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Sábado, 27 de abril de 2024

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Durante três meses, fotógrafo registra funeral Bororó em aldeia de MT: 'concretização de sonho'

Foto: César Augusto

Durante três meses, fotógrafo registra funeral Bororó em aldeia de MT: 'concretização de sonho'
Durante três meses, o fotógrafo César Augusto esteve na Aldeia Tamarimana, a 40 km da região central de Rondonópolis (214 km de Cuiabá), onde vivem os indígenas da etnia Boé Bororo, para registrar o ritual mais importante deles: o funeral Bororo. O trabalho foi realizado pela Secretaria de Cultura de Rondonópolis. 

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No período em que esteve na aldeia, o fotógrafo buscou captar a singularidade de todas as etapas do funeral, composto por quatro fases: o primeiro enterro, a exumação, a ornamentação dos ossos e o sepultamento final. César Augusto explicou que, para cobrir o ritual, procurou deixar de lado os conceitos de não-índio e incorporou o olhar indígena. 

O fotógrafo conviveu com os indígenas, adotando as pinturas corporais, hábitos alimentares e gestos. "É a concretização de um sonho que sempre tinha. É uma felicidade enorme poder registrar os povos originários e poder eternizar sua cultura para futuras gerações", ressaltou.

Ele explicou que através das imagens, foi captado cada momento do funeral, desde a chegada do corpo do índio na aldeia, sendo colocado e envolto em esteiras. O corpo é enterrado inicialmente em uma cova rasa, sendo regado com água duas vezes ao dia. Periodicamente, os índios realizam cantos e danças.

Mais à frente, o corpo é desenterrado, tem os ossos lavados e ornamentados com urucum e penas de aves, sendo por fim carregado à casa em luto e, posteriormente, levado para ser enterrado definitivamente em um cemitério tradicional Bóe Bororo.

O primeiro sepultamento é feito dentro da aldeia, na frente do Báito, a casa sagrada ou de ritual. O último sepultamento é realizado no cemitério da aldeia. "O momento mais marcante para mim foi a cerimônia de chegada daquele que partiu, dentro do Báito, após o processo de lavagem e enfeite dos ossos", externa o fotógrafo, explicando que muitas cerimônias são marcadas pelo sentimento de dor intensa entre os indígenas. "Traduzindo pra nossa cultura, entendi que todo esse ritual é o preparo para que o espírito possa descansar em paz", diz.

O acervo fotográfico do funeral vai estar disponível no arquivo da Secretaria Municipal de Cultura. "O funeral é uma das características mais singulares do povo Bóe Bororo, onde eles têm um tempo de velação do corpo, composto por várias ações. É muito rico culturalmente, em estética e em simbolismo... Como os Bóe Bororos são povos originários da nossa região nada mais justo que a Secretaria ter esse acervo, até para pesquisas futuras de estudantes e pesquisadores", justificou o técnico em assuntos culturais da Secretaria Municipal de Cultura, José Roberto.

O fotógrafo teve a autorização do cacique Cícero Kuduropa para a realização desse trabalho, a quem agradece o apoio recebido, assim como ao ex-cacique Marcelo Kuguiepa, ao chefe de cultura da Aldeia Tadarimana, Bosco Arquimedes, e ainda à Secretaria Municipal de Cultura de Rondonópolis.
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