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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Mulheres organizam protestos e greve geral contra violência, desigualdade e falta de respeito diários

Foto: Flora Negri

Marcha das Vadias 2016 / Recife

Marcha das Vadias 2016 / Recife

Quarta-feira, oito de março. Se você é mulher, é bem possível que tenha ouvido um ‘Feliz Dia’ no trabalho, nas lojas ou mesmo pelas redes sociais. É possível, também, que tenha sido assediada no ônibus, que tenha que acumular jornadas para cuidar da casa, dos filhos e do trabalho porque seu marido está sempre muito cansado (ou porque o pai foi embora). Em muitos casos, você pode ter sofrido violência doméstica ou ouvido comentários maldosos (e olha que ainda nem acabou o dia). Pensando em todas essas discrepâncias, o movimento ‘Mulheres em Luta’ organizou uma manifestação, a partir das 16h, na Praça Ipiranga (centro de Cuiabá), para mostrar que o Dia da Mulher não existe por flores e bombons.

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Os protestos acontecem não só na capital mato-grossense, mas em cerca de 30 cidades do país. Junto ao Brasil, outros 40 países também aderiram à Greve Internacional de Mulheres, também neste dia 8. O pedido: respeito e equidade de direitos.

De acordo com informações do Mapa da Violência de 2015, a cada quatro minutos uma mulher, vítima de violência sexual, física ou psicológica é atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2013, último ano com registros disponíveis, cerca de 4.762 mulheres perderam a vida pelo único motivo de serem mulheres.

A violência física se une à moral, à desigualdade no trabalho (e nos salários), e a toda jornada dentro de uma sociedade machista. Lígia da Silva, estudante de Ciências Sociais na Universidade Federak de Mato Grosso, afirma que os dados são alarmantes, e é preciso olhar, por exemplo, para a falta de mulheres na política.

“As mulheres representam mais da metade do eleitorado brasileiro, mas ocupa menos de 10% das vagas do congresso nacional, sendo 45 deputadas e 468 homens (dados da câmara federal). A presença de parlamentares negros e pardos no Brasil é bem insignificante, em vista dos homens brancos. Entre os deputados eleitos na última eleição a câmara federal 79,9% são brancos, 15,79% são pardos, e 4,29% são negros, nenhum se declarou como amarelo ou índio (dados da câmara federal). Em Cuiabá não foi eleita nenhuma mulher na câmara de vereadores, e na gestão municipal não se vê muitas mulheres a frente do poder executivo”, lembra.

Lígia é também poeta/slamer, participante do coletivo Favelativa, Mulheres do Hip Hop, e, além das ações sociais, mulher trabalhadora, mãe e esposa. Para ela, a luta é necessária diariamente. “A forma que o machismo se instalou socialmente foi através da cultura e da moral, se instalou nas mentes e no cotidiano das pessoas, a fim de sustentar esse modelo societário. A história mostra a trajetória de luta das mulheres para alterar esse contexto, a luta do feminismo nada mais é que alcançar a igualdade jurídica e social das mulheres, o processo de desnaturalizar são momentos de fúria e de amor”, afirma.

Além da manifestação geral de mulheres, já estão confirmadas também atividades de mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de 06 a 08/03, no Centro esportivo do Bairro do Quilombo, em diversos períodos; A Mesa de Debate Sobre Machismo, na praça do Restaurante Universitário da UFMT, às 13h30 do dia 08/03; e a Jornada Nacional de debates sobre a Reforma da Previdência, organizada pelas Centrais Sindicais e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), às 9h do dia 09/03, no auditório do Sintep.

Para dialogar com as mulheres do estado, o grupo ‘Mulheres em Luta’ publicou um Manifesto, convocando para as atividades. “Nenhuma a menos! Nenhum direito a menos!”, reivindicam. Leia a íntegra:

Manifesto


Mulheres em Luta Por uma Greve Internacional e Militante no 8 de Março!

Historicamente, as mulheres têm lutado contra uma série de injustiças, violências e desigualdades. O dia 8 de março é a data que marca a memória dessa resistência. Por isso, neste dia relembramos as mulheres que lutaram antes de nós e, acima de tudo, reivindicamos os direitos que ainda nos são negados.

Nesse sentido, nós Mulheres de Mato Grosso, somando ao chamado de mulheres de mais de 30 países, nos colocamos em movimento na luta internacional das mulheres! Neste 8 de março, nós mulheres tomamos as ruas porque nossas demandas são urgentes! Vivenciamos um contexto de grandes ataques aos nossos direitos, trabalhistas e previdenciários, e, compreendendo que as mulheres são as que mais sofrem com os ajustes que estão em curso – principalmente as negras, pobres, do campo, das comunidades tradicionais e povos originários –, reafirmamos nossa disposição em lutar contra todas as barreiras à libertação das mulheres, sobretudo as que atingem nossas condições de trabalho e de vida.

Nós, mulheres, resistimos e lutamos contra todas as opressões, do capitalismo, do Estado e do patriarcado, que excluem e invisibilizam nossas demandas, principalmente as das mulheres trabalhadoras, que lutam por creches; equiparação salarial; contra a naturalização do trabalho doméstico e de cuidados como responsabilidade exclusiva da mulher. E, sobretudo, nos manifestamos contra o feminismo empresarial, que através do discurso do “empoderamento individual” demonstra uma falsa libertação da mulher, que ainda nos mantêm subordinadas às estruturas de dominação de nossa sociedade, deturpando o aspecto coletivo e histórico do Movimento Feminista.

Lutamos contra as mais diversas formas de violência machista e cultura do estupro que nos matam todos os dias e a violência do Estado contra nossos corpos e nossas vidas! Nosso país ocupa a 5ª posição no ranking global de assassinato de mulheres, isto é, 13 mulheres são assassinadas por dia. Essas vítimas têm cor e classe, pois 64% das mulheres assassinadas são negras e pobres, evidenciando a vulnerabilidade a que essas mulheres são submetidas por esse modelo de sociedade patriarcal capitalista. Em Mato Grosso, de 2016 para cá, diversos casos de estupro e violência foram divulgados na imprensa, oficial e independente. Existiram casos de estupros coletivos e espancamentos de trans, entre outros. Conforme reportagem divulgada em 26 de fevereiro, a taxa de feminicídio de Mato Grosso é maior do que a média nacional; 7 mortes por 100 mil mulheres, enquanto a média nacional é de 4,6. No que se refere ao estupro, o estado está em terceiro lugar na lista de maior quantidade de registros. As mais atingidas são mulheres negras e pardas. Nós mulheres de Mato Grosso temos muito a lutar e avançar ainda!

Estamos em movimento porque precisamos lutar pelo direito à autonomia sobre nossos corpos; precisamos combater o avanço do conservadorismo, que está enraizado em muitos espaços sociais nos quais estamos inseridas, tanto no nosso país como em contexto mundial. E isso implica em nos compreendermos para além de uma definição conservadora, que, como mulher, também somos as lésbicas, as idosas, as bissexuais, as mães, as trans, as jovens, as deficientes, as negras, as camponesas, as indígenas, e todas as mulheres oprimidas e invisibilizadas pelo sistema. Nós, mulheres de Mato Grosso, nos organizamos e gritamos NEM UMA A MENOS! E NENHUM DIREITO A MENOS! Estamos juntas e em luta todos os dias por uma transformação social real! Porque a força do nosso movimento está no laço que criamos entre nós! Porque 2017 é o ano da nossa revolução!

Mulheres em Luta - Mato Grosso
MARÇO / 2017


Mais informações sobre a manifestação de mulheres desta quarta (8) podem ser encontradas AQUI. O protesto tem concentração a partir das 16h.
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