Na juventude, a veterinária Danusa Glasianne Rodrigues, de 41 anos, chegou a deixar a paixão pelas pinturas e desenhos, que faz em minutos, de lado. Influenciada por comentários que afirmavam que “arte não dá dinheiro”, o pensamento se enraizou na mente de Danusa. Em 2009, quando mudou para Cuiabá, decidiu investir profissionalmente e começou a vender as telas que cria.
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A artista plástica nasceu em Cáceres, onde se lembra de ter feito as primeiras criações com cartolina e pinturas quando ainda era criança. As memórias de quando fazia barquinhos de papel para brincar no rio também se transportaram para as obras atuais de Danusa, que tem o “Navegar em Deus”, como um de seus personagens.
As mensagens religiosas entraram nas criações da artista plástica em 2013, quando ouviu de um pastor que iria levar o evangelho para várias pessoas que não o conheciam através de seus desenhos.
“Até uso uma frase: ‘Glória a Deus pela arte com propósito’. Uso toda minha arte com propósito, mesmo se eu for desenhar um cachorro, ele vai ter um propósito. Em 2013 o pastor me entregou uma palavra dizendo que o senhor me usaria para levar o evangelho a várias pessoas que não conheciam a palavra de Deus”.
Foi a partir das palavras que ouviu do pastor que Danusa decidiu criar seus principais personagens. O “Adorador”, por exemplo, é um caju que se transformou em menino. Para criá-lo se inspirou na fruta que é uma das mais tradicionais de Mato Grosso. Ela também transformou o pilão em um personagem sábio, que aparece em suas telas e desenhos com mensagens importantes.
Danusa sempre gostou de desenhar e pintar, mas decidiu cursar Medicina Veterinária por amar os animais. (Foto: Olhar Direto)
“A viola de cocho aparece em vários sentidos nas minhas obras, como de adoração, por exemplo, mas também como sonhos… Um estado de elevação de espírito mesmo. Depois do ‘Adorador’ eu criei a ‘Adoradora’, dependendo do estado de humor, o cabelo dela tem capacidade de ir longe para alcançar o que ela deseja ou levar algo que está ofertando”.
Todas as telas criadas por Danusa possuem significado religioso e, em algum espaço do desenho, ela sempre deixa um salmo anotado. O Salmo 91 é um dos que mais se repetem nas obras. Em algumas, aparece estampado no pijama do “Adorador”. Ela explica que o texto fala sobre “descansar em Deus” e, por isso, o personagem sempre está usando pijama.
“Ele [o Adorador] está de pijama porque ele aprendeu a descansar em Deus. Ele também está sempre descalço, porque ele entendeu que não tem necessidade das coisas desse mundo. Quando ele aparece com as mãos para cima, é no sentido de adoração”.
Danusa também criou “Tchulin”, em homenagem a forma que os cuiabanos antigos chamam seus cachorros. Animais como o tucano, que nomeou de “Tutucano”, por conta do sobrinho que o chamava assim enquanto aprendia a falar, e outros elementos do cerrado costumam ser frequentes nas obras da artista plástica, sempre aliados às mensagens religiosas.
“Os meus personagens também usam pijamas, porque eles também aprenderam a descansar em Deus. Independente de onde eles estejam, eles estão todos unidos para navegar em Deus”.
Infância artística
Danusa conta que os pais brincavam que os presentes preferidos da infância eram materiais artísticos como cartolina, papel e tinta colorida. Para ela, a influência da arte também chegou através da mãe, que dava aula em uma escola rural de Cáceres.
“Ela fazia as vezes os murais da escola e eu ficava apaixonada naquilo, ela desenhava tudo à mão. A arte é minha vida desde que sou criança, sempre desenhei. Minha mãe sempre foi muito artística, mexia com artesanato, fazia peças de gesso… Cresci nesse ambiente. Na minha adolescência fazia muitos desenhos para escola, como aquelas camisetas de terceirão”.
"Adorador" foi inspirado em um caju que se tornou menino e usa pijama porque aprendeu a "descansar em Deus". (Foto: Olhar Direto)
Apesar do desejo de seguir o caminho da arte, Danusa assume que estabeleceu um nível de preconceito. Como sempre amou os animais e cresceu na zona rural, optou por cursar Medicina Veterinária.
“Foi estabelecido na minha mente que arte não dá dinheiro, muitas dessas falas ficaram enraizadas e acabou me prejudicando muito. Em 2009, comecei a vender minha arte, antes fazia mais por hobby para presentear amigos. Mas todo mundo falava: Ah, é tão bonito, por que você não vende?”
Há 14 anos, Danusa trabalhava na Bravo Agribussiness, na avenida General Mello, em Cuiabá. Com apoio do chefe, ela começou a colorir o escritório da empresa, que é repleto de telas da artista plástica nas paredes.
Também na empresa ela teve oportunidade de começar a espalhar a arte por Mato Grosso com o evento VetArt. Ela conta que começou a fazer eventos em que desenhava os pets dos clientes na hora. Em um deles, Danusa chegou a desenhar mais de 100 gatos e cachorros.
Além das mensagens religiosas e dos personagens cuiabanos, Danusa escolhe cores fortes e brilhantes para contar as histórias que pinta nas telas. A artista plástica cita Romero Britto e Frida Kahlo como duas de suas principais inspirações. O primeiro pela simplicidade e a segunda por se identificar com a forma que a artista mexicana usou a arte para se reinventar.
“O Romero Britto foi uma das minhas primeiras paixões. Ainda amo e respeito muito a arte dele, apesar de muitas pessoas não acreditarem que ele é um artista. Foi uma menino da periferia que chegou lá”.
Danusa tem obras compradas por clientes de vários lugares do mundo, mas sonha com o dia em que vai conseguir expor no Museu do Louvre, em Paris. “É meu sonho, isso ninguém tira de mim. Nunca. Jamais”.
