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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Ícone da noite cuiabana, 'Jô' completa 60 anos e amigos fazem vaquinha para festa de arromba

Foto: Olhar Conceito

Ícone da noite cuiabana, 'Jô' completa 60 anos e amigos fazem vaquinha para festa de arromba
Joselina Joana de Souza, mais conhecida como Jô, completa 60 anos de idade no próximo dia 4 de maio. As economias, na ponta do lápis, não lhe permitem fazer uma festa para todos os seus amigos e, por este motivo, eles criaram uma caixinha de doações e colocaram no Getúlio – seu local de trabalho há catorze anos – para que todos a ajudem a comemorar. A menos de um mês da data, ela já tem local para o evento, água para os convidados, DJ e banda cedidos, e aos poucos vai arrecadando o valor total.

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A ajuda dos amigos não é à toa. Morando em Cuiabá desde 1974, Jô já trabalhou nos mais renomados restaurantes da cidade, como o Chez Babette, Casa Suíça, Panela de Barro e outras. Criou quatro filhos trabalhando dia e noite e hoje é maître do Getúlio.

Ela nasceu em Guiratinga, na fazenda de seu pai, e desde sempre se indignou com a realidade. Insatisfeita com o dia-a-dia difícil na fazenda, quis sair de casa aos dezesseis anos. “A minha casa era um ponto de encontro. Meu pai ganhava muito dinheiro com a fazenda e com o garimpo, mas gastava tudo o que ganhava. Ele recebia qualquer um que passasse na estrada e dava comida e pouso pra todos. Uma vez eu era pequena ainda, mas disse pra ele que quando eu crescesse queria abrir um restaurante em casa, pra ele parar de dar comida de graça pra quem não precisava”.

A saída não foi fácil. Com um pai muito ciumento, ela conseguiu aval apenas para ir morar com a tia, em uma pensão na cidade de Guiratinga. “Meu pai fez mil recomendações, disse que não era pra eu sair à noite, mas eu era fogo na roupa, saía mesmo”, conta. “Depois de um tempo, cansei daquilo. Eu queria mais. Fiquei sabendo que um colega estava precisando de babá em Cuiabá e vim”.

Jô trabalhou como babá da primeira casa por quatro anos. “Viajei pra São Paulo, pra Minas, pra Goiânia, tudo com os patrões. Depois que eu voltei meu pai queria que eu fosse pra Guiratinga. Aí eu disse pra ele que vinha pra Cuiabá só pegar minhas roupas e voltava”.

Mas não voltou. Depois da primeira casa veio a segunda, a terceira, e Jô sempre trabalhando como babá ou empregada doméstica. Até que ela teve suas duas primeiras filhas. “Eu não tinha como cuidar das meninas, porque muitas casas não aceitam que leve crianças pro trabalho. Então me vi desempregada com uma bebê de dois anos e uma de quinze dias”.

As duas filhas, inclusive, eram segredo para a família de Jô. “Quando eu vim de Guiratinga meu pai me disse que ia deixar, mas que era pra eu tomar cuidado pra não engravidar. Fiquei com medo de contar pra eles, e quando minha mãe veio nos visitar eu disse que as meninas eram de uma colega”, lembra emocionada.

Foi uma prima que a ajudou neste momento difícil, dando a ela e suas filhas um quarto para dormir. Jô arrumou seu primeiro emprego em restaurante, em uma casa chamada ‘Coqueiro’, onde trabalhava das 17h às 8h da manhã. De volta à casa, pela manhã, ela cuidava das bebês. Dormir era luxo. Sempre foi.

“Eu só conhecia arroz e feijão antes de trabalhar lá. Mas com 30 dias eu já sabia fazer tudo que tinha no cardápio. O chef me deixou responsável pela cozinha, e eu fiquei famosa. Os donos de restaurantes vinham atrás de mim, querendo saber quem era aquela cozinheira”.

A partir daí, Jô trabalhava onde conseguia oportunidades melhores. Chegou um momento em que ela foi contratada pela ‘Casa Suíça’, onde trabalhava das 19h às 2h30, e também na ‘Panela de Barro’ no turno do dia, das 7h às 17h. “Sempre achei que dormir era perda de tempo. Eu tinha duas filhas pra criar, não podia”.

Aos poucos Joselina foi conquistando o que queria. Da casa da prima passou pro aluguel, do aluguel para sua casa própria. “Eu entrei lá só tinha uma cama, um berço e uma penteadeira. Na cozinha só tinha uma mesa de madeira, e usava uns caixotes de mercado como prateleira. “Com o tempo eu comprei uma geladeira, um fogão, e fui indo”. “Hoje eu penso que se fosse outra, mais fraca, desistiria e voltava pra casa pra pedir ajuda. Mas eu não. Eu fui forte”.  

Quando a Casa Suíça fechou, Jô passou a trabalhar com a Chef Eliane Carvalho no Chez Babette. “Um dia o Afonso [dono do Getúlio] passou por lá e me perguntou se eu não queria trabalhar com ele. Mas eu achava que não dava conta, que o lugar era muito agitado. Ele me pediu pra ir fazer um dia de teste, e eu fui no meu dia de folga. Estou até hoje”.



Jô começou trabalhando no Getúlio como garçonete, e em 2008 foi convidada pelo proprietário para ser maître. “Eu falei pra ele que não, que isso era trabalho pra homem, que era muita responsabilidade. Mas ele disse que ia me dar um curso e que queria que eu fosse. Hoje sou eu que mando nessa adega”, brinca.

Como maître, ela tema função de comandar o trabalho dos garçons, conhecer a adega e resolver problemas com os clientes. “Se você me perguntar qualquer coisa sobre esse cardápio eu sei, e a regra é não deixar o cliente sem resposta, e nem dar uma resposta errada. Se eu não sei, eu procuro saber”.

Os muitos anos trabalhando na noite cuiabana trouxeram a Jô uma gama de amizades. “Tem gente que vem aqui no Getúlio hoje, que eu brincada no parquinho com eles na Casa Suíça para os pais jantarem. Tem menino que eu vi na barriga da mãe e hoje vem e brinca comigo”.

Com quatro filhos – uma faleceu em decorrência de uma diabetes – e cinco netos, Jô conta que se sente uma moleca. Nos finais de semana, ela trabalha de dia e de noite no Getúlio, chegando a ficar das 10h da manhã até as 2h da madrugada. “Tem dia que os meninos estão cansados, e eu não, eu sempre no pique. Não sei se meu organismo já acostumou, mas eu não canso”, conta. “Me sinto uma menina. Se chegar um grupo de crianças aqui agora eu vou sentar no chão e brincar de boneca com elas”.

Com 43 anos trabalhados – idade do primeiro bebê que ela cuidou – ela acredita que chegou onde queria. “Muita gente me fala que eu devia ser rica com o tanto que fiz. Mas eu quero mais o que? Meus filhos estão criados, são todos gente boa, eu tenho saúde... estou satisfeita com o que conquistei”.

Sobre a festa, vai acontecer no dia 8 de maio no Recanto das Palmeiras. Ela vai comemorar 60 anos com um evento temático dos anos 60, e no cardápio, claro, comida cuiabana. 
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