“Se eu te disser que se o seu bebê chupar chupeta ele provavelmente vai largar o seio, você confiaria em mim? Bom, eu se fosse você, confiaria”. A afirmação é da cuiabana Analu Melo Ferreira, 23, que há 18 meses se aventura pela maternidade, e há cinco pelas descobertas de viver na França, país onde nasceu seu namorado e pai de sua filha. Na última quinta-feira (16), ela estreou um canal no Youtube, ‘Crianças francesas também choram’, onde pretende compartilhar suas experiências.

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Sobre a questão da chupeta e do seio, Analu descobriu que existe um fenômeno chamado ‘confusão de bicos’, que pode acontecer também com mamadeiras, mas se surpreende ao perceber que este assunto não é explorado. “Enquanto eu falo sobre essa problemática, existem milhares de médicos, dentistas, que continuam incentivando o uso da chupeta e da mamadeira, mesmo sabendo dos grandes riscos que ambos trazem ao aleitamento materno. Vejo que o meu canal também vai servir como resistência, porque eu defendo o aleitamento materno, defendo uma criação com apego e respeito às crianças, defendo que a maternidade não é fácil e nós precisamos conversar sobre isso”, afirma.

Analu conheceu seu namorado Mathieu em 2015, três dias depois de mudar-se para o México. Estão juntos desde então. Há um ano e meio, deu à luz a Olívia Ferreira Dutot, e após idas e vindas entre França e Brasil, decidiu ficar por lá, em uma pequena cidade chamada Montivilliers. “A princípio nós, eu e o meu namorado, Mathieu, havíamos decidido morar no Brasil porque pra ele era mais fácil ter um visto pro Brasil do que pra mim ter um visto pra França. Só que depois de eu ter vindo pela segunda vez, visto como as coisas são muito mais seguras e a gente tem acesso a tudo de maneira fácil, decidi que queria criar a minha filha na França”.  

Apesar de ter nascido no Brasil, Olivia, por ser filha de um francês, também é considerada uma francesa nata, com certidão de nascimento, identidade e passaporte franceses, e direito a educação e sistema de saúde gratuitos e de qualidade. “Foi por isso que eu decidi criá-la aqui. Sou apaixonadíssima pelo Brasil, tenho muito orgulho das minhas raízes, mas acredito que aqui a Olivia vai crescer com mais segurança e ter mais oportunidades”.

Convivência

Desde que se mudou em definitivo para a França, Analu tem percebido as diferenças culturais. Apesar de se dar muito bem com a família de Mathieu, consegue enxergar claramente as diferenças, e acredita que, caso não tivesse essa rede de apoio, seria muito mais difícil se integrar. “Os franceses quase não falam outros idiomas, então é essencial que quem quer se entrosar precisa falar pelo menos o básico”, afirma. “Uma coisa que é engraçada, e que às vezes eu detesto, é que eles são extremamente sistemáticos. Quando nós vamos a um restaurante com a família, por exemplo, eles passam pelo menos uns 15 minutos tentando decidir quem senta onde. Enquanto isso, todo mundo tem que ficar em pé pra que os ‘chefes’ da família decidam o lugar de cada um. A intenção é colocar as pessoas que são mais próximas umas ao lado das outras, mas isso toma tanto tempo que chega a ser insuportável. No Brasil cada um senta onde quer, e quem não for próximo, depois de umas cervejas, com certeza esquece a diferença e se torna amigo”.

Obviamente, as diferenças culturais ao refletidas na criação das crianças. E é este o principal ponto que Analu pretende tratar no canal. “Pra mim o que é mais diferente é que a vida deles é mais ‘fácil’, mais tranquila. Eu me lembro que na minha infância a gente sempre teve o que comer, nunca fomos pobres, mas nunca existiu um excesso de comida. Aqui, se você abre a despensa dos franceses, encontra vários potes de nutella, barras e mais barras de chocolate, doces, enfim, algo que raramente comíamos na minha casa. Não é à toa que eu comi nutella pela primeira vez quando já tinha uns 17 anos, mais ou menos”, lembra.

Este ‘excesso’, apesar de tranquilizar a mãe, também a preocupa. “é um tanto preocupante educar uma criança em uma sociedade extremamente consumista e individualista. Não quero que a Olivia seja privada de nada, claro, só que me preocupa como ela vai aprender a dar valor às coisas sendo que as coisas chegam sem nenhuma dificuldade até ela”.

Outra diferença essencial, segundo Analu, está na relação entre mães e filhos, refletida no aleitamento materno. “As mães amam seus filhos, sem dúvidas, mas eu quase não vejo demonstrações públicas de carinho com as crianças. Talvez por beijar a Olivia o tempo todo, por abraçá-la o tempo todo, por dizer que a amo o tempo todo, essa seja uma diferença que eu percebo bastante. Sem contar, também, que aqui poucos são os bebês que são amamentados pelas mães. É comum que eles mamem pouco tempo (ou não mamem) e depois vão logo pra mamadeira. Isso impede um pouco a relação de pele a pele que a amamentação possibilita, e talvez um reflexo disso seja na demonstração de carinho que os pais têm com os filhos”.

Toda essa bagagem acumulada, unidas ao gosto de Analu pela escrita, resultaram no canal. “Eu escrevi e escrevo sobre todas as fases da minha vida. Isso me ajuda a passar pelas tempestades, sobretudo porque eu escrevo com humor. Gosto de rir do que escrevo e fazer com que as pessoas riam também. Mas eu também gosto bastante de falar, e de falar das coisas engraçadas que eu passo, dos meus aprendizados, daquilo que eu acredito”.

No primeiro vídeo, a jornalista cuiabana fez uma apresentação do que vai tratar em seu canal, no vídeo ‘Minha Família Internacional’. A ideia é publicar conteúdos novos sempre às quintas-feiras, às 16h (horário de Cuiabá). “Eu pretendo falar sobre a forma como educo a minha filha, sobre aleitamento materno, sobre a romantização da maternidade, mas também quero falar sobre a cultura francesa, sobre a minha vivência nesse país que até o momento me acolheu tão bem”, finaliza.

Acesse o canal ‘Crianças francesas também choram’ AQUI.

Assista ao primeiro vídeo: