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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Tradição cuiabana

Aos 83, Dona Eulália ainda acorda às 3h da madrugada para fazer os bolinhos de arroz

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Dona Eulália

Dona Eulália


Foi em 1956 que Eulália da Silva Soares, hoje com 83 anos, saiu da chácara onde vivia e veio morar em Cuiabá. Naquela época, seu marido era pedreiro e ela precisava inventar alguma coisa para ajudar na renda.
Uma tia lhe ajudou, ensinando a fazer um bolinho típico daquela cidade grande. O que a cuiabana não sabia, é que se tornaria um ícone da cultura do local. Assim que socou, pela primeira vez, o arroz em seu pilão, em 1958, as coisas começaram a mudar.

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O bolinho de arroz de Dona Eulália já chamou atenção da mídia nacional diversas vezes, mas foi aqui, na Festa de São Benedito, que ela começou a vendê-los. Dois anos depois, o ‘Fantástico’, da Rede Globo, entrou em contato com ela para divulgar o quitute, e as vendas estouraram. “No início a gente vendia dois, três mil bolos durante a festa. Depois, só no domingo chegava a sete mil”.

A demanda ficou grande demais, e treze anos depois ela decidiu deixar a festa para vender o bolo em sua casa, somente aos domingos. “Naquela época tinha um forno só, hoje são quatro”. Os números são impressionantes. Aberto ao público às terças, quintas, sábados e domingos, dina Eulália chega a vender mais de dois mil bolinhos por semana.



Somente às terças e quintas, são usados sete quilos de arroz. No sábado são mais doze, e no domingo mais vinte. Como hoje ela também incluiu no cardápio os bolos de queijo e chipas, lá se vão mais 30 quilos de queijo toda semana.

Rotina

Para socar todo o arroz necessário e ter os bolos prontos às 5h30 da manhã, Dona Eulália acorda todos os dias às 2h30, no máximo 3h. Isso depois de deitar ás 21h. “Minhas filhas e netas falam que eu não preciso mais acordar esse horário, que elas podem fazer por mim, mas eu faço questão. Cuiabá me deu tudo o que tenho por meio dos bolos, e essa é minha forma de retribuir”.

Todo o trabalho já rendeu à cuiabana duas próteses nos joelhos, que inclusive já precisam ser trocadas, e uma pequena dificuldade para andar. Mas hoje os bolinhos são o sustento de sua família. Quando a entrevista foi concedida, o esposo de Dona Eulália,Eurico Avelino Soares, ainda não havia falecido, estava com 96 anos de idade e há um ano e dois meses de cama, após ter quebrado o fêmur. Na ocasião, ela chegou a dizer: "Em junho, se ele esperar, vamos fazer 65 anos de casados. Não sei se ele aguenta esperar". Eurico faleceu na última sexta-feira (31), e a família ficou de luto até hoje, aniversário da cidade. 

Para amenizar os problemas, ela conta com a ajuda de sua família. Eulália tem oito filhos, vinte e um netos (um faleceu) e vinte e quatro bisnetos. “Todo mundo que trabalha comigo é da família. Se fosse outro, não ia querer ajudar. Por isso que eu agradeço a Deus todos os dias pela família que eu tenho”.

As netas e bisnetas que trabalham direto com Eulália lhe ajudam principalmente a colocar os quitutes no forno, já que as formas ficam pesadas demais para que ela carregue. O arroz, no entanto, ela faz questão de socar. “Esse é o segredo, socar o arroz no pilão e assar no forno à lenha. E também o amor com que eu faço”, afirma.


O famoso bolinho de arroz (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O ambiente também não poderia ser mais caseiro, já que Eulália vende tudo nos fundos de sua casa. Tanto o bolo de arroz quanto o de queijo e a chipa custam R$3, e ela ainda oferece as opções de bebidas quentes (chocolate, café e chá) refil pelo mesmo preço.

Sobre a tradição, ela confia que não vai deixar morrer. “Eu ensinei meus filhos e netos a fazer, e tenho certeza que quando eu faltar eles vão continuar”, comenta. “Tem tanto lugar chique que faz bolo de arroz e o pessoal continua vindo aqui, que é simplezinho. Eu não sei porquê”.

Nós sabemos. 

Serviço

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Informações: (65) 3624-5653
Funcionamento: Terças e quintas das 5h30 às 10h
Sábados e Domingos das 5h30 às 11h
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