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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Tatuagem tradicional

Em estúdio na Capital, tatuador mantém viva a técnica milenar japonesa tebori

Em estúdio na Capital, tatuador mantém viva a técnica milenar japonesa tebori
A pele, no entendimento científico, é o maior órgão do corpo humano. Além de revestir nosso organismo, as marcas e cicatrizes que nela ficam contam nossa trajetória e mostram que o passado é real. E no estúdio de tatuagem na rua Barão de Melgaço, a epiderme se converte de fascínio da medicina para tela de um quadro vivo. É pelas mãos de Massao Nissiuti que a arte milenar de tatuagem tebori resiste, e permanece viva através da pele humana.

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Ele, que começou a transformar a pele das pessoas em arte aos 15 anos, conheceu a técnica em 1997, quando foi trabalhar em uma fábrica no Japão. A princípio, Massao teve dificuldade para aprender o tebori, pois apenas um grupo restrito de japoneses podia reproduzir o ofício tão antigo.

“No Brasil, eu sou o único e o primeiro estrangeiro do mundo a ser aceito numa família tradicional korish. Minha técnica é oriental, e bastante gente procura do mundo inteiro”, conta.

Tebori, em tradução literal, significa gravar, entalhar com a mão. A técnica, manual desde o instrumento utilizado, consiste em usar várias agulhas enfileiradas, presas a uma haste de bambu e aplicar diretamente na pele. Os desenhos são exclusivamente da cultura oriental.

Nos registros da pele e dos livros, conta-se que o tebori surgiu no final do século 18 entre os samurais, e a tatuagem era proibida. Por isso, os tatuadores e clientes trabalhavam sob sigilo em suas próprias casas. Os aprendizes constumavam morar com seus mestres, e após longo treinamento, trabalhavam de forma independente, entregando todos os ganhos ao seu mestre, como sinal de gratidão e respeito.

Como uma peça a ser entalhada, o desenho vai ganhando vida conforme a precisão do tatuador. Inclusive, de acordo com Massao, a principal dificuldade no início é essa: manter a coordenação. “É difícil pigmentar a pele. No começo você fura, fura e não pigmenta. Então você tem que pegar o ritmo de batida, o ritmo manual mesmo de fazer pigmentar”, explica.
 
Massao exibe tatuagem feita por mestre
Massao exibe tatuagem feita por mestre

Após provar seu talento, Massao foi instruído por seu mestre e foi consagrado como membro da família Horikyu. Sua especialização está no preenchimento e pigmentação de tatuagens orientais. Ele ganhou também uma peônia no peito  feita pelo seu mestre. O tatuador conta que sua primeira tatuagem foi na esposa. Como cobaia, ele cobriu o braço direito dela com um dragão.

Sem se preocupar com a experiência e mais interessada em ter na própria epiderme o registro de uma arte milenar, Ana Lucia Venâncio exibe orgulhosa a primeira arte do marido. Apesar de ter mais de 20 anos, as cores da tatuagem permanecem vívidas. “É uma relíquia, é história”, diz.

De acordo com ele, a diferença de uma tatuagem tebori para as outras é que o desenho cicatriza suavemente e fica como um veludo ao toque, além de ser um procedimento menos dolorido.

“A máquina destrói a pele, e pode acabar deixando uma cicatriz. O tebori, por ser introduzido manualmente, não machuca igual a máquina, porque ela é muito rápida. Se você for preencher, e não dar conta de dominar a máquina, você acaba machucando a pele”.

“Os discípulos aparecem e vão levar por mérito”

Apesar dos poucos clientes que se submetem a essa técnica, uma vez que no estúdio há outros dois tatuadores que trabalham com máquinas, Massao nidaime, que é  da segunda geração, já prepara sua filha Laleska Nissiuti como discípula, para não deixar a técnica morrer.
 

Pai e filha tatuando em tebori juntos / @laleskatattoo

O tatuador já foi questionado se daria curso de tebori, mas afirmou que isso não existe, por se tratar de tradição. “Ela não passa necessariamente de pai para filho, mas como meu mestre falava, os discípulos aparecem e vão levar por mérito”.

A sessão

Quem escolhe o tebori para talhar sua história na pele, participa de um verdadeiro ritual. O procedimento começa com a preparação do bambu. “Esse bambu é igual da arte marcial kendô. Ele é temperado e se torna flexível. Eu desmonto ele e passo no fogo, para desempenar, afio e envernizo”,  conta Massao.

Como parte do seu juramento, o tatuador não troca o bambu por máquinas na hora de fazer o tebori - apenas para fazer o contorno. Segundo ele, várias famílias tradicionais se modernizaram e hoje mandam fabricar o equipamento em aço, com hastes removíveis.

Apesar de ser um instrumento rudimentar, o bambu e as agulhas são esterelizadas. “Tem que tomar essas medidas né, em detrimento de biosegurança. A gente tem que encaixar o que é milenar nos tempos de hoje”.

Por conta do trabalho minucioso, Massao faz sessões de 2 horas, dependendo do desenho oriental definido. Para cobrir o corpo inteiro, que eles chamam de kimono e cobre das costas até as coxas,  por levar até anos. As tatuagens ficam numa faixa de preço de R$ 600 a R$ 20.000.

Saiba mais sobre o trabalho de Massao:



Serviço

Massao Tattoo e Barbearia

Endereço:
Rua Barão de Melgaço, nº 2600, Cuiabá
Telefone: (65) 9937-2673
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