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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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De vela 'para brochar' a imagens de santos: Conheça a loja religiosa mais antiga de Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

De vela 'para brochar' a imagens de santos: Conheça a loja religiosa mais antiga de Cuiabá
Uma explosão de cores. Cheiros. Nomes. Entrar na loja ‘A Baianinha’, no bairro do Porto, é quase uma experiência antropológica. Colares parecem enfeitar ao mesmo tempo que protegem o balcão, enquanto santos, todos eles, lançam seus olhares das prateleiras à esquerda, e palavras como “casamento”, “vira pensamento”, “fonte de luz”, “chora aos meus pés” instigam os clientes.

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Desde que assumiu parcialmente a direção da loja, a cuiabana Esthefane Sena, 27, recebe todos os clientes com um sorriso largo e muitas histórias para contar. À frente da mais antiga loja de artigos religiosos de Cuiabá, ela relembra os acontecimentos e mantém a tradição que começou há quase 50 anos, com sua avó Euridice, e já atravessou três gerações.


Esthefane Sena, terceira geração à frente da loja (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

A família de Esthefane vive no bairro do Porto há mais de cem anos. O comércio começou em 1970, quando sua avó abriu um bar ao lado de onde, hoje, se instala a loja. “Um amigo carioca veio visitar e, ao entrar no bar, disse que estava muito carregado. Ele sugeriu que minha avó fizesse uma sessão de descarrego, mas quando forma procurar material, não tinha nenhum local em Cuiabá que vendia”, conta a neta.

A primeira remessa de materiais, o amigo carioca mandou pelo correio. Desde então, Euridice, que é católica, decidiu começar a vender os artigos religiosos. Ela se aposentou quinze anos depois, deixando a coordenação nas mãos de seu filho William Senna. “Na época minha avó estava nova, então abriu outras lojinhas de aviamentos, meu pai ficou com essa loja e a minha tia com a loja de pesca que fica aqui do lado”.

A terceira geração da família continua a tradição e hoje Esthefane, que é umbandista, trabalha meio período no local. “Sou formada em arquitetura, mas o que sei fazer é vender”, conta. Segundo a cuiabana, só ela e sua mãe seguem a umbanda. “Na minha família não existe preconceito. Meu pai é cardecista, minha avó é católica. E aqui na loja vendemos artigos religiosos no geral. Tem imagens de santos católicos, artigos do candomblé também”.

Os defumadores são, segundo a vendedora, os mais procurados. “São incensos para descarrego”, explica. Além deles, todos os tipos de velas, de todas as cores e para todas as finalidades. “Aquela ali, em forma de pênis, é para o homem brochar”, explica Esthefane.





Os pozinhos escondidos nas prateleiras do fundo precisam de uma etiqueta para que o cliente entenda seus objetivos. Enquanto um promete arrumar casamento, o outro pede proteção ao anjo da guarda. “Tem que colocar na água e lavar o local, ou usar em trabalhos mesmo”, explica.

Reginaldo Peixoto é um dos vendedores da loja. Umbandista há quinze anos, ele explica que há muita confusão em relação à religião. “A umbanda é fé, caridade e mistério. Tem que ler muito, buscar conhecimento, mas, acima de tudo, é uma cultura de paz. Tem gente que fala que é uma religião do mal, mas quem faz o mal são as pessoas. A religião é paz e amor”, afirma.

Esthefane, que só se tornou umbandista há sete anos, sabe bem o que isso quer dizer. Ela conta que antes só admirava a religião ‘de longe’. Foi com o nascimento de seu filho que passou a crer e frequentar.

“Eu só admirava, até meu filho nascer. Ele é especial, tem uma síndrome rara, o primeiro caso do Brasil. Foi desacreditado pelos médicos, e hoje é um menino lindo, muito especial. Ele tem sete anos de idade, não anda, não fala, se alimenta por sonda, mas tem uma luz muito especial. (...) Um dia no terreiro me disseram que eu fui escolhida por ele, ele me escolheu antes de nascer. Muita gente pode pensar que isso é um castigo, mas pra mim é um privilégio, ter um filho tão abençoado e iluminado. Pode falar que eu sou macumbeira, o que for, mas não fala do meu filho”.


(Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Hoje, sete anos depois, Esthefane tem certeza de sua fé. Ela conta que de vez em quando aparecem algumas pessoas pregando, entregando ‘santinhos’ na loja, ou até mesmo falando mal da religião. Com quase 50 anos de história, no entanto, garante que ‘seu santo é forte’ e, até hoje, nada de ruim aconteceu ali.

Quem quiser conhecer a loja A Baianinha pode visitar na Rua Joaquim Albuquerque, 52, bairro do Porto, em Cuiabá.
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