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Opinião: Templo é dinheiro! Pequenas igrejas, grandes negócios

Reinaldo Marchesi

Alguns evangélicos confundiram a máxima “Tempo é dinheiro!” com “Templo é dinheiro!”

Uma igreja em cada esquina é isso que vemos no Brasil, um fenômeno que muitos veem positivamente. Eu não!

Contrariando a laicidade do estado brasileiro, em 1986, o católico praticante José Sarney (político mais “justo” do Brasil) em decreto apresentado ao Banco Central, pediu que na moeda do Cruzado fosse inscrita a conhecida frase: “Deus seja louvado”. Talvez o então senador Sarney nunca tenha lido a bíblia para protagonizar este ato de tamanha contradição.

“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou vai dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon!” (Mateus 6: 24). Não servireis ao dinheiro!

Ao contrário de Sarney, eu escrevo: Dinheiro e Poder $ejam Louvado$!

Edir Macedo, R.R. Soares, Valdomiro Santiago, Silas Malafaia, Marco Feliciano e tantos outros. São líderes religiosos que ficaram ricos com a pregação da palavra cristã. Hoje eles são personalidades com muito capital político e um imenso poder econômico. São fortes influências dentro e fora do Congresso e do Senado. Isso é inegável com a grana e a popularidade que estes têm. Prestígio de poucos.



Pela madrugada vemos os apelos nos cultos televisivos. Ligue a TV aberta e verifique que vários canais são possuídos por programas de cunho religioso. Os apelos são sempre os mesmos: “Você, meu irmão, que tem algum problema na vida” Depois: “Venha para a nossa igreja”, “seja dizimista”, “adquira um carnê para colaborar com as obras de Deus”, “compre nossas revistas”, “ajude-nos a manter esse programa no ar com suas doações”, etc.

Assim destaca Fernando Antônio Agra Santos que é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Os apelos em busca de dinheiro a qualquer custo, até com a venda de tijolos por R$ 200 a unidade; R$ 153 por uma colher de pedreiro na campanha chamada: "Prudente Construtor", sob o argumento de que a mesma é ungida; R$ 91 pela fronha dos sonhos, etc. Tudo isso ofertado pelo autointitulado apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. A Igreja Internacional da Graça de Deus iniciou, recentemente, uma nova opção para recolhimento de ofertas, agora o fiel pode doar mensalmente através de débito automático em sua conta bancária. A folha de cadastro está disponível nas igrejas e no site da denominação. Em seu programa diário, exibido no horário nobre da TV Band, o Missionário R.R. Soares, líder da denominação, afirma que quem se cadastra para dar a oferta mensalmente através de débito automático em sua conta irá ganhar "um brinde de Jesus".

A denominação afirma que caso o doador não tenha saldo em conta no mês para dar a oferta automática, este não será incluído na lista de devedores como o SPC e o Serasa. O valor continuará a ser debitado da conta todo o mês normalmente sem acumulo por falta de pagamento. Ainda segundo o site, essa igreja fez parceria com Itaú, Banco do Brasil e Bradesco. E ainda tem cartão de crédito com a bandeira Visa. Não são somente esses "evangélicos" que utilizam práticas assustadoras. Alguns "católicos" têm adotado a seguinte prática, de acordo com o site de notícias: "Inovando o sistema de pagamento de dízimo, a Paróquia São Francisco de Assis, no Setor Universitário, em Goiânia, passou a receber a décima parte dos salários dos devotos por meio de cartão de crédito. A medida, segundo o pároco frei Carlos Antônio da Silva, foi tomada após pesquisa que apontou que os membros da comunidade são favoráveis ao benefício.

Podemos observar uma relação desses líderes religiosos com práticas empresariais: são bem preparados; conhecem seus clientes; conhecem o produto que vendem; têm uma boa oratória, são capazes de "encantar" as pessoas; utilizam a melhor ferramenta de propaganda estudada nas aulas de empreendedorismo, que é a "boca a boca", através dos testemunhos.

Muitos dizem que não se discute política e religião. Será que não?

Dados do site da Ong Transparência Brasil:

1) Da bancada evangélica, todos os deputados que a compõe respondem processos judiciais;

2) 95% da referida bancada estão entre os mais faltosos;

3) 87% da referida bancada estão entre os mais inexpressivos do DIAP;

4) Na última década não houve um só projeto de expressão, ou capaz de mudar a realidade do país, encabeçado por um parlamentar evangélico.

A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003. Três anos depois, o Congresso foi atingido por um escândalo que colocou os evangélicos em evidência da pior forma possível: a Máfia das Sanguessugas, que desviava emendas parlamentares e abastecia os bolsos de deputados e empresários, envolveu 23 integrantes da bancada. Desses, dez eram da Igreja Universal do Reino de Deus e nove pertenciam à Assembleia de Deus. Talvez por isso, os deputados ligados a essas igrejas perderam espaço nas eleições de 2006. A recuperação nas urnas ocorreu em 2010 com a renovação dos quadros políticos. Hoje, representantes da Assembleia de Deus – que tem diversas ramificações e não possui comando único, como é o caso da Igreja Universal – são os mais numerosos.

Comentando dados divulgados pelo portal Transparência Brasil sobre a bancada evangélica no Congresso Nacional, o jornalista Joel Bento Carvalho criticou a conduta dos parlamentares religiosos, definindo a bancada evangélica como “a mais ausente, inexpressiva e processada”. Joel Bento Carvalho afirma ainda que não se deve vincular fé com política: “Qualquer um pode se candidatar a cargos eletivos, mas usar a religião. Um religioso verdadeiro mantém distância da política: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, citando o Evangelho. “Se não for isso, é falcatrua usando a religião ou será um pulha também?” indaga.

Ano passado, a revista Veja publicou uma matéria intitulada: “Vinde a mim os eleitores: a força da bancada evangélica no Congresso”.

A presença de evangélicos na política – assim como a de católicos ou espíritas – não é novidade. Partidos de inspiração cristã existem em países como Suíça, Inglaterra e Holanda sem que isso signifique qualquer ameaça à democracia. Assim como os cultos na Câmara dos Deputados, a realização de eventos religiosos no Congresso dos Estados Unidos é comum desde a época de Thomas Jefferson. O movimento abolicionista surgiu na Inglaterra, organizado por um grupo de doze protestantes. A campanha dos direitos civis nos Estados Unidos teve como líder o pastor batista Martin Luther King.

Em Brasília, chama atenção a atuação organizada desse grupo de parlamentares que, apesar de pertencerem a partidos diferentes, se articulam na defesa de suas bandeiras.

As bandeiras da bancada evangélica costumam ser mais contra do que a favor: legalização do aborto, união homoafetiva, eutanásia, pesquisa com células tronco embrionárias, regulamentação das drogas.

No total, os evangélicos representam 14,2% dos deputados e 5% dos senadores. A bancada evangélica também não foge à regra do Congresso Nacional quando o assunto são denúncias de corrupção. Dos 73 integrantes na Câmara, 23 respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Há acusados de corrupção, peculato (desvio praticado por servidor público), crime eleitoral, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e estelionato. E o famoso caso de um condenado a prisão: Natan Donadon.

Outra bizarrice que mostra a tamanha influência e poder político dessas personalidades religiosas é o fato do Ministério das Relações Exteriores conceder passaportes diplomáticos a alguns desses líderes. De acordo com o decreto que estabelece as regras para concessão de passaporte diplomático, o benefício deve ser concedido a autoridades do Estado e a servidores públicos em missão, mas há a exceção para pessoas que devam portar o documento 'em função de interesses do país'. De acordo com o publicado no 'Diário Oficial', é nessa exceção que se enquadra o caso dos líderes das igrejas. Qual seria o interesse de um estado laico ao conceder os passaportes diplomáticos a esses líderes religiosos?

Isentas de impostos e nadando em dízimos, igrejas evangélicas investem milhões em construção de templos monumentais. Afinal: Templo é dinheiro! Pequenas igrejas, grandes negócios.

“O senhor é meu pastor e nada me faltará”, caro leitor, favor não confundir esse verso bíblico com “O pastor é meu senhor e nada lhe faltará”.

Tenho absoluta ciência que existam pessoas de bem dentro do meio cristão. Vejo que as pessoas de bem irão entender as citações desse artigo. Se Deus quiser...

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teorias em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia]. Escreve todas às sextas-feiras na coluna Filosofia de Boteco.

Curiosidades sobre alguns nomes de parlamentares da bancada evangélica com processos judiciais - Dados do Transparência Brasil:

Assembleia de Deus

1 Hidekazu Takayama – PSC/PR
2 – Sabino Castelo Branco – PTB/AM
3 – Ronaldo Nogueira – PTB/RS
4 – João Campos de Araújo – PSDB/GO
5 – Costa da Conceição Costa Ferreira – PSC/MA
6 – Antônia Luciléia Cruz Ramos Câmara – PSC/AC
7 – Cleber Verde Cordeiro Mendes – PRB/MA
8 – Nilton Baldino (Capixaba) – PTB/RO
9 – Silas Câmara – PSC/AM
10 – José Vieira Lins (Zé Vieira) – PR/MA
11 – Marcelo Theodoro de Aguiar – PSC/SP

Igreja Presbiteriana

1 – Leonardo Lemos Barros Quintão – PMDB/MG
2 – Edmar de Souza Arruda – PSC/PR
3 – Edson Edinho Coelho Araújo (Edinho Araújo) – PMDB/SP
4 – Benedita Souza da Silva Sampaio – PT/RJ
5 – Anthony William Garotinho Matheus De Oliveira (Anthony Garotinho) – PR/RJ

Igreja Universal do Reino de Deus

1 – José Heleno da Silva – PRB/SE
2 – Vitor Paulo Araújo dos Santos – PRB/RJ
3 – Antonio Carlos Martins de Bulhões – PRB/SP
4 – Jhonatan Pereira de Jesus – PRB/RR

Igreja Do Evangelho Quadrangular

1 – Jefferson Alves de Campos – PSB/SP
2 – Mário de Oliveira – PSC/MG
3 – Josué Bengtson – PTB/PA

Igreja Internacional da Graça

1- Rodrigo Moreira Ladeira Grilo – PSL/MG
2 – Jorge Tadeu Mudalen – DEM/SP

Igreja Mundial do Poder de Deus

1 – José Olímpio Silveira Moraes (missionário José Olímpio) – PP/SP
2 – Francisco Floriano de Souza Silva – PR/RJ

Igreja Metodista

1 – Walney Da Rocha Carvalho – PTB/RJ
2 – Áureo Lidio Moreira Ribeiro – PRTB/RJ

Igreja Nova Vida

1 – Washington Reis de Oliveira – PMDB/RJ

Igreja Cristã Evangélica

1 – Iris de Araújo Resende Machado – PMDB/GO

Congregação Cristã no Brasil

1 – Bruna Dias Furlan – PSDB/SP

Igreja Sara Nossa Terra

1 – Eduardo Cosentino da Cunha – PMDB/RJ

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teoria em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia]. Escreve todas às sextas-feiras na coluna Filosofia de Boteco.


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