Foi em 1983, depois de voltar à comunidade de Bonsucesso, onde tinha nascido, que Antonia Terezinha de Souza, hoje com 69 anos, teve uma visão empreendedora. Analisando o número crescente de banhistas no Rio Cuiabá, começou a fritar peixes aos finais de semana e fazer uma renda extra. Hoje, é conhecida como a precursora da ‘Rota do Peixe’ de Várzea Grande.

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“Sou filha da comunidade. Meu pai, minha mãe, meus avós, todos são filhos daqui”, contou a várzea-grandense ao Olhar Conceito. Nascido em 1823, Bonsucesso é um dos distritos mais antigos da cidade, que nesta terça-feira completa 151 anos de fundação.

Antonia Terezinha de Souza (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)

No século XIX, a área pertencia a Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro. Seus herdeiros dividiram a terra e, nos anos seguintes, além da produção de cana de açúcar, a população passou a se sustentar com a pesca.

A família de Antonia Terezinha chegou a sair da região, mas voltou. “Na época nós tínhamos mudado daqui. A gente voltou, e tinha muita gente que vinha na beira do rio tomar banho, e não tinha um lugar adequado pra comer. Aí nós inventamos de fritar peixe pra vender, começou fritando peixe pra vender aos finais de semana”.

Comunidade vive à beira do rio (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Com o ‘boca a boca’, o público se multiplicou, sem nenhum tipo de propaganda, e assim nasceu a ‘Peixaria Beira Rio’. “Depois que o pessoal viu o fluxo de gente que estava chegando, e que a gente mesmo não estava conseguindo atender todo mundo (...) que foram surgindo as outras peixarias”.

Atualmente, a ‘Rota do Peixe’ conta com onze estabelecimentos, todos servindo a peixada tradicional. Até mesmo o filho de dona Antonia abriu a própria, a ‘Peixaria do Bola’.

“Nosso peixe é tradicional. Herdamos dos nossos avós”, afirma Antonia. “Não fizemos culinária, nada! Aprendemos em casa, na beira do rio mesmo. A gente serve arroz, farofa de banana - que é farofa mesmo, não é só farinha - a mujica de pintado, pirão, saladinha de legumes, pintado e pacu fritos, e, quando tem piraputanga, a gente frita também. A gente faz piraputanga ao molho, e quando elas são grandes a gente assa, tira a espinha... É totalmente o peixe que os ribeirinhos usavam antigamente pra comer”.

Apesar de todo o sucesso, a precursora conta que tem enfrentado dificuldades para se manter por conta do preço do pescado. No Rio Cuiabá já quase não se encontra peixes. “O peixe está difícil. Compensa mais comprar do próprio Mercado do Porto, porque aqui não está dando mais tanto”, lamenta. “O pescado hoje é mais caro do que a carne, e isso torna muito difícil pra gente trabalhar”.



Para conter os gastos, dona Antonia cortou funcionários e trabalha hoje somente com pessoas da família. Segundo ela, as datas comemorativas, como o dia das mães e a sexta-feira santa, e os finais de semana são o que salvam o negócio. “Até agora, só diminuiu uma [peixaria], mas eu acho que a comunidade não sustenta mais, já está no limite”, finaliza.

Cardápio

Vista da peixaria Beira Rio (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

A peixaria ‘Beira Rio’ tem em seu cardápio o ‘Prato Feito’, com farofa de banana e salada separadas, e em um prato só arroz, mojica de pintado, escabeche - se a pessoa não quiser peixe ao molho, coloca pirão - e duas ventrechas de pacu. O PF sai por R$30. Existe também a opção de rodízio só com pacu, que sai por R$50, e com pacu e pintado, que sai por R$60 (por pessoa).

Serviço

Peixaria Beira Rio
Av Gil João da Silva, 1380 - Bom Sucesso - Várzea Grande