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Domingo, 19 de maio de 2024

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amor de carnaval

Casal cuiabano que se conheceu no carnaval do Sayonara está há 43 anos na folia

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Davi e Beth já foram mais de 26 vezes desfilar na Sapucaí

Davi e Beth já foram mais de 26 vezes desfilar na Sapucaí

“Se você não vai, amor, eu vou... vou a Sayonara seja como for. Em Sayonara a gente brinca à vontade, você vai sentir saudades...”. Quando ouviram o jingle da boate tocar na rádio em 1975, os então adolescentes Davi Getúlio e Beth Mato Grosso, hoje com 61 e 60 anos, respectivamente, mal imaginavam que o que os esperava na festa era muito mais do que confetes e serpentinas. Quarenta e três anos depois, eles se lembram saudosos daquela noite, e comprovam que o amor de carnaval pode, sim, sobreviver à quarta-feira de cinzas.


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Beth tinha 16 anos, e foi à festa acompanhada de suas irmãs e tias. “Eu estava dançando no meio do salão, pulando, pulando, e na verdade eu não tinha observado que tinha alguém me olhando, né?”, lembra. “E, de repente, começa ele a pular na minha frente, dançar, dançar na minha frente... falei, ah, tadinho dele, né? Vou dançar com ele. E comecei a dançar, dançar, dançar... e ali ficamos. Dançamos até hoje juntos”.

O encontro aconteceu em 9 de fevereiro de 1975. Depois de dançarem o tempo todo naquela primeira noite de carnaval, os dois combinaram de se ver no dia seguinte, e no outro, e no outro. Começaram a namorar.

Em 1976, lembra Davi, os dois queriam novamente ir ao Sayonara no carnaval. Como eram estudantes, e tinham passado todos os finais de semana do ano anterior frequentando a casa noturna, estavam sem dinheiro, e decidiram pedir ao gerente para que entrassem de graça na festa ele, Beth, duas irmãs dela e seus dois respectivos namorados, de sexta até terça-feira.

O gerente deixou, e, para não ficar de bico seco, os seis amigos passavam as noites inteiras bebendo um só copo de cuba libre. “A gente pegava aquele copo grande, ficava com uma coca-cola e a rum a noite inteira. E íamos lá na torneira para tomar água”, conta Beth.

As idas à danceteria continuaram, até que, seis anos depois do início do namoro, eles se casaram e foram morar em um apartamento no bairro Coophamil. “Chegando no Coophamil, em 20 de dezembro de 80, parece brincadeira, mas no prédio onde a gente morava só tinha casal. Parece que foi coisa programada... só casais. Então a gente reuniu os casais e fazia muita festa, porque não tinha síndico”. Beth conta que na época, todos decidiram se unir às sextas-feiras na área comum do prédio para tocar violão.

Foi nesta época que ela e Davi, gestor ambiental, começaram a viajar para o Rio de Janeiro para desfilar na Sapucaí. Em uma destas viagens, em 1994, ouviram no Jornal Nacional que o carnaval de Santo Antônio do Leverger, quase ao lado de Cuiabá, estava com um público de mais de cem mil pessoas. No ano seguinte, ficaram em Mato Grosso e criaram seu próprio bloco de rua.

O ‘Fofa Mil’ durou cinco anos, desfilando sempre em Leverger. Em uma das vezes, ganhou até reconhecimento da Prefeitura, depois que Davi inventou um ‘burro elétrico’ para contrastar com toda a tecnologia dos outros grupos.

“Em Santo Antônio tinha um monte de trio elétrico, e nosso bloco bem humilde, né? Alugamos uma tapera pra gente se concentrar lá. Nós desfilaríamos domingo, e no sábado já estávamos lá. Aí meio dia passou um velhinho com um burro. Chamei e perguntei se ele emprestava o burro dele pra desfilar no carnaval, eu daria cem reais pra ele”. O levergense aceitou a proposta, Davi foi para Cuiabá comprar 60 luzinhas de natal e duas faixas, e no dia seguinte colocou seu ‘burro elétrico’ na rua, rendendo muitas gargalhadas.

Sapucaí

Algumas das fantasias do casal (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Depois que o Fofa Mil acabou, em 2000, Beth e Davi passaram a ir anualmente para o Rio de Janeiro desfilar na Marquês de Sapucaí. Mesmo tendo a Mangueira como escola do coração, já saíram pela Portela, União da Ilha do Governador, Vila Izabel e muitas outras.

Para decidir em qual vão desfilar, o casal viaja para o Rio, também, na época de escolha do samba-enredo, geralmente em outubro. “A gente fica uns 15 dias e pega [a escolha] de várias escolas. (...) E a gente escolhe o que a gente sente que está mais quente. Porque tem samba que não tem jeito, você levanta da cadeira”, explica ela, que é aposentada da área da saúde.

As despesas do casal com o carnaval não são calculadas, mas eles contam que já chegaram a gastar R$2500 com cada fantasia, em um ano que desfilaram pela Mangueira. O alto preço se justifica também pela escolha de ambos por comprar, sempre, em cima da hora. Para amenizar no bolso, eles ficam há quinze anos no mesmo hotel, o ‘Fluminense’, na Lapa, e conseguem um bom desconto pela fidelidade com a empresa.


Beth e Davi escreveram um samba que concorreu na Mangueira em 2013, quando a escola homenageou Cuiabá 

Em 2018, infelizmente, pela primeira vez em 18 anos, o casal não vai para a cidade maravilhosa. Com passagens compradas, tiveram que cancelar a viagem depois que a filha mais nova, de oito anos, quebrou a perna.

Isso não os impediu de cair na folia. No último sábado (3), fizeram uma festa de carnaval no salão do condomínio onde moram atualmente, no Jardim das Américas, e nos próximos dias pretendem colocar as fantasias no carro e sair atrás dos blocos que encontrarem por aí. “A gente vê carnaval de uma forma diferente do que as pessoas vêem. A gente vê carnaval como nós, que somos alegres, que gostamos de festa, que vivemos a felicidade. A gente não bebe, se a gente bebe a gente bebe duas cervejas no máximo, e a gente vê nisso a alegria, a gente vê a felicidade”, explica Beth.

Vestidos de forma colorida – e até carnavalesca – o ano inteiro, os dois, que hoje são aposentados, seguem viajando pelo país, e fazendo festa de janeiro a janeiro. “A gente vê o mundo colorido. Então a gente faz de nós como a gente vê, um espelho do que eu vejo. Eu vejo o mundo colorido, ele vê o mundo colorido, então...”, finalizam.
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