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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Fantasiada nas aulas, professora cria elo e inspira alunos a estudar

Foto: Arquivo pessoal/Facebook

Fantasiada nas aulas, professora cria elo e inspira alunos a estudar
O sino bate para anunciar a troca de aulas - ou a proximidade do recreio. A inquietação dos alunos e as “conversas paralelas” são naturais nesse período, mas é só a professora Daniela Daubian entrar fantasiada na sala, que todos os 25 pares de olhos fixam nela, e assim permanecem durante toda a aula de História.

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Os alunos do Colégio Alicerce já receberam visitas da Cleópatra e da Mulher-Maravilha, além de conhecerem pessoalmente uma mulher de burca, uma romana e uma princesa. Este modelo lúdico de aprendizado empreende uma cruzada contra o “ensino chato”, desmotivação dos alunos e a frustração dos professores na prática na sala de aula, que agora enfrentam um novo desafio diante das tecnologias.

Quando Daniela começou a lecionar aos 19 anos, a principal dificuldade era atrair os alunos do 6º Ano e criar um elo de aproximação com eles. “Com eles a preocupação era um pouquinho maior, porque são crianças de 9 e 10 anos. É um mundo completamente novo, eles estão saindo do Fundamental I, saindo da fase da ‘tia’ para a ‘professora’. Então comecei a pensar em como transportar, ilustrar o conteúdo pra eles, porque um aluno de 10 anos não para (risos)”, conta.

Foi então navegando na internet que uma ideia brotou na cabeça para chamar a atenção dos alunos. Quando entrou em um site de fantasias e viu a roupa de Cleópatra, Daniela se lembrou de uma professora que se fantasiou em seu primeiro ano do Ensino Médio, e viu que o método colou – afinal, ela iria se tornar professora de História anos mais tarde.

A coincidência foi que a professora estava justamente lecionando o período do Egito Antigo aos alunos. “Fui atrás dessa professora e pedi a fantasia emprestada. Ela mora em Cáceres e entregou para mim. Eu nem sabia se a roupa ia servir. Vesti, fiz a maquiagem, criei coragem e fui pra aula. Pensei em como os alunos iam responder, porque querendo ou não, era algo novo pra mim e pra eles”, conta.

Ela então apareceu vestida de Cleópatra e causou o típico alvoroço na sala de aula. “Perguntei do que eu estava vestida e eles responderam ‘egípcia’. Questionei como eles sabiam, e logo apontaram que era por causa dos filmes. Então respondi ‘mas e se eu te contar que não foi assim?’ E dou inicio no conteúdo”. O fato de se caracterizar trabalha a cognição e o visual nos estudantes, que memorizam o conteúdo mais facilmente. “A História há muito tempo já deixou de ser uma matéria para você decorar datas, decorar nomes. Ela passou a ser uma disciplina para você interpretar”, afirma.

A iniciativa deu tão certo que Daniela repete o método há três anos. Por ser muito caro, ela está aos poucos incluindo fantasias no seu armário e pretende ter uma pra cada conteúdo. Quando deu aula sobre mulheres no islamismo, por exemplo, ela pegou emprestada uma burca original do Oriente Médio.

Com base em sua própria experiência como aluna – a professora hoje leciona no mesmo colégio em que estudou -, Daniela conseguiu ainda melhorar o aspecto da relação aluno-professor. “Você acaba criando um elo, porque eles acabam te vendo não como um pai, uma autoridade, mas como um amigo, porque você fala a mesma linguagem deles”. Até hoje, os estudantes que vão para o Ensino Médio, pedem dicas e planos de aula para ela.
 

Daniela conta que pra isso precisou estudar muito a linguagem das crianças e adolescentes, além de buscar o que eles estão assistindo, jogando ou lendo. “Quando vou dar um exemplo, eu uso o tal do ‘crush’ (significa paquera). Você tem que colocar um pouco do dia a dia do aluno ali para fazer sentido pra ele”.

As tradicionais aulas com lousas e longas explicações, em que alunos ficam enfileirados olhando o professor foi um método pedagógico que funcionou por décadas, mas diante das tecnologias atuais, pedem por reinvenção. Os livros começaram a ser digitalizados e aulas online acrescentadas. O professor e o ensino precisam acompanhar as tendências e fazer das tecnologias aliados, até mesmo para inclusão de alunos especiais.

“Hoje eles tem livros digitais, tarefas digitais e fora minha aula, eles tem acesso a outras aulas online que o próprio sistema dá pra eles. Como é hoje ser professora? Eu não me nego a trabalhar com isso, pelo contrário, acho que é uma ferramenta. Tem professores que ainda acham que o celular é uma distração, mas às vezes ele é um aliado e você tem que saber como tratar”, explica.
 
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