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Sábado, 27 de abril de 2024

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ÍCONE DA CUIABANIA

'A cara de Cuiabá', Jejé de Oyá reverbera no carnaval, nomeia prêmio sobre protagonismo negro e é objeto de pesquisa científica

Foto: Reprodução

'A cara de Cuiabá', Jejé de Oyá reverbera no carnaval, nomeia prêmio sobre protagonismo negro e é objeto de pesquisa científica
Mesmo após sua partida em 2016, aos 81 anos de idade, Jejé de Oyá tem sido sempre lembrado em Cuiabá, especialmente quando da eminência do carnaval.  Carnavalesco, colunista social, servidor público, ficou marcado como ícone da cuiabania por ser uma pessoa que enfrentou racismo, preconceito, que se assumiu em cores e irreverência para escrever sua própria história, abrindo e ocupando seu respectivo espaço. Recentemente, foi tema de bloco de rua em Cuiabá e hoje, 2023, é fonte de pesquisas científicas e dá nome ao prêmio JeJé de Oyá, que homenageia e reconhece o protagonismo de personalidades negras para a sociedade mato-grossense, tal como foi José Jacinto de Siqueira de Arruda.

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E a largada da para a principal folia do país, o carnaval, já foi dada. Maior festa popular brasileira, a comemoração de origem europeia se ressignificou com o passar do tempo e hoje se transformou em um dos momentos mais imponentes para celebração da diversidade e inclusão.

Ressignificada no Brasil, a folia de momo é também, atualmente, espaço que celebra a diversidade, sociabilidade política e econômica. E tais características se confundem com a trajetória deste que é considerado por muitos o maior colunista social e o maior carnavalesco da cidade quarenta graus.

Nascido em Rosário Oeste, em 3 de julho de 1934, José Jacinto de Siqueira foi adotado aos 4 anos de idade por uma família cuiabana. Na capital, adotou um codinome: Jejé de Oyá. De origem católica, foi devoto de São Benedito, costurava roupas para o arcebispo Dom Aquino Correa e quis ser padre.

E foi pela sua língua afiada - pois dizem que Jejé tinha conhecimento sobre tudo e todos, especialmente dos “podres” da elite cuiabana da época - e também pelos seus dotes de alfaiataria que ele se carimbou como figura irreverente, poderosa e marcante para a sociedade e para o carnaval.

No dia do seu enterro, na capela Jardins, amigos lembraram da sua passagem e, categóricos, reverenciaram sua importância para a festança. “Jejé também era um eterno folião que desfilava com roupas coloridas, não só no carnaval”, lembrou uma amiga. “Ele mesmo confeccionava as fantasias e a alegria é uma coisa que brota, que vem de dentro da alma. E isso ele extravasava nessa época do rei momo”, relembrou outra.

Ele não só ia aos eventos mais tradicionais e populares como também desfilava com muita elegância, brilho e cores pelas ruas da cidade. O carnaval foi para Jejé de Oyá um momento de diversão, mas também de produção e de muito trabalho.

Alfaiate, o carnavalesco criava fantasias e foi várias vezes destaque das Escolas de Samba, principalmente na Pega no meu Coração, primeira Escola de Samba de Cuiabá, bem como júri dos desfiles das escolas e dos blocos.  

Recentemente, foi tema de um bloco de rua no carnaval de 2016: “Vem Oyá Jejé” levou para as ruas do centro de Cuiabá um boneco gigante do colunista. Quatro metros de muita cor e espaço, o boneco prestou uma homenagem proporcional ao tamanho da irreverência de um dos maiores foliões que a cidade já teve.

Hoje, em 2023, sua memória dá nome ao prêmio Jejé de Oyá, criado por Jeferson Bortoloti para prestar o devido reconhecimento ao protagonismo de personalidades negras que marcam a história mato-grossense, tal como José Siqueira a marcou para sempre.

“Ao mesmo tempo que ele brincava o carnaval, ele escrevia sobre os fatos e pessoas na sua coluna social. Todos ficavam afoitos para ler as últimas notícias que Jejé de Oyá narrava nos espaços que ocupava nos jornais da capital”, afirma Jeferson Bertoloti, idealizador e organizador do Prêmio Jejé de Oyá.

Este prêmio, segundo Bertoloti, referencia essa grande personalidade por tudo que ela fez e representou. E o carnaval foi uma das maiores vivências para ele.

“Esse projeto traz os feitos de Jejé, como também valoriza a cultura cuiabana. Falar de Jejé é lembrar de qualidade de tudo que ele produzia, da folia de rua, da organização, do envolvimento de todas as classes sociais, do ir e vir de Jejé esbanjando alegria. Ele sempre foi o mais esperado e aguardado na avenida”.

E como a memória de uma lenda não adormece, tampouco é esquecida, para além disso, ela é também reverenciada e estudada cientificamente. É o que faz a professora e historiadora Elaine Barros, integrante do Grupo Estudantil de Prática Docente, do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), cujo objeto de pesquisa é Jejé.

Pelas pesquisas que o grupo tem executado, Jejé representa “a cara de Cuiabá”. Conforme a professora explicou em entrevista ao Olhar Conceito, a “trajetória de Jejé foi de grande luta e persistência. E essa luta foi travada de maneira irreverente, cheia de graça, glamour e colorido, com momentos de dor que jamais era mostrada no seu olhar e rosto”.

“Jejé é exemplo de luta contra o preconceito por ser homem preto e também por ser homossexual assumido. Jejé conseguiu entrar onde jamais ele próprio esperava estar mas com sua sagacidade e inteligência única, eis que Jejé se torna e representa a cara de Cuiabá", explicou a historiadora.
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