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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Se Deus existe, a música Gospel atual só pode ser do Diabo

Ao proferir essa frase fui chamado de ridículo e até de intolerante. Perguntaram até qual seria meu gosto musical. Pasmem. Quanta ignorância e falta de senso de humor de algumas pessoas diante de uma metáfora. Toda generalização é burra assim como interpretar metáforas ao pé da letra também!
“Gosto não se discute”... Essa frase é tão débil quanto quem a profere.
Discutimos gostos o dia todo. Todo dia. Discutimos roupas. Empregos. Profissões. Times de futebol. Política. Novelas. Filmes e músicas.

Podemos e devemos discutir o que quisermos. Essa é a Lei!

Eu posso discutir músicas gospel da atualidade todas as vezes que ela invade gritantemente a minha casa. Para mim algumas são lixos sonoros que chamam de música! Som alto e gritarias que chamam de louvor.
Nem nos tempos que era cristão ouvia isso. No cristianismo que aprendi ouvíamos hinos e não gritos musicados. Não digo que é mau gosto apenas pela altura do som, mas também pela qualidade das letras. Letras fáceis e refrãos repetitivos. Uma masturbação mental é o que é!

Podemos cantá-las em nossa cabeça sem mesmo gostar delas. São repetições em alto tom no intuito de nos fazer memorizar mesmo sem gostar. Quando me deparo nas ruas, vem uma voz nauseante de Aline Barros em minha mente, de tanto que meu vizinho a tocou em sua caixa de som num dia de domingo.

Se Deus é inteligência, então porque tantas letras repetitivas?
Se Deus é calmaria, paz e amor. Não entendo. Porque gritam tanto?

O que chamam de louvor é pavor! Algo apavorante até para nós vizinhos! Morar ao lado de uma igreja dessas ou de um vizinho desses é como morar ao lado de uma boate ou bar. O som te incomoda. Incomoda muito! Ter um vizinho crente que ouve isso “no 12” é como morar ao lado da casa de alguém que curte Funk descendo até o chão. Não há diferenças nos gritos, nem na altura do som. Um canto distante da calma e da alma. Mais se parece com desespero ou devaneio. Letras fáceis e refrãos repetitivos.

Vamos lá, para quem não entende uma metáfora, eu escrevo um texto. Esse vai para “alguns” crentes que dizem que leem a Bíblia Sagrada.

Que o Senhor Deus salve vossas almas da música Gospel dos nossos dias!

Os instrumentos musicais têm acompanhado a humanidade desde os tempos antigos. O primeiro relato bíblico encontra-se no livro de Gênesis Cap. 4 verso 21 "O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos que tocam harpa e flauta". Acredita-se que Jubal, o sexto descendente de Caim, tenha sido o criador da música instrumental. Antigamente, para quem algum dia já leu no Velho Testamento bíblico, as vozes que acompanhavam a adoração a Deus eram calmas, serenas e introspectivas.

Saltérios, Pandeiros, Tamborins, Adufe, Harpas, Alaúdes, Liras, Flautas, Trompas e Trombetas, há quem argumente teologicamente que sendo estes instrumentos incorporados como parte da adoração no templo no período do Velho Testamento sob a lei mosaica, não existe mais a necessidade de instrumentos musicais nas igrejas hoje, já que a adoração no templo foi abolida em Cristo.

Hoje em dia, entramos em algumas Igrejas e não sabemos diferenciar mais nada. Exceto o mau gosto de quem faz um Funk de Cristo. Já ouvi até Pagode de Cristo. E depois, eu que sou ridículo... (risos)

Como diz no livro de Hebreus Cap. 13 verso 8, “Jesus não é o mesmo ontem, hoje e sempre”? Para o crente Deus não muda! Então não entendo quem queira acompanhar tempo algum. Adaptar-se ao mundo que tanto rechaçam. Adaptar-se as modinhas. Adaptar-se aquilo que é comerciável. Fazer da música de um suposto Deus algo vendável. Deplorável! Deus deve dançar conforme a música! (risos).

Vamos ver o que é ser intolerante:

Quando Raul Seixas criou o nome de seu disco "A Panela do Diabo" (o décimo quinto e último álbum do cantor e compositor brasileiro). Foi lançado em 1989, dois dias antes de sua morte, sendo um projeto dele com Marcelo Nova (da banda Camisa de Vênus). O nome do álbum surge da seguinte inspiração: certo dia durante a turnê de shows que faziam, alguns religiosos estavam na entrada do show deles distribuindo panfletos. Pediam para ninguém entrar no show, e felizmente alguém levou um desses panfletos até o Marcelo e Raul. No panfleto dizia, para não entrarem no show porque Raul Seixas tinha feito um pacto com o Diabo, eles vinham da Panela do Diabo, tão logo os dois leram o panfleto olharam um para o outro e falaram: “tai o nome do novo disco... A Panela do Diabo”.

Raul fez da intolerância religiosa o nome de um disco de sucesso (Disco de Ouro no ano de divulgação).

Crentes, evangélicos, protestantes e cristãos em geral, podem falar mal do Funk, do Sertanejo, do Samba e, do Pagode também pode! Aqui no Brasil já falaram até que os Afrosambas de Vinícius de Moraes e do Mestre Baden Powell eram do Diabo, só porque cantavam para um Deus que se canta nos Terreiros de Umbanda. Pasmem.



Mas EU falar que algumas músicas gospel atuais são do Diabo, não posso! Eu quero é que esses vão para o inferno com suas opiniões sobre minha opinião!

Que os Orixás nos salvem dessa Santa ignorância de alguns cristãos.

Alguns cristãos, nem todos, se julgam os juízes do mundo e quando alguém julga algo de ruim deles, o chamam de intolerante. Basta ver a nomenclatura “Música de Deus” e “Música do Mundo”. Uma é sagrada e a outra profana. Uma pode outra não. Que mundo do cão... Uma é de Deus e outra não...

Quem já ouviu uma música gospel em sua essência saberia me dar razão. Ainda prefiro ouvir sobre Deus nas letras das músicas de Elvis Presley, “Why me Lord” é um clássico na voz do Rei do Rock.



Uma letra simples, calma e introspectiva. Faz-me pensar na vida.

A palavra “Gospel” é uma aglutinação da expressão “God Spell” do inglês antigo, que traduzindo seria “Deus soletra”, uma música de Boas Novas. Esse tipo de música teve sua origem na música cristã dos negros americanos, o “Negro Spirituals”, no início do século XX. Tratava-se de uma música harmoniosa diversificada em várias vozes (coral), um solista, piano, órgão, guitarra, bateria, baixo, formando um pequeno conjunto musical. Pretendiam desta forma, manter uma união perfeita entre os fiéis e Deus, união essa considerada desgastada devido os louvores serem entoados através dos hinos tradicionais. Com sua popularidade, a Música Gospel ultrapassou os limites da igreja Afro-americana e alçou voos, movimentando um mercado de milhões de dólares.

Inicialmente, esse estilo musical era formado por um coral. Com o tempo, a Música Gospel foi sofrendo transformações, mas algumas comunidades cristãs ainda preferem manter sua forma original. Os quartetos Gospel, por exemplo, evoluíram de tal maneira que adotaram uma “música gritante”, danças exageradas e “roupas extravagantes”. Foi nessa evolução que se inspirou o rock dos anos 50, com grandes nomes como Bill Halley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis.

Um grande protagonista deste gênero foi Elvis Presley, inclusive chegou a ganhar o Grammy três vezes. Ele amava esse tipo de música assim como o Rock ‘n’ Roll, Blues e Country. Dentre suas produções, destacam-se quatro álbuns considerados Gospel: “Peace in The Valley” (1957), “His Hand in Mine” (1960), “How great Thou Art” (1967) e “He Touched Me” (1972). Considerado por muitos como um dos maiores representantes da Música Gospel Estadunidense.

Eu aprendi muita coisa lendo a Bíblia e ouvindo Elvis Presley. Uma delas é que algumas músicas do mundo Gospel dos dias de hoje é um desserviço ao mundo cristão. Aliás, essa tal música Gospel adaptada ao comércio dos vendilhões do templo dos dias atuais nem está na Bíblia! Não passa de uma invenção humanamente comercial como tudo que virou comercial no Capitalismo Cristão.

CAPETAlismo selvagem é o sistema da mercantilização da palavra de Deus. Vendem-se pulseiras, camisetas, pingentes, amuletos, colares, lembrancinhas, etc. Vendem músicas, CDs, cantores, imagens, etc. Vende-se Mega Shows, estruturas comerciais que falam de um Deus que pede seu dinheiro. A indústria Gospel é uma das mais lucrativas nos tempos de hoje. Com o comércio da palavra. Com o grito da palavra. O Diabo só é o Pai do Rock?

Glóriaaaaas!!!!
Aleluiaaaaaas!!!!
Aménsssssssss!!!!

Que Deus salve nossa alma desse tipo de música Gospel dos dias de hoje!
Que Deus nos livre dessa escuridão mental e musical!
Que Assim Seja!

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teoria em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia]. Escreve todas às sextas-feiras na coluna Filosofia de Boteco.

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