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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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De pai pra filho

História viva em Cuiabá, lanchonete do Fabico passa dos 50 anos com receita de sabor e tradição

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

História viva em Cuiabá, lanchonete do Fabico passa dos 50 anos com receita de sabor e tradição
Antes mesmo de apresentar o traçado conhecido hoje, quando o córrego da Prainha seguia aberto para o rio Cuiabá, a lanchonete do Fabico já era conhecido pelos frequentadores da região central da Capital. Há 54 anos, seu fundador, Antônio Fábio Pinheiro desistia da marcenaria e abria as portas do empreendimento com os salgados produzidos pela esposa, Carmem Paes. Juntos, passaram aos filhos os segredos ofício, que chega a terceira geração da família pelas mãos de um dos netos, integrante da produção ao lado da madrasta, Maria, e do pai, Miguel Pinheiro.

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Aos 64 anos, ele testemunhou dali as transformações que empurraram a cidade rumo ao desenvolvimento e redesenharam o Centro em novos moldes. Ainda criança, com apenas 8, vendia os quitutes feitos pela mãe pelas lojas do bairro, dando início a fama que acompanha o sabor e a qualidade do produto. O ponto de virada veio na sequencia, quando o pai, preocupado com a inalação do pó da madeira, resolveu ampliar a venda dos salgados produzidos em família e inaugurou a lanchonete.

A partir daí o investimento se firmou como negócio da família, proporcionou mais conforto e possibilitou a criação dos quatro filhos, todos engajados no mesmo propósito. Ao longo de todos esses anos, a lanchonete funcionou quase sempre no mesmo endereço, tendo se mudado por um breve período para uma das esquinas da Marechal Deodoro, em decorrência das obras que ampliaram a Prainha, na década de 70.

Além de Miguel, suas irmãs Selma, Seila e Consuelo também fazem parte da história da lanchonete, tendo participado, de todos os processos que firmaram o apelido do pai como referência em tradição na cidade. “Elas se afastaram tem uns cinco anos, pra cuidar da saúde”, conta. A rotina seguiu sob supervisão de seus pais até meados de 2003, quando eles faleceram. Já afastados da lanchonete para descansar, continuavam monitorando, mesmo de longe, as atividades das filhas, à época a frente das funções.

De acordo com ele todas as fases, da produção à venda, sempre foram divididas entre todos, que se desdobram da cozinha até o caixa para atender bem os clientes e fornecer um salgado de sabor inquestionável. “Aqui todo mundo sabe fazer de tudo. Eu aprendi com minha mãe a manusear as massas, escolher os produtos de melhor qualidade. Acho que esse é um dos segredos das pessoas gostarem. Também tem o amor. O que é feito com amor a gente sabe que é diferente.”


As lições foram passadas para sua atual companheira, que desistiu da tranqüilidade da aposentadoria como funcionária pública para se dedicar a lanchonete junto a ele. “Quando a gente pensou nisso ele perguntou o que eu sabia fazer, eu falei aí ele respondeu: ‘você sabe fazer tudo!’. Só faltava a prática mesmo. Acho que enquanto a gente tem força, é bom trabalhar.” Ela também aponta o afinco das funcionária, que os acompanham desde que as cunhadas deixaram a lanchonete, como ingrediente para a bem-sucedida história.

Em um ritual que se repete ao longo das mais de cinco décadas, a família chega diariamente junto com os funcionários às 4h30 da manhã, quando começam a temperar, cozinhar, amassar e enrolar as diferentes opções. Pelas mãos dos envolvidos, ganham forma e sabor centenas de esfirras, bolos de arroz, de queijo, enroladinhos de carne, salsicha, quibes e muitos outros mais. Do forno, saem direto pra estufa, de onde parecem convidar à uma pausa para o lanche.

“O principal são detalhes. A gente aprendeu assim: se der errado, não adianta tentar arrumar, tem começar a fazer tudo de novo.” Soma-se ao capricho na produção, a escolha dos ingredientes, os quais, segundo proprietário, são todos de primeira qualidade e fresquinhos. A massa é beneficiada, o queijo, envolvido de cuidados, vem de uma fazenda na região. Os fatores combinados culminam em uma grata surpresa ao paladar de quem acompanha o corre-corre do Centro.

É o caso da estudante Adriana Medeiros, de 22 anos, que aposta na tradição do espaço para comer tranqüila. “Se está muito corrido, eu paro pra almoço um salgado mesmo, porque aqui tenho certeza que vou ser bem atendida e que não vou ter problema com a comida.” O discurso ganha eco na voz do autônomo Eliezer Figueiredo, 69. Amigo de Fabico, ele lembra que o primeiro dono era bastante conhecido na região e que o fato de do empreendimento ter passado de pai pra filho, reforça o dom da família no ramo. 

O perfil dos dois fregueses é apenas um dos retratos que exemplificam a diversidade de quem passa pela casa, também freqüentada por políticos e nomes ilustres que permeiam o universo cuiabano. “Todo mundo come aqui, do político ao gari”, explica Miguel.    Sem distinção, todos chagam ali em busca da mesma coisa. Querem o tempero da história, o sabor do carinho que passa do capricho na cozinha a atenção nas vendas. 
 
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