Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

As faces políticas do mito

Por trás daquele sorriso maroto e largo – de menino que acaba de fazer um gol e sai correndo para galera – mas, ao mesmo tempo, debochado e irônico, existem várias faces de Jair Messias Bolsonaro (63), então presidente empossado da república, no dia 01 de Janeiro de 2019, que, como todo político da "espécie" brasileira, revelam essa "habilidade" camaleônica para agradar os ouvintes de seus discursos, muitos deles que se contradizem e, por esse motivo, precisam ser desmitificados.  

Deste modo, o atual presidente do Brasil e militar da reserva, filiado ao Partido Social Liberal (PSL), tem uma face conservadora quando está discursando para massa de eleitores e outra mais maleável quando está diante da classe política. Contanto, cada uma dessas faces merecem um pouco da atenção dos leitores para que o real espírito público deste gestor venha à tona e revele seus verdadeiros objetivos na política.         

A primeira face de Bolsonaro é adotar o discurso populista e revanchista a fim de satisfazer os anseios emocionais da massa. Ou seja, exaltar a imagem do grande pai, líder e defensor dos valores da família que, com a missão de um herói nacional, vai combater os fantasmas do socialismo (ideologia da oposição), do desequilíbrio fiscal e da falta generalizada de segurança pública. Todas essas figuras de assombrações (imprimidas na mente do povo) sugiram, segundo a visão política dele, em decorrência da passagem malfadada de um governo corrupto e irresponsável de esquerda do PT.

Assim, fazendo uma análise, ainda que superficial deste discurso, dá para perceber que ele só serviu para eleger o político Bolsonaro mesmo, pois de economia ele não entende muita coisa e está o tempo todo delegando essa função ao já tido como patriarca do superministério da economia, Paulo Guedes, que por sua vez, pode continuar a promover o ajuste fiscal, através da imprescindível Reforma da Previdência, porém, até agora, ainda não tocou no assunto, também não menos importante, da Reforma Tributária, o que se fosse realmente impulsionado, com o intuito de se buscar o ideal de justiça fiscal, iria incomodar muito tubarão do sistema financeiro brasileiro.  

Sobre a segurança pública, o discurso militar é sempre o mesmo: aumentar os investimentos na área de segurança; fazer valer o direito da polícia de poder matar o bandido e não ser responsabilizado por isso; flexibilizar a Lei do Desarmamento a fim de armar o cidadão, habilitando-o para se defender. Aqui a analise fica entorno de como isso será feito. Será que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, fará um arranjo jurídico para reajustar as excludentes de ilicitudes no que diz respeito aos crimes contra a vida? E a legislação constitucional dos direitos humanos, como será ajustada à realidade brasileira? Essas questões ainda não estão claras nem mesmo para os especialistas em segurança pública, o que dirá para população leiga que hoje está completamente desamparada da proteção do Estado.

Com relação à "libertação do socialismo", palavras usadas por ele mesmo, isso seria impossível, pois o novo governo teria que revogar a Constituição Federal de 1988 quase inteira, já que a Carta Magna tem uma grande influência dos valores históricos do socialismo, como a parte dos direitos sociais do art. 6°, os direitos trabalhistas do art. 7°,  os direitos sindicais do artigo 8°, do direito a greve do art. 9° e toda parte da ordem social prevista no Título VIII CF/88.  Artigos estes que não podem sofrer uma emenda constitucional negativa por parte do Executivo, haja visa todo sistema de proteção e controle de constitucionalidade do ordenamento jurídico, bem como do Legislativo brasileiro.

Por outro lado, quando o "mito" está diante da classe política seu discurso é muito mais moderado e em prol de um pacto institucional para salvaguardar os interesses do Executivo no Congresso do Nacional, o que não deixa de ser mais uma artimanha dele, pois para massa ele diz que vai moralizar a relação entre os poderes, mas, por trás dos bastidores, articula uma aliança com o MBD de Michel Temer, como ficou muito explícito no alinhamento dos discursos da troca de ministros no dia da posse, bem como frente à manutenção das nomeações feitas, ao apagar das luzes, pela gestão de Temer. Aquele mesmo que foi acusado pelo MPF de receber, supostamente, propinas dos irmãos da empresa JBS.  

No entanto, também tem a face de um "bom cristão" e até mesmo sensível quando defende a visão de inclusão e acessibilidade geral às pessoas com deficiência, atendendo com isso, aos pedidos especiais da primeira-dama, Michelle Bolsonaro (38), que quebrou o protocolo e discursou antes do marido em solenidade de posse. Ela, na ocasião, usando a linguagem dos sinais (Libras), agradeceu a "solidariedade" dos brasileiros e afirmou, emocionadamente, que vai trabalhar para ajudar os deficientes.

Contudo, por fim, ainda existe a outra face completamente diferente de Bolsonaro, aquela quando ele está defendendo os interesses da aristocracia (rural, empreendedora e rentista) deste país; em detrimento de um sistema tributário justo, dos direitos dos trabalhadores em conformidade com as legislações internacionais e de uma agricultura sustentável, que não destrua ainda mais o Meio Ambiente.

Ademais, infelizmente, a demagogia e a hipocrisia são inerentes ao jeito de se fazer política neste país do Terceiro Mundo. Todas essas faces, como dizem alguns articulistas, não deixam de apontar para um sinal verde a fim de dar continuidade na velha política do toma-lá-dá-cá (fisiologismo partidário). Ou seja, faces que compõem o jeito maquiavélico de se fazer política no Brasil, que qualquer cidadão bem informado tem que estar sempre acompanhando de perto... para não cair mais uma vez no conto do vigário.


Marcelo Ferraz é jornalista e escritor.
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