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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Arne Sucksdorff

Expedição segue os passos de sueco vencedor do Oscar que viveu no Pantanal por 30 anos

Foto: Reprodução / Folha do Meio Ambiente

Arne Sucksdorff viveu no Pantanal mato-grossense

Arne Sucksdorff viveu no Pantanal mato-grossense

Um grupo de turistas suecos visitou o pantanal mato-grossense no último final de semana, fechando uma viagem de vinte dias pelo Brasil. Apesar de serem ‘mais um’ grupo de estrangeiros na maior planície alagada do planeta, eles estiveram em Mato Grosso por um motivo especial: seguir as pegadas de Arne Sucksdorff, cineasta sueco, expoente do Cinema Novo, que morreu em 2001, e que passou trinta anos de sua vida no Brasil, denunciando o desmatamento e vivendo com sua segunda esposa, dois filhos e sua ariranha de estimação.

Grupo de suecos no Araras Eco Lodge, Pantanal (Foto: Olhar Conceito)

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Arne nasceu em Estocolmo em 1917. Segundo seu obituário no jornal inglês ‘The Guardian’, veio para o Brasil no final dos anos 50, onde ensinou cinema para jovens (incluindo Glauber Rocha) a convite do governo federal e da Unesco, trabalhou ajudando crianças pobres e fotografou a fauna e a flora do país. Famoso por diversos filmes, incluindo o vencedor do Oscar de melhor curta-metragem ‘Sumphony of a City’ (1947), o documentarista encantou o casal Björn Rasmusson e Mara de Nadai Oliveira, organizadores da expedição de turistas.

“Tivemos uma ideia de seguir este sueco que merece ser lembrado, Arne, que morou 30 anos no Pantanal. Então organizamos um grupo de suecos para seguir os rastros dele, [saber] o que ele fez aqui, porque veio, e ao mesmo tempo aproveitar o Pantanal, já que tem tantas pessoas interessadas pra  vir. A gente fez dois grupos, duas viagens. Uma foi em outubro e agora veio o segundo grupo”, contou Björn, que também é sueco, ao Olhar Conceito, em uma entrevista no Pantanal no último domingo.

Björn é engenheiro florestal e Mara é advogada. Ambos trabalham na empresa ‘Bheros’, de venda de máquinas florestais, e moram em Curitiba. As viagens, eles organizam por prazer. “A gente começou com outros tipos de viagens. A gente seguiu outras pessoas interessantes, por exemplo Charles Darwin, pai da teoria da evolução”, lembrou o engenheiro.

A ideia de seguir os passos de Arne veio um pouco depois, com a vontade dos dois de não deixar a história do cineasta morrer. “Ele veio em 60, ficou alguns anos, fez filmes de longa metragem, e antes de sair do Brasil para voltar para Suécia, visitou o Pantanal, que não era muito famoso naquela época. Ele queria ir pro Amazonas, mas um amigo falou pra ele não ir, ir pro Pantanal. Ele foi”.

No início, Arne visitou o pantanal sul-matogrossense. Depois, se encantou pelo pantanal de Mato Grosso, onde viveu em Carandá, uma fazenda próxima a Poconé. “Ele voltou aqui porque gostou tanto. Ele é o primeiro ambientalista do Pantanal, podemos dizer, porque ele viu os problemas de caçadores, venda de animais, ouro... então ele começou a tentar protestar, levantar dinheiro para proteger, fazer uma reserva e começou a lutar para salvar o Pantanal”.

Em 1970, Arne casou-se com a cuiabana Maria Graça, com quem teve dois filhos, Anders Eduardo e Claudio Arne. Por aqui, publicou em 1981 o livro de fotos "Pantanal, um Paraíso Perdido", após realizar, em 1971, para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) o longa "Mundo à Parte", em quatro episódios: "Os Anos Felizes", "Os Anos na Selva", "Manha de Jacaré" e "O Reino da Selva". Ele morreu em 2001, na Suécia, mas suas cinzas foram jogadas no Pantanal.

Livro publicado por Arne sobre o Pantanal (esq.). Na capa, Maria e a ariranha de estimação do casal (Foto: Olhar Conceito)

Segundo Mara, esposa de Björn, o objetivo da exposição é manter viva a memória de Arne e também sua luta pela preservação do bioma. “Eu também não sabia do Arne, que tinha feito tudo isso pelo meu país, pelo meu Pantanal, eu não tinha conhecimento. Quando o Björn falou que a gente ia fazer um trabalho, porque pra nós é trabalho, que a gente iria seguir os rastros dele eu fui pesquisar. E eu achei pouca coisa”, lamenta Mara.

Para conseguir refazer a história do cineasta, ela contou com a ajuda de André Turoni, proprietário da pousada Araras Eco Lodge, do Pantanal – onde os turistas estão hospedados - que por acaso conhecia uma nora de Arne. “O André entrou em contato conosco, se interessou muito pelas histórias e colocou a equipe dele pra trabalhar. Montou um programa maravilhoso, colocou-a para nos encontrar o aeroporto, foi surpresa pro nosso grupo”.

Ainda seguindo os rastros, Mara e Björn descobriram que o acervo de Arne estava guardado em uma biblioteca na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), onde foram e para quem doaram, inclusive, um armário para que suas coisas ficassem guardadas. A biblioteca que leva seu nome, de acordo com a assessoria da Sema, dispõe de um acervo com aproximadamente 15 mil itens, entre eles livros, mapas, CDs-Rom, DVDs relacionados a temas ambientais. Há coleções importantes como o RADAMBRASIL e exemplares do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai. Outra parte de seu acervo se encontra na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

Armário inaugurado por Björn e Mara na Sema (Foto: Assessoria / Sema)

A ideia, agora, é realizar expedições como essa pelo menos uma vez ao ano, principalmente para espalhar a ideia da sustentabilidade e preservação do Pantanal. “Eu não vou homenagear sem passar isso pra frente, porque que valor que isso tem? Ele [Arne] tem o mérito dele, ele não precisa da minha homenagem. A homenagem dele é dar sequência no trabalho dele, da preservação. Ele fez o trabalho dele, maravilhoso, então vamos ensinar isso pras crianças, porque nós vamos plantar uma semente em alguém”, finaliza Mara.

Grupo de suecos com Mara (camiseta preta) e Maria (saia bege e blusa de oncinha) na Sema (Foto: Arquivo Pessoal)
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