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Sábado, 20 de abril de 2024

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Novo secretário de cultura quer artistas mais independentes e aproximação com a iniciativa privada

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Gilberto Nasser

Gilberto Nasser

Terceiro secretário de cultura do governo Pedro Taques, o físico e cantor Gilberto Nasser assumiu a pasta no último dia 10 de abril. Com uma enxurrada de problemas, museus fechados, dívidas com artistas aprovados pelo Circula MT, e somente nove meses para poder trabalhar, ele deu uma entrevista ao Olhar Conceito na última terça-feira (17), e se mostrou confiante.

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Nasser é neto de Zulmira Canavarros, professor aposentado da antiga Escola Técnica de Mato Grosso e integrante do grupo vocal Alma de Gato. Ele conta que foi convidado pessoalmente pelo governador Pedro Taques e, mesmo sem se sentir preparado, aceitou o desafio.

Na entrevista, defendeu que os artistas devem ser mais independentes, e procurar o poder público apenas como fomentador, e não como financiador de seu trabalho, e afirmou que fará de tudo para aproximar a secretaria da iniciativa privada, o que ele afirmou ser uma solução para a crise econômica.

Leia a íntegra da entrevista:



Olhar Conceito – Como foi o convite para ser secretário?

Gilberto Nasser – Eu tinha realmente pedido uma conversa com o governador, mas pra falar de outro assunto, pra falar do coro em que a gente canta. E quando ele chamou eu achei que era aquilo ali. Eu falei, ah, que bom, né? E quando eu chego lá, lá vem ele, ele é muito direto, né? Ele já convidou logo pra assumir a pasta.

Aí eu disse pra ele, não, eu não posso, nunca mexi com isso. E ele falou: mas é você que eu quero.

OC – Ele deu alguma explicação? Vocês já tinham conversado alguma vez sobre isso?

GN – O Pedro sempre me cita com muito carinho porque eu fui professor dele na antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso, então ele toda vez que me encontra, diz assim: esse foi meu professor de física. Até cita que eu o expulsei de sala de aula, mas acho que isso aí é coisa dele. E ele conhece muito o meu trabalho enquanto artista. Desde a época da escola eu já mexia com teatro, com música, com o Festival da Canção, então eu sou uma pessoa que vivo a arte, vivo a cultura, apesar de ter a formação acadêmica de física. Mas a minha grande paixão é a arte. Eu acho que está no DNA, acho que é um legado que veio da minha avó, Zulmira Canavarros... Mas sempre fui assim, produtor das minhas próprias coisas, nunca fui de frequentar recepção de Secretaria de Cultura, nunca fui contemplado com projeto nenhum, até mesmo porque nunca entrei com projeto nenhum, nunca pedi nada. Eu sempre fiz os meus eventos por mim mesmo, o meu grupo trabalha muito com bilheteria, com plateia, e assim a gente leva.

Hoje eu fico até muito feliz de ver que hoje existe a economia criativa, e eu estou aprendendo isso aqui , e quando eu entrei em contato com o pessoal daqui, que estava explicando o que era economia criativa, eu cheguei à conclusão de que é exatamente isso que eu pensei a minha vida toda. é o artista ficar independente e gerar o seu próprio recurso, tendo no gestor público apenas o fomentador, o orientador, mas não aquele que provê o dinheiro diretamente, como as coisas ainda são feitas.

E isso deixaria a gente livre das crises. E nós estamos tentando implantar aqui. A superintendência da Economia Criativa está tentando implantar isso aqui, e eu estou gostando muito dessas ideias. E se Deus quiser, se vier a verba, vai ser lá onde é o Grande Hotel.

OC – O Centro de Economia Criativa?

GN – Isso. Pretendemos transformar aquilo num espaço onde a secretaria vai dar toda a logística, e aí você como artista vem e vai montar seu projeto ali, com assessoria, com apoio logístico. Por exemplo, se você é da parte de moda, você vai trabalhar a moda como arte, como criação, você vai ter ali o seu ateliê, sua sala. Por isso que o projeto é complexo, porque vai ser montado por especialistas. Se você é musicista, você vai ter ali seu estúdio, lugar pro seu instrumento, vai ter um estúdio digital pra você gravar, fazer seus experimentos.

OC – Mas isso substituiria os editais?

GN – De maneira nenhuma. Isso continuaria. Até porque você não pode mudar uma mentalidade e toda uma filosofia que vem de décadas com um estalar de dedos. Então introduz-se a prática da Economia Criativa e, de maneira participativa, democrátiva, vamos tentando atrair o maior número de pessoas, porque o interesse é convencer o artista de que é muito mais interessante produzir arte por este método do que ficar dependente o tempo inteiro da verba governamental.

OC – Voltando à sua nomeação, o senhor tinha alguma experiência em gestão pública?

GN - Nenhuma. Por isso foi a grande surpresa, e por isso que eu disse ao governador: ‘Mas tem tantos outros nomes...’. E tentei convencê-lo de vários motivos pelos quais eu não serviria pra pasta. E cada um que eu dizia, ele dizia: ‘Ok, tudo bem. Eu também já passei por isso, não interessa. Próximo motivo’.

E assim eu fui falando outros nomes, e ele falou: ‘Não quero, eu quero você. É o seu nome que me interessa’. E aí ele disse, ‘Gilberto Nasser é um nome consolidado. Você é um artista, você é uma pessoa respeitada’. E eu falei, então está bom. Se é pra ajudar, se é pra somar... Porque a última coisa que eu quero é prejudicar.

Porque eu sou muito admirador do governado Pedro Taques, independente de estar hoje no cargo de secretário de estado da cultura, quem acompanha a minha vida, o meu Facebook, as minhas postagens sabe, que há muitos anos eu acompanho o governo dele, e sempre apoio e admiro as suas ações.

Uma coisa que me incomoda muito são os ataques que esse governo sofre. Eu sinceramente não consigo entender. Um governo que trouxe modernidade, que trouxe transformação, e que atravessa a pior crise econômica do país. Não é só o estado de Mato Grosso que padece. Vários estados brasileiros estão em situação muito pior, e o nosso estado, apesar da crise, continua, tem salários em dia.

Então eu acho que é uma cobrança muito grande. O que é bom, porque eu acho que quando as pessoas cobram muito é porque realmente o governo é bom. Porque quando o governo não está dando conta, as pessoas perdem até a vontade de cobrar. Então eu acho que, de certa maneira, essa cobrança do governo é um termômetro de que o governo é muito bom. Quanto melhor esse governo, mais as cobranças vêm.

OC – Em relação à classe artística, você chegou a conversar com alguém depois que foi convidado, a saber qual foi a resposta dele? Porque a gente vem de dois secretários, um que o pessoal não estava gostando muito, que foi o Leandro Carvalho. Quando Kleber entrou, houve uma esperança, mas logo ele saiu...

GN – São duas pessoas de perfis diferentes, cada um a seu estilo. Mas eu sou um grande fã e admirador da gestão de Leandro Carvalho. O Kleber, infelizmente, teve muito pouco tempo aqui na Secretaria, eu acho que ele não conseguiu colocar em prática aquilo que ele pensava, mas é um estilo diferente, que eu respeito.

Agora, a gestão de Leandro Carvalho foi brilhante, e talvez a gente ainda vai demorar muito tempo pra ter uma gestão, aqui na Secretaria, tão transformadora e revolucionária como foi a do Leandro.

OC – Mas grande parte da classe artística critica a gestão dele...

GN – Todo mundo que entra pra fazer transformação incomoda. Todo mundo que entra pra mudar as coisas, incomoda. Eu, que sou físico, posso falar pra você que existe o princípio da inércia. Toda coisa que você vai mudar de lugar, resiste. Todo corpo resiste à mudança. Na vida é a mesma coisa.

Mas ninguém pode negar que aqui foi instituído o CPF da cultura. Hoje nós temos regras sólidas, consolidadas. Hoje nós temos normas. E, se hoje eu digo pra você, que uma pessoa, um artista como eu, tem condições de assumir essa pasta, e em uma semana, eu digo pra você que eu já estou tranquilo. Porque o primeiro e segundo dia foi de muito nervosismo, mas hoje eu digo pra você, hoje eu estou tranquilo porque nós temos tudo aqui anotado. Existem regras muito bem estabelecidas. Quem foi que deixou esse legado? A gestão de Leandro Carvalho.

Hoje, eu tenho um trilho pra botar, apesar da crise, para andar e pra nortear o nosso trabalho aqui. Esse legado quem deixou? Leandro Carvalho, apoiado pelo governador Pedro Taques.

OC – Uma das críticas em relação à gestão dele foi de, segundo algumas pessoas, priorizar a Orquestra. Você, como tem um grupo, o Alma de Gato, pretende evitar este tipo de prática pra se manter livre das críticas?

GN – Em primeiro lugar eu não ‘tenho’ o grupo Alma de Gato. Eu faço parte do grupo Alma de Gato. Então quando as pessoas colocam isso em alguns textos, alguns escritos, você já vê que é uma coisa tendenciosa.

Esses comentários, com relação à Orquestra, em relação ao Leandro, são totalmente tendenciosos. Eu ficava, como artista, absolutamente indignado de ver, como pode, alguém que se diz artista, jogar contra artistas que são músicos, contra uma Orquestra, que não é só a melhor Orquestra do estado de Mato Grosso e do Brasil, mas que foi considerada uma das melhores orquestras do mundo. Será que esse orgulho não batia no peito dos artistas? Porque olhar só de uma outra maneira?

E outra, a Orquestra já existia muito antes dele se tornar secretário de estado. O fato dele se tornar secretário de estado apenas veio colocar o seu talento, a sua competência, a serviço de outras artes. E ele foi extremamente democrático. Agora, eu te pergunto, pelo fato de assumir a secretaria ele tinha que parar com a Orquestra? Liquidar a Orquestra? Pra satisfazer opiniões de algumas pessoas que gostam de falar daquilo que não sabem? É essa a mentalidade que a gente quer mudar.

Eu gostaria de dizer pra você que a maioria absoluta dos artistas de Mato Grosso são pessoas sérias, trabalhadoras, e comprometidas com a arte e a cultura do nosso estado. E não ficam falando esse tipo de coisas. Mas infelizmente, e eu friso isso, há uma minoria ruidosa que acaba falando coisas, e como faz muito barulho, fica parecendo que é a maioria. Mas se você for contatar os artistas de Mato Grosso, esses que produzem, esses que realmente estão aqui, no dia a dia, trabalhando em parceria com a Secretaria, deles eu nunca ouvi nenhuma crítica nesse sentido.

Ou seja, são pessoas que talvez se dizem artistas, mas que estão muito mais usando a boca pra fazer política, e uma política que, sinceramente, eu não acho bonita.

OC – Como você encontrou a Secretaria? Qual é o orçamento dela hoje, o que vai dar pra fazer esse ano ainda? A gente tem o problema dos museus, que estão fechados... Várias coisas que não estão funcionando... Neste tempo, vai dar pra fazer alguma coisa?

Eu encontrei aqui na secretaria, em primeiro lugar, uma equipe maravilhosa. Fui de setor em setor conhecendo a todos, e me surpreendi. Aqui dentro nós temos pessoas graduadas, pós-graduadas, mestres, doutores, pessoas da mais alta competência. Ou seja, um elenco altamente competente pra realizar a política cultura do estado de Mato Grosso. Eu estou encantado com essa equipe. E essa equipe está pronta pra trabalhar e colocar os projetos em ação.

Porém, o financeiro nos sinaliza com pouquíssima verba.

OC – Qual é o orçamento, hoje, da Secretaria?

GN – Hoje nós temos emendas. O único dinheiro que nós podemos dispor aqui – “dispor”, entre aspas – são as emendas. Porque você sabe que as emendas já vêm direcionadas para determinados projetos. Pra isso nós temos a verba. E nós tentamos, às vezes, compor com os senhores parlamentares, no sentido de que eles, às vezes, autorizem, que essa verba, que vem destinada pra tal coisa, possa passar pra outro evento. E eu também estou sentindo uma acolhida muito boa dos deputados. Estou muito esperançoso que a gente consiga, com esse dinheiro de emendas, atender não só os eventos que já são predestinados, mas também outros eventos que são da política da própria secretaria, pra atender os artistas que nos procuram.

Vamos conversar com o governador. Falei antes de você chegar com o secretário da Casa Civil, o secretário Julio César também é outra pessoa muito bacana conosco, está nos ajudando, está sentindo a nossa boa vontade, tanto minha quanto da minha secretária adjunta Regiane Berchieli, que está sendo pra mim, com a experiência dela, um braço direito, e ela está me ajudando muito a organizar esses primeiros dias aqui na Secretaria. Hoje eu até disse pra ela, falei: ‘Agora estou ficando mais solto, estou começando a me sentir secretário mesmo!’.

Então estamos, agora com o Julio, tentando marcar uma audiência com o governador, e vamos levar até ele um relatório completo de tudo que as superintendências daqui passaram pra gente. Ontem nós tivemos uma reunião muito cansativa, que começou às duas horas da tarde, e foi até as sete da noite, nós trabalhamos exaustivamente, colocamos todos os problemas, e o que foi mais bonito, cada problema apresentado foi acompanhado de uma solução.

OC – Por exemplo? Tem alguma coisa que você pode adiantar?

GN – Eu fico com medo de num primeiro momento adiantar. Primeiro preciso conversar com o governador. Porque com esse relatório, que nós estamos levantando, a nossa equipe econômica que está levantando – e, inclusive, eu não posso nem responder a você em relação ao dinheiro, porque eles estão fazendo esse levantamento, pra que eu possa sentar com o governador, com o secretário Julio, e ver com ele, ele já sinalizou que tem um pouco da verba, que vai passar pra gente. Eu não sei se todo o montante, porque a secretaria também deve. Nós temos uma dívida com outros projetos.

Pontos críticos: Temos que pagar alguma coisa do Circular Mato Grosso. Tanto pra mim quanto pra Regiane isso está sendo colocado como prioridade. Nós temos que pagar o Circula Mato Grosso, se não todo, pelo menos alguma coisa. Nós temos que dar satisfação pra esse pessoal que já realizou o trabalho e eu queria que esse pessoal entendesse, que se depender da minha boa vontade, eu vou lutar o que for preciso. Porque é como eu disse, se eu tenho uma equipe técnica maravilhosa que está aqui alicerçando os projetos, organizando os projetos, qual é o meu papel? Meu papel é conversar, é sair a campo pra conseguir dinheiro de emendas, conseguir dinheiro do governador, porque não? Vamos bater na porta dele até que a gente consiga. E eu tenho certeza que o governador Pedro Taques vai ser convencido, e ele é um homem de boa vontade, e ele está preocupado com a cultura mato-grossense. O que ele nos diz é que nós estamos numa crise, mas ele vai tentar atender a médio ou a curto prazo.

E vamos também na iniciativa privada. Nós temos muitos empresários aqui que estão a fim de contribuir. Agora, o que eles querem saber, é como está a secretaria, e o que essa Secretaria  pode dar de contrapartida. E eu estou consultando a minha equipe jurídica no que eu posso dar de contrapartida pra esses empresários em termos de divulgação pras suas marcas. E poder levar pra eles, pra que eles venham compor com a gente. Porque se você está patrocinando cultura, porque não falar o seu nome? Vamos falar. Você está patrocinando, você tem que ter sua visibilidade. E eu não tenho nada contra dar visibilidade pra quem está patrocinando a cultura. E se eu puder trazer um pouco do recurso da iniciativa privada pra cá, eu já vou me sentir satisfeito nesses nove meses.

Porque eu sei que é pouco tempo. Ano de Copa do Mundo, ano de eleições... você imagina, tudo que nós estamos fazendo, a gente tem que pensar duas ou três vezes antes de fazer pra não dar o que falar. Então se, num ano normal, você já tem dificuldade, num ano eleitoral, mais dificuldades ainda. Mas nós temos aqui muita consciência, muita tranquilidade, e sabemos onde queremos chegar. Eu estou indo devagar, mas assim que o carro pegar o ritmo nós vamos tocar com uma boa velocidade a Secretaria.

Com relação às outras duas coisas que você me perguntou, se os artistas estão vindo aqui. A porta do gabinete está aberta. E nós estamos recebendo todos que vêm aqui. Peço desculpas a alguns que não estão sendo atendidos, porque eu também estou saindo muito. Eu não posso ficar aqui sentado, parado. Se nós estamos precisando de dinheiro, o secretário vai buscar esse dinheiro. Então eu estou indo em vários eventos, como diz o ditado, fazendo a política da boa vizinhança. É conversando ao pé do ouvido que você consegue.

E última coisa que você perguntou, em relação aos museus. Isso, realmente, desde o primeiro dia que entrei aqui, eu ouço de toda a equipe do superintendente Ivan a preocupação. ‘Secretário, o que nós vamos fazer?’. Então eu fui entendendo dessa realidade. E nós vamos tratar desse assunto com o governador. porque nós precisamos dar uma satisfação a esse pessoal que são proponentes que foram aprovados, e precisamos dar uma resposta. Os museus não podem ficar fechados. Hoje eu estive num evento no Museu de História Natural, na Casa Dom Aquino, que é o único que está funcionando, porque a Susana, que cuida de lá, é uma apaixonada, e ela faz por vontade dela, voluntariamente. Ela ainda não recebeu o dinheiro dela, mas ela não para, porque ela diz: ‘Isso aqui não pode fechar’.

Agora, os outros nós também vamos ter que contemplar. Como, eu não sei. Na reunião que tivemos ontem, tivemos várias sugestões. Soluções alternativas. Nós vamos ter que chamar, também, essas pessoas pra conversar, mas eu só quero conversar com eles depois que tivermos essa audiência com o governador Pedro Taques, e eu espero trazer boas notícias.
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