Olhar Conceito

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Cuiabá 300 anos

pioneiros

Conheça a história de ‘Seo Fiote’, taxista de confiança dos políticos por 35 anos em Cuiabá

Foto: Arquivo Pessoal

Saturnino 'Fiote' e dona Devanir

Saturnino 'Fiote' e dona Devanir

Na praça Clóvis Cardoso, no bairro Goiabeiras, fica um ponto de táxi que, desde a gestão do prefeito Roberto França (1997-2005) leva o nome de um dos primeiros motoristas da capital: Seo Fiote. Pai de 16 crianças – 13 criadas – e filho de um casal que veio a pé de Rosário Oeste para Cuiabá em 1914, Saturnino Leôncio de Arruda foi um dos primeiros taxistas da capital, e era ‘de confiança’ para grandes nomes da política do passado.

Leia também:
Cuiabana de 75 anos comemora Natal Iluminado: “Andava nessa praça quando eu tinha 12”

“Minha sogra veio de Rosário Oeste, em 1914. Ela casou lá, e veio fazer a vida dela aqui em Cuiabá”, contou ao Olhar Conceito Devanir Lima de Arruda, 86, esposa do falecido Fiote. “Eles vieram a pé de lá até aqui, com pouco tempo de casados. Chegando aqui, fizeram o ranchinho deles em um local de mata fechada, que era o Goiabeiras”.

Foi neste ano, também, que a Comissão Rondon construiu 372 km de linhas e cinco estações telegráficas entre Mato Grosso e Rondônia. Segundo Devanir, no meio da caminhada de pouco mais de cem quilômetros entre Rosário Oeste e Cuiabá, sua sogra, Bernardina Alôncio da Silva, chegou a encontrar Rondon e conversar com ele.

Em Cuiabá, o casal teve três filhos. O primeiro, na Santa Casa de Misericórdia. Os outros dois, em casa. O terceiro foi Saturnino. Quando ele tinha doze anos, o pai morreu. “Em 1932 o marido dela [Bernardina] faleceu, e ela ficou lutando muito pra criar os filhos. Trabalhou muito, de costureira, de lavar roupa, era bem conhecida naquele pedaço também”, lembra a nora.

Aos catorze, ‘Fiote’ teve que começar a trabalhar para ajudar a família. O primeiro emprego foi como cobrador de ônibus. Depois, foi para o garimpo, foi mecânico na Ford e na Chevrolet, e trabalhou no banco da borracha.

“Era só pra viajar, levar medicamento pros seringueiros, e alimentos pro seringal. E ele ia, naquele mundão de meu Deus”, lembra Devanir, que se casou com Saturnino enquanto ele ainda trabalhava lá. “Ele [também] tomava conta de um motor de lá da Usina, do outro lado do rio Cuiabá, que era pra passar a borracha que vinha do seringal. Só ele que mexia naquele motor. Ninguém mais sabia mexer. Toda quinta-feira ele ficava de plantão à noite pra trabalhar lá, de passar as borrachas”.

Fiote continuou no Banco da Borracha até 1949. Um ano antes, se casou com Devanir. “Eu conheci ele na Avenida Dom Bosco. A gente morava ali quase perto do colégio Coração de Jesus, por ali que nós nos conhecemos... eu passava, ele mexia comigo, aquela coisa. E aí foi indo a vida”.

Dona Devanir segurando uma foto de Fiote (sentado), cumpadre Justino (esq). e Clarindo, que era engraxate e hoje também é taxista (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Em 1950, ele começou a dirigir como taxista. Ficava no ponto ao lado da Matriz, junto aos poucos motoristas da cidade. Por sua simpatia, conquistou os moradores e os políticos da cidade. “Ele era muito conhecido, todo mundo adorava ele”, lembra seu filho, Bernardino Leôncio de Arruda, 54. “Todo mundo gostava de conversar com ele. Carlos Bezerra era muito amigo dele, Frederico Campos, Julio Campos, Vuolo... ele fazia as viagens particulares pra esses homens. Era de confiança, se a família precisava, ele que fazia”.

Para se ter uma ideia das amizades de ‘Fiote’, dona Devanir gosta de contar uma história. “Naquela época também tinha doutor Arnaldo Figueiredo, que também foi governador aqui, faz tempo. Naquela época lá em casa só tinha lamparina e lampião, não tinha luz elétrica. Aí Fiote foi e escreveu pra ele, num bilhete, e na mesma hora ele mandou fazer a ligação da luz lá em casa”. Saturnino era, também, quem o pessoal indicava quando um ‘pau rodado’ chegava na cidade. “Mandavam procurar meu pai. Falavam: fala lá pra Fiote, que ele conhece tudo”, conta o filho.

O motorista se aposentou após quase 35 anos de trabalho como taxista e, ainda em vida, recebeu várias homenagens, como moção de aplausos na Câmara de Vereadores e seu nome em um ponto de táxi, durante a gestão do prefeito Roberto França. Foi ele – junto a cumpadre Justino, Didi e mais um taxista - o escolhido para ‘tomar conta’ das cinzas de Dom Pedro I, quando foram ‘veladas’ na Igreja de São Benedito.

Saturnino morreu aos 92 anos de idade, em 3 de maio de 2012. Na época, Emanuel Pinheiro fez uma moção de aplausos para ele na Assembleia Legislativa. O ponto de ônibus em sua homenagem, no entanto, acabou destruído após uma forte chuva que caiu na capital. A família, saudosa, aguarda sua restauração.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet