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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Casal se reencontra nove anos depois e mulher acompanha processo hormonal do marido trans

Foto: Arquivo Pessoal

Cristopher e Marina

Cristopher e Marina

A primeira vez que se viram foi há mais de dez anos, na pequena cidade de Nova Mutum. Até então, ‘amigas’, Cristopher Chaves e Marina Letícia Souza tiveram que se separar quando a garota foi embora da cidade. Na época eles tinham 13 e 12 anos, respectivamente, e prometeram que se reencontrariam dez anos depois. A promessa se cumpriu apenas com um ano de antecedência.

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“Depois de exatos nove anos, eu tinha acabado de terminar um relacionamento no Rio de Janeiro, tinha voltado pra Cuiabá, e fui tocar no Furrundu. E aí eis que eu vejo aquele ser, Marina. Ou seja, nossas previsões erraram por um ano, né?“, contou Christopher em entrevista ao Olhar Conceito. Hoje, os dois estão casados, vivendo em Chapada dos Guimarães, e contam que o processo hormonal pelo qual Chris (um homem trans) passou só deu mais forças ao relacionamento.

Na noite em que se reencontraram, Marina estava com uma amiga dos dois, mas para Chris tudo já estava esquematizado. “Então a gente se encontrou e ficou conversando, trocando olhares, na minha cabeça já tava tudo armado. Eu não queria entrar em um novo relacionamento, mas naquele caso ali não tinha como. Eu não acredito muito nesse lance de amor à primeira vista, eu acredito que o amor é uma construção, mas foi paixão à primeira vista, uma coisa além da paixão”.

O relacionamento dos dois se concretizou, e como ela morava em Sinop, foi por seis meses à distância. Como Christopher é cantor, a melhor opção foi trazer Marina para morar em Cuiabá. Atualmente, ela é, ainda, percussionista de sua banda.

“Aí ela veio pra Cuiabá e a gente ficou lá por mais seis meses se adaptando, conhecendo, e aí nós decidimos juntos que iríamos vir pra Chapada dos Guimarães porque, nossa, eu amo Chapada e ela também se apaixonou e a gente veio pra cá”, explica.

Na época, Chris ainda não tinha passado pelo processo hormonal (que iniciou no final de 2015). Ainda era identificado, pelos outros, como uma mulher lésbica. Para ele, – e para a família – no entanto, a identidade como um homem trans já era certa. Até mesmo por isso, a adequação não prejudicou o namoro. “Porque assim, quando você convive com um homem trans você já tem certeza do que é, tanto que quando eu fui falar com a minha família todo mundo já sabia”, explica.

“Eu conversei com a Marina, a gente ficou um ano juntos e aí depois eu vi esse assunto de novo, esse assunto veio até mim, e eu resolvi que ia iniciar a transição. Como a gente tem uma relação que a gente é de muito amor, uma coisa de companheirismo além do convencional mesmo, muito forte, então essa transição não teve influência nenhuma na nossa relação”, complementa. Além do companheirismo, segundo Christopher, o apoio foi essencial para tornar a relação ainda mais forte, estável e confiável.

Casados há dois anos, Chris e Marina não enfrentam preconceito quando estão juntos e, segundo o cantor, a música ajudou muito. “Elas [as pessoas] não me vêem como trans ou como lésbica [na época]. Elas me vêem como músico. Então a música ultrapassou essa visão das pessoas comigo”, afirma. Os dois não enfrentaram problemas nem mesmo com a família, o que normalmente acontece com casais fora do padrão ‘cisheteronormativo’.


Cristopher é um homem trans (identidade de gênero), heterossexual (orientação sexual); Marina é uma mulher cis (identidade de gênero), bissexual (orientação sexual)

“O interessante da vida é exatamente isso. Quando você manifesta uma emoção que é verdadeira, automaticamente isso se torna contagiante. Então a nossa família sentiu muito forte também que a nossa relação é uma relação estável, cheia de amor, e só com coisas boas a acrescentar”, conta Chris. Com esse sentimento, ambos conquistaram a simpatia das famílias e seguem mostrando ao mundo que as relações ultrapassam os padrões impostos.


Cristopher e Marina (Foto: Arquivo Pessoal)

Para o músico, inclusive, uma das coisas que mais admira em sua esposa é o valor que ela dá à família. “Eu gosto muito do fato dela ter as mesmas expectativas, a mesma ideia de valores da família, desse lance de você cultivar uma relação que é pra ser uma relação estável e duradoura. Isso pra mim é muito importante porque eu acredito muito na família, na relação. No meio de várias tempestades o que eu mais amo nela é essa capacidade dela de acreditar no amor. Isso pra mim é muito importante, é essencial”, finaliza.

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