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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Sesc Pantanal: Como a reserva mantém um hotel que promove a conservação ambiental em meio à natureza

Foto: Reprodução / Silvio Vince Esgalha

Sesc Pantanal: Como a reserva mantém um hotel que promove a conservação ambiental em meio à natureza
Construir um hotel em meio a um bioma natural não precisa ser sinal de destruição. E disso o Hotel Sesc Porto Cercado sabe bem. Um dos destinos turísticos dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Sesc Pantanal, a hospedagem é exemplo de sustentabilidade: produz a própria energia elétrica, possui estações de tratamento de água e esgoto e trata de forma consciente o descarte de resíduos.

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Ao contrário do que muitos pensam, o Sesc Pantanal não é integrado somente pelo hotel. Criado há vinte anos, ele é a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, com 108 mil hectares de área total, o que corresponde a 1% do pantanal mato-grossense. Ele é o pólo de ação socioambiental do Departamento Nacional do Sesc e está localizado no município de Barão de Melgaço, apesar de a entrada ser por Poconé.

“Esse projeto começou há 20 anos, um pouco depois da Eco 92. Tinha todo um envolvimento do mundo todo com a questão ambiental, em fazer, e de que forma todas as instituições empresas e pessoas, a sociedade colocariam a questão ambiental. O SESC tinha algum trabalho, mas era um trabalho de projetos mais pontuais, e aí foi feito um estudo, e se entendeu como uma forma de o SESC atuar mais fortemente na questão ambiental era ter uma reserva”, explicou a supervisora do Sesc no Pantanal, Cristiane Caetano, durante o lançamento do Pantanal Cozinha Brasil, na última terça-feira (19). Segundo ela, o pantanal foi escolhido como local para a reserva porque, naquele momento, era um dos biomas em que o Sesc tinha menos trabalhos ativos.

Cristiane Caetano, supervisora do Sesc Pantanal (Foto: Olhar Conceito)

Antes de ser Sesc, a área era ocupada por 25 fazendas de gado inoperantes, e o objetivo principal da reserva era, além da recuperação do local, a instalação de pesquisas científicas sobre o bioma. Tanto quem, em vinte anos, foram realizadas mais de sessenta pesquisas que unem o saber científico, as experiências, os saberes locais e as vivências. O trabalho já resultou em mais de 130 publicações científicas e dez livros da Coleção Conhecendo o Pantanal.

O hotel e a sustentabilidade

Onde hoje está instalado o Porto Cercado, há vinte anos, havia uma pousada com dezesseis apartamentos. De acordo com a supervisora, não era um objetivo do Sesc investir em turismo, mas era perceptível a alta procura pelos visitantes. A área, então, foi reformada e cresceu gradativamente. Hoje, o hotel recebe até 410 pessoas, possui dois restaurantes, um SPA, espaços de educação ambiental, horta, e oferece diversos passeios ao público.

Apesar de ter crescido, o hotel não se distanciou de seus princípios sustentáveis. “O SESC pantanal é uma estância ecológica, e nós temos vários processos ecotécnicos pra fazer com que tudo isso aqui funcione. Além da usina fotovoltaica da energia de produção solar, nós temos uma estação de tratamento de água, uma estação de tratamento de efluentes, toda água aquecida do hotel é aquecida com meio de energia solar, e a gestão como um todo dos resíduos”, garante a bióloga do local, Isana Gaio.

Isana Gaio, bióloga do Sesc Pantanal (Foto: Olhar Conceito)

Segundo a bióloga, antes de pensar em como fazer o descarte, toda a equipe pensa no que vai colocar dentro do almoxarifado, principalmente do restaurante. “Todo o cardápio que a Francine [a nutricionista] com a equipe dela pensa e organiza, é tudo pensado na gestão desses resíduos. O que vai gerar? Pra onde a gente vai mandar esse material? Eu posso reduzir? Posso melhorar? Posso aproveitar mais esse tipo de alimento? O que eu posso fazer com ele?”.

Uma das formas de reduzir a quantidade de lixo, por exemplo, foi com a iniciativa de não oferecer canudos aos clientes e retirar os copos descartáveis. “No início nós notamos um grande índice de consumo de descartáveis, tanto na área de servidores como na área de atendimento ao público. Nós tínhamos muitos descartáveis, e aí começou uma campanha onde, principalmente na área de servidor, a gente aboliu o descartável. Cada servidor ganhou a sua canequinha. E no restaurante a gente não serve mais o canudinho. Se a pessoa pedir a gente entrega, mas se não, a gente entrega o suco no copo pra ela. E essas atitudes reduziram em quatro toneladas os nossos resíduos”, conta Isana.

Mesmo assim, sempre sobra lixo. E aí entra a gestão de resíduos.

O lixo orgânico é separado e vai para uma máquina que tem capacidade de processar 300 quilos de alimentos durante 14 horas, a 180 graus Celsius. Este lixo se transforma em uma terra preta que serve como adubo.

Máquina que processa o lixo orgânico (Foto: Olhar Conceito)

“Nosso resíduo é enviado para uma associação, uma cooperativa de famílias carentes, e eles fazem essa compostagem manualmente, fomentam uma horta orgânica que gera renda, porque eles vendem esses produtos para os mercados em Cuiabá. E parte do composto eles também vendem em pacotinhos, gerando renda pra essas famílias”, explica a bióloga.

Os resíduos que não são orgânicos também têm um destino certo. Os potes de doce, por exemplo, são lavados e voltam para a associação de mulheres que os produzem. O óleo de cozinha é armazenado em bombonas de 50 litros e enviado para um projeto que o transforma em composto pra biodiesel. Em troca, o hotel recebe detergente líquido.

Resíduos limpos e separados (Foto: Olhar Conceito)

“Embalagens caixinha de ovo, caixinha de leite, copo, embalagens plásticas: a gente enfarda tudo isso, pesa, tem o quantitativo desse material, e ele é doado pra uma cooperativa de mulheres catadoras aqui no município de Poconé”, conta Isana.

Educação ambiental

Como não valeria a pena ter todo esse esforço se os hóspedes não colaborassem, o Hotel Sesc Porto Cercado também é focado na transferência de conhecimento a seu público. Os hóspedes podem visitar, por exemplo, o Centro de Interpretação Ambiental (CIA), onde a geóloga e monitora ambiental Alessandra Yukawa explica detalhadamente sobre a fauna, a flora, a bacia hidrográfica e os períodos do pantanal. A visita monitorada dura cerca de uma hora e meia e acontece diariamente às 9h e às 14h. O CIA também fica aberto fora destes horários, e a entrada é gratuita.

Alessandra Yukawa, monitora ambiental (Foto: Olhar Conceito)

Outra opção é visitar o Sesc Baía das Pedras, um espaço de cinco mil hectares localizado fora da reserva, criado para prática de atividades recreativas, ou ao borboletário, onde vivem vinte e cinco espécies do inseto.

O borboletário, inclusive, faz parte de um projeto maior. “Nós entregamos os ovos a famílias credenciadas de Poconé, que foram treinadas para isso, e que esperam que a larva se desenvolva em um casulo. Depois, o Sesc compra esses casulos de volta, gerando renda para essas famílias”, explica a supervisora Cristiane. Atualmente, vinte e cinco famílias estão cadastradas no projeto.

Foto: Olhar Conceito

Outro inseto que possui um espaço dedicado a ele são as formigas. No formigueiro do Sesc vive uma comunidade de saúvas. “As formigas e as abelhas são as duas sociedades mais organizadas da natureza, e como não teria como criar as abelhas aqui, optamos pelas formigas para mostrar para as pessoas como elas são de extrema importância na natureza”, comenta a monitora ambiental Alessandra Yukawa. Ali, é possível observar como as operárias trabalham, onde produzem seu alimento, onde fazem o cemitério, e também onde vive a rainha.

Formigueiro (Foto: Olhar Conceito)

Para além de tudo isso, o Porto Cercado ainda oferece passeios de barco pelo rio, passeios para conhecer pantaneiros, trilhas, exibe filmes no ‘Cine Sesc Pantanal’ e possui uma agenda cultural recheada.

O Sesc Pantanal ainda possui as unidades: Parque Sesc Serra Azul (Rosário Oeste), Sesc Poconé e Base Administrativa em Várzea Grande.

Serviço

Hotel Sesc Porto Cercado
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Informações: telefone (65) 3688-2001, de segunda a sexta, das 8h às 18h, e sábados, de 8h às 12h ou e-mail reservas@sescpantanal.com.br.
Reservas: http://www.sescpantanal.com.br/reservas.aspx
Endereço: Rodovia MT 370; km 43

*O Olhar Conceito viajou para o Pantanal a convite do Sesc, do Sebrae e dos outros parceiros que realizam, em outubro, o congresso Pantanal Cozinha Brasil. Para saber mais sobre o evento, acesse o SITE ou a NOTÍCIA.  
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