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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Conheça as mulheres que abdicaram de suas vidas para levar sorrisos e alimento às crianças com câncer

Foto: Olhar Conceito

Voluntários da Cia do Sorriso

Voluntários da Cia do Sorriso

Se você mora em Cuiabá, provavelmente já encontrou duas ‘Emílias’ nos bares e restaurantes, sempre vendendo bonequinhas para ajudar crianças com câncer. Há oito anos, a ‘Companhia do Sorriso’, atualmente coordenada pelas amigas Carla e Silvana, leva sorrisos e alimentos às crianças internadas na Santa Casa de Misericórdia. Para isso, no entanto, tiveram que ‘abdicar’, de certa forma, das próprias vidas.

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Quem trouxe a ideia para Cuiabá foi a paranaense Silvana Rodrigues, 42. Em Curitiba, ela já fazia visitas a hospitais. Mudou-se para Cuiabá com a família, e quis continuar. “Eu, sem fantasia, sem nada, fui fazendo visita pras crianças com câncer e vi que precisava de algo diferente pra elas. Vi que não tinha nenhum palhaço, nenhuma boneca, era aquela coisa morta. Falei, gente, seria ideal a gente começar um trabalho aqui”, lembra. Na época, sozinha, ela foi até a coordenação da Santa Casa propor a ideia. “Ela [coordenadora] disse, venha, vamos fazer uma experiência. E as crianças se apaixonaram de uma forma tão grande, na Santa Casa, que lá ficamos, desde o começo”.

Foram cerca de quatro anos que Silvana continuou sozinha à frente da empreitada. Sempre apareciam novos voluntários, mas nenhum de forma permanente. Foi nesta época, também, que ela sentiu seu primeiro baque. “Quando eu chego no hospital, eu amo todas as crianças, eu adoro todas as crianças. Só que chegou uma menina chamada Karina, muito linda, da idade da minha filha. Na época, ela tinha 13 pra 14 anos. O cabelo negro, linda, uma menina que me encantou”. Silvana se envolveu emocionalmente com Karina e com toda sua família. Fazia visitas a sua casa, e carregava uma certeza de que ela conseguiria vencer a doença. Ao mesmo tempo, começou a se preocupar demais com a própria filha, e ter seu próprio psicológico abalado.

Certo dia, Karina piorou. A única solução seria levá-la para Barretos com a família, para ter cuidados paleativos. Silvana ajudou, conseguiu as passagens, alimentos, doações de todo o tipo. “Um dia, do nada, a mãe me ligou. Eu estava vendendo as bonecas. Ela ligou pra mim desesperada, e disse: Emília, minha filha acabou de falecer. Eu larguei as bonecas, desesperadamente, e disse, eu não consigo mais vender”. A perca de Karina abalou Silvana totalmente, tanto que ela deixou de fazer as visitas, e estava convicta de que não faria mais nenhum tipo de trabalho voluntário. Foi aí que conheceu Carla.

Carla Soler, 42, é corretora e trabalhou dezenove anos em uma agência bancária. Casada, com um filho e bem sucedida na profissão, há quatro anos ela encontrava-se em profunda depressão. Foi a partir do encontro com Silvana, que conseguiu se reerguer. “Ela mora no mesmo condomínio que eu. Eu só ficava trancada dentro de casa. E um dia eu abri a porta, um gatinho meu faleceu, e ela ama animais, e a gente se conheceu assim”, lembra. “Eu comecei a contar da minha vida pra ela, e ela me convidou pro trabalho. E nós duas suprimos uma a necessidade da outra”.

Começar de novo

Carla e Silvana precisavam começar de novo. Aos poucos, as duas se completaram, reergueram a Cia do Sorriso, criaram uma frequência de visitas ao hospital, uma sistemática para a venda de bonecas e a realização de ações e, hoje, o trabalho tomou uma proporção que, segundo elas, não tem mais volta.

“Na verdade esse trabalho não é pra todos, é uma missão. Não é pra qualquer um. É um trabalho que mexe com seu emocional. Pra nós, é o nosso combustível pra sermos melhores. Hoje eu me sinto outra pessoa, melhor pessoa, melhor esposa, melhor mãe, mais forte, mais determinada. Não vejo dificuldades como eu via antes”, afirma Carla. “De uns tempos pra cá eu abdiquei. Eu estou em uma fase em que a Carla não existe mais. Hoje eu sou mais Emília do que Carla. Não tem mais jeito”.

Silvana concorda. “Nosso trabalho voluntário é todo dia e toda hora. Pegou uma proporção tão grande que a gente não tem tempo nem pra gente. Eu tenho uma loja de perfumes no Shopping Vitória, meu marido até anda me cobrando muito. Mas eu falo, sinto muito. Eu estou atarefada, envolvida demais com o trabalho voluntário”.  Hoje, as duas conseguem viver do que ainda rende o antigo trabalho, mas o dia a dia é totalmente dedicado à Cia do Sorriso.

A companhia

Bonequinhas vendidas pela Cia (Foto: Olhar Conceito)

A Cia do Sorriso atua em duas frentes. A primeira, realizada toda quarta-feira às 9h da manhã, e no último sábado do mês, às 14h30, é a visita à CliniCan da Santa Casa de Misericórdia, onde, fantasiados, os voluntários levam alegria e sorrisos às crianças internadas, e realizam também um café da manhã. Qualquer pessoa que quiser, pode participar. Para isso, basta entrar em contato com a coordenadora do projeto até cinco dias antes, e levar um prato para o lanche.

A segunda frente é a de doação dos ‘Ensures’. “Se você tem câncer, você não se alimenta. Você tem imunidade muito baixa, e o que ajuda a subir essa imunidade é um suplemento alimentar chamado Ensure. Ele custa cerca de R$100 cada lata”, explica Carla. Segundo as voluntárias, parte do que é arrecadado com a venda das bonecas, vai para a compra destes suplementos. Por mês, a Cia do Sorriso gasta cerca de R$8 mil com as latas, que são levadas ao hospital toda quarta-feira.

As bonecas vendidas são produzidas por um grupo de costureiras. Logo, o valor arrecadado com a venda tem que ser dividido entre o valor pago a essas mulheres e, além disso, 30% fica para as despesas da própria companhia, com maquiagem, roupas, combustível e manutenção do carro. Antigamente, Silvana e Carla tiravam do próprio bolso. Hoje, como não tem mais tanto tempo para o próprio trabalho, não tem mais condições.

Esporadicamente, a Cia também realiza ações em diferentes lugares, como universidades, e, em troca, pede apenas que comprem as bonecas. Uma vez por mês, também viajam para cidades do interior para realizar as vendas, já que, segundo elas, na capital está cada dia mais difícil. “Eu acho que as pessoas deveriam ajudar mais. Pra você ter uma noção, eu já contei. Preciso abordar vinte pessoas para uma comprar a boneca”, conta Silvana. “Aqui em Cuiabá já está saturado. Todo mundo fala que já comprou”, completa Carla. Segundo elas, a meta de venda é de quinze bonecas por noite.

Voluntários

Além da dificuldade de vender as bonecas, a Cia também enfrenta problemas com os voluntários. “Sempre nós chamamos cem pessoas, e aparecem duas, três... e normalmente essas pessoas que vão, se apaixonam pelas crianças, pelo trabalho, querem ajudar, e, de repente, eu não sei o que é que acontece, que elas param de ir. Aí você tem que fazer outro trabalho pra chamar”, explica Silvana. Em alguns casos, a pessoa volta, e acaba ficando de vez. Este foi o caso, por exemplo, de Adriano Miguel, 23, o ‘Visconde de Sabugosa’ que mudou-se de Curitiba para Cuiabá para integrar a Cia.

No Paraná, ele já fazia trabalho voluntário há um tempo. “A minha história começou com uma fantasia mesmo. Eu fui numa loja, comprei uma fantasia e fiquei pensando... pra quê que eu vou usar essa fantasia? Aí eu estava em Curitiba, lá tem a Cia do Sorriso também, e ela me convidou pra fazer o trabalho voluntário no hospital. Peguei aquela fantasia, de Batman, e fui. E eu ia de Batman, de palhaço... fui gostando. Desde a minha adolescência e nunca mais parei”, conta.

Para Cuiabá, ele veio pela primeira vez há quatro anos, na Copa do Mundo, para participar de uma ação com 600 crianças carentes.  Convidado por Silvana, ele voltou há três meses, e desde então encanta as crianças com seu personagem.

Para o futuro, a Cia do Sorriso sonha em implantar um espaço ao lado da Santa Casa e dar aulas de inglês, espanhol, música e sessões de fisioterapia gratuitas às crianças. Além disso, Carla e Silvana buscam a possibilidade de dedicar-se somente à companhia, e levar cada dia mais sorrisos às crianças.

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