. Discordo quando o analisam apenas pelo viés de cosmovisões políticas. Não que seja desnecessária tal abordagem, contudo, dado a sua complexidade e baixo nível de entendimento da população quanto a esse aspecto da ciência política, aliado a carga valorativa com que esses conceitos são empregados, notadamente em um país com hegemonia do pensamento formatado por uma intelectualidade de esquerda, acredito mais confundir do que propriamente explicar.

O manifesto deveria ser no sentido de orientar a população a escolhar entre candidatos que representam propostas de retirar o Brasil do atraso econômico e libertá-lo das correntes ideológicas que pregam o “vale-tudo” nos costumes e ainda defendem que o Estado o aplique. Nitidamente é o PT e seus aliados os grandes defensores da primazia do Estado na implantação de modificação dos costumes tradicionais pela visão de mundo da nova esquerda via sistema oficial de ensino (vide ideologia de gênero, gayzismo, aborto, direito humanos para criminosos etc).

Deveria ser no sentido de dizer à população, principalmente os mais pobres e com baixo nível educacional que a ruína moral e econômica em que a Nação se encontra tem autor com nome e sobrenome: o PT e seus aliados, ditos de centro-democrático.
Deveria também dizer que o crime não compensa. Que um candidato preso por corrupção e lavagem de dinheiro não deveria ser candidado e muito menos apoiar alguém para representá-lo no cargo de Presidente da Nação.

Deveria dizer que uma candidatura com essa natureza mereceria ser rechaçada de pronto. Que trata-se de um escárnio e um incentivo à desordem, ao atraso e a todas as virtudes que deveriam nortear o jogo democrático em um estado de direito.

Miguel Reale Jr. é um grande jurista brasileiro. Formulou, juntamento com Janaína Paschoal e Hélio Bicudo a petição que levou ao impedimento da ex-presidente Dilma. Portanto, fizeram um grande serviço à Nação. Digno de nota. Contudo, nesse momento, devemos separar muito bem o joio do trigo. Não é honesto intelecutalmente colocar o candidato do PSL no mesmo “balaio” que a turma do PT e parte dos candidatos ditos “centro-democráticos (seja lá o que isso signifique). Bolsanaro não teve participação no maior esquema de corrupção da história da república, quiça do mundo, capitaneado por Lula, o PT e seus aliados.

Bolsonaro, em que pese suas limitações técnicas na área econômica (honestamente confessadas) tem o direito e legitimidade de colocar-se em oposição ao atual cenário moral/econômico construído pela esquerda (seja de centro ou extrema, como queiram). Rotulá-lo, como grande parte da mídia vem fazendo, como um “extremista da direita”, sem explicarem o que isso significa é um desserviço ao eleitor.

Por fim, a escolha a ser orientada para o eleito deveria ser entre um candidato que não está envolvido no maior esquema de corrupção da nação e o candidato que representa o grupo político diretamente responsável pelo atual estado de coisas (e que foi rechaçado em primeiro turno para reeleição à Prefeito de São Paulo). Quem estaria mais legitimado a postular a Presidência da Repúblia? Simples assim.

 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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