Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

O monge, o executivo, suas duas esposas e a grande família – Parte II

Na primeira parte do texto vimos Zé Cutivo se casando com Judite Judicia e Laila Legis, tendo ainda como concubina Mini Púbis. Suas esposas e concubina se mostraram consumidoras vorazes dos recursos de Zé Cutivo ao ponto de ele não mais conseguir bancar suas mordomias, luxos e privilégios. Não só das esposas e concubina, mas de seus inúmeros filhos, que ora se julgavam deuses, ora se julgavam "otoridades", esquecendo-se completamente que em um tempo longínquo e republicano eram para ser apenas servidores.

Pois bem, Zé Cutivo descobriu que havia uma pessoa que poderia resolver seus problemas. Era o Monge. E foi até ele. Chegando lá, foi contada toda a história da sua vida, desde a colônia até a era pseudo-marxista, épocas notadamente marcadas pela presença de corruptos e socialistas de iphone (às vezes as duas coisas ao mesmo tempo). O Monge, após consultar a borra-de-café sagrada, anunciou seu minuto de sabedoria suprema para resolver todos os problemas do Zé. E disse em alto e bom som a coisa mais misteriosa, mais profunda, mais sábia já criada por todas as donas de casa do planeta:

- GASTE MENOS DO QUE VOCÊ ARRECADA.

Iluminado pela sapiência generosa e esotérica do monge e de posse dessa dose infinita de sabedoria, Zé Cutivo voltou para seus entes folgados e queridos e apresentou a proposta.

A primeira a falar foi Laila Legis, dizendo que aquilo era o suprassumo da inteligência, que como, até hoje, não fizeram isso? Seria a salvação da sua quadrilha, aliás, família, se autocorrigiu do evidente lapso Freudiano. Anunciou em todos os veículos de comunicação que daria todo apoio à necessária redução de despesas.

Em seguida falou Judite Judicia, concordando com Laila e completando que se sentia agraciada com o toque de tamanha sabedoria divina. Que embora sua família tenha se transformado numa aristocracia à parte, ela não envidaria esforços para contribuir com a diminuição das despesas. Bradou para toda a mídia nacional que apoiaria ilimitadamente Zé Cutivo na devida redução de despesas.

Mini Púbis pegou o discurso de Judite e apenas o repetiu, pois uma eram unha e carne.

Zé Cutivo, feliz com a compreensão das suas esposas e concubina, começou a anunciar seu projeto de reduzir gastos: cortaria privilégios, extirparia as mordomias, cobraria os impostos sonegados, exigiria o cumprimento do teto das mesadas, extinguiria todos os auxílios, carros oficiais com motoristas e a farra de passagens aéreas. Venderia todos os jatos públicos e imóveis funcionais, privatizaria estatais, reduziria os duodécimos e cada esposa e filhos deveriam viver apenas com a mesada principal, isentando Zé dos demais gastos extras. Enfim, seria uma revolução que praticamente causaria o Armaggedom.

Logo depois de anunciadas as corajosas e necessárias medidas do Zé, Laila o chamou para uma conversa particular. E disse:

- Olha, até acho legal essa sua iniciativa, mas para os outros. Sabe, a gente não vai abrir mão dessas mordomias, desses privilégios. Já faz parte do nosso dia a dia. Tira os privilégios da Judite e da Mini. Elas que se virem. Eu não posso viver sem um champanhe, um caviar, sem uma verba indenizatória e sem um jatinho pago pelo Zé Povinho. Não vai tirar nada do meu quinhão não. Tira do povo! E se você inventar de tirar alguma coisa minha eu te dou um impeachment aqui em casa.

No outro dia Judite o chamou para conversar no privado. E disse:

- Você está louco? Como você pode pensar em tirar nosso privilégios e auxílios? Você acha que vamos conseguir viver sem carro oficial, sem um auxílio-salão-de-beleza, sem um auxílio-bolsa-Louis-Vuitton, sem auxílio terno-Armani? Onde você estava com a cabeça quando propôs isso? Somos aristocratas!! Tire as mordomias da Laila e da Mini. Nem inventa de mexer no meu bolso, mexe no bolso do povo. E se você inventar de tirar alguma coisa minha eu movimento todos os pauzinhos para te mandar para a masmorra.

No dia seguinte você já imagina o que Mini falou para o Zé. Vou poupar o leitor de repetições.

Acuado pelo egoísmo e pelo corporativismo de suas mulheres e temendo pela sua integridade física, pelo seu mandato e pela regularidade da sua vida sexual, Zé ficou preocupado. Mas pensando bem, logo ficou maravilhado pois percebeu que os 4 podres entraram em um consenso. Isso era uma das maravilhas da democracia e do republicanismo – pois todos concordavam em ferrar com o povo. Amparado por esse harmônico e raro consenso, Zé apelou para o que sempre fazia na hora de resolver esse tipo de problema: pôs o rabinho entre as pernas, aumentou os impostos, imprimiu mais dinheiro e descontou toda a sua frustração no outro Zé, o Zé Povinho.
 

Eustáquio Rodrigues Filho é Cristão, Servidor Público e Escritor. Autor do livro "Um instante para sempre". Instagram: @eustaquiojrf.
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