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Sexta-feira, 29 de março de 2024

Colunas

De Malone para Coutinho

Pude presenciar, pelo pouco tempo que passei ao lado de Marcos Coutinho, que todo cuiabano carregava um pouco dele dentro de si. Uns porque conviveram com um membro de uma das famílias mais tradicionais de Cuiabá. Outros porque tiveram a oportunidade de trabalhar com ele. Por onde passava, conhecia um, dois, três, meia dúzia de indivíduos. Cumprimentava a todos. E o sorriso era seu cartão de visita. O que quero dizer, antes de tudo, é que o Coutinho que conheci era um ser humano. Mas destes poucos aos quais podemos acrescer o adjetivo ‘extraordinário’. Sua sede pela vida e por cada segundo que a compõe faziam com que ele vivesse como se o tempo não parasse. Prestava atenção aos mínimos detalhes, tal qual um cientista; compartilhava conhecimento como os mais preparados professores e curtia a vida como um adolescente em plena puberdade.

A impaciência, intrínseca aos grandes pensadores, fazia com que eu - e muitos outros, sentisse por ele um misto de respeito e medo. Mais respeito do que medo. Porque logo que percebia certa aspires em seu trato, Coutinho tratava logo de rarear o ar em seu entorno com uma piada leve, um sorriso estendido de canto a canto da boca, um elogio cabível.
Eu o conheci em 2007, quando trabalhava em uma assessoria de Comunicação do Governo do Estado. Sua simpatia entrou na sala antes dele. Entrou com o pé direito e encantou a todos. A mim, apelidou de São Paulino, logo que viu a camisa do time que carrego no peito. Desde então nunca fez menção de me estudar antes de me cumprimentar. O fazia sorrindo, como se fossemos grandes amigos. Aquilo me causou estranheza. Estava ele ao lado de um governador ou de outra autoridade à altura, fosse onde fosse, fazia questão de estender a mão a todos que conhecia.

Sempre achei essa sua postura admirável. Um homem, quando adquire grande conhecimento e importância, se deixa levar, com facilidade, pelos falsos elogios, pelas companhias interesseiras, e principalmente por seu maior inimigo: o ego. Estas falhas pareciam passar a seu largo, e se o atingiam, Coutinho sabia doma-las e mante-las sob comando como alguns poucos.

Em dezembro passado, depois de quase cinco anos sem vê-lo, liguei para Coutinho. Ele me atendeu. Disse eu: “oi Coutinho, aqui é Rodrigo Meloni, lembra de mim?”. Do outro lado, com a voz claramente sorridente, respondeu ele: “ohhh são paulino, é claro”. Eu pedia emprego. Ele, penso comigo, devia estar fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Agora. Com urgência.

A alcunha de são paulino se perdeu em algum recanto de sua extensa e célebre memória, e ele passou a me chamar de ‘Malone’, ou ‘golden boy’. Tínhamos uma viagem marcada para 03 de julho. Um estradeiro. No último dia em que o vi, ele estava contente, alegre com a possibilidade de viajar, caminhar sobre o mundo. Coutinho, agora me lembrei: era um ser humano do mundo, destes que já deve ter passeado por ele por muitas e muitas vezes. Isto, acredito eu, deve ter lhe dado a sabedoria suficiente para saber tratar com responsabilidade e humildade cada ser humano que ele encontrava pela aí.

A mim, só resta agradecer a oportunidade de ter tido tempo ao seu lado, mesmo que pouco. Uma figura ímpar. Destas que podemos chamar de ‘extraordinárias’.

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