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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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O poeta de La Transmutación revive através de suas palavras: Antônio Sodré é eterno

Foto: Marianna Marimon

Antônio Sodré - espaço no Instituto de Linguagens

Antônio Sodré - espaço no Instituto de Linguagens

A rampa do Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso está vazia. Seus livros não estão mais lá, nem a sua presença física. O local que antes era tomado por um sebo improvisado, agora deixa no ar a sua poesia. E a sua presença se faz presente em um mundo além do real. Fotos suas estão espalhadas junto às suas palavras certeiras: O MEDO DOME-O!

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E ele domou. Antônio Sodré, o poeta de La Transmutación. No dia 19 de fevereiro de 2014 serão três anos desde a sua partida. Um coração fulminante que parou de bater pelo descompasso dos seus poemas, entoados até no momento do adeus eterno.

Sua obra se eternizou com a sua morte. Sodré andava a passos miúdos, com uma bolsa cheia de livros e poemas, fazia o seu percurso a pé, todos os dias. Em seu velório, o amigo e poeta Toninho brincou ‘ainda nem deve ter chego ao céu’. Dos loucos, do bando do Caximir na década de 80, Sodré caminhava de encontro a sua arte.



A poesia, sua musa inspiradora, como sempre dizia, o presenteava com o brincar das palavras e das letras: “Nenhuma flor resta na floresta”. “A distância é ave louca que faz enlouquecer”. “O poeta de guarda-chuvas voou no vendável”.

E como um gato nos telhados cantava: “Baila baila La Luna caliente”. Música, poesia, poemas, instalações, berros e gritos. Sodré acreditava na sincronicidade do cosmos que trazia de presente situações inusitadas e que o faziam vibrar: um sinal de que por trás de tudo, pode haver algum sentido.

Como quando encontrou um poema do amigo-irmão Eduardo Ferreira, passados mais de 30 anos de sua criação, em um dos livros que comprou para o seu sebo. Ou quando viram juntos a rã de Matsuo Bashô, enquanto o livro jazia na bolsa mágica do poeta.

A poesia os interligou a todos. E Sodré acreditava no poder destas conexões: “isto não é coincidência, é magia”, dizia rindo com os olhos marejados de emoção.



“Sua imagem refletida/ Nessa parede de vidro/ Me ilude de forma intensa/ Por vê-la assim tão suspensa/ Essa parede de vidro/ Igual uma poça d’água/ Faz um milagre bebendo/ Sua imagem que deságua/ Presa numa parede transparente/ Sua imagem a atravessa/ Se mexendo reluzente/ Tal como uma armadilha/ Sua imagem vira ilha/ Numa parede de cristal”, pode chamar de coincidência, mas prefiro dizer que é magia, já que agora sua foto e o poema do seu ‘santinho’ estão presas em um vidro, na mesa da frente da minha casa.

Sodré acreditava. Acreditava em algo que buscou incessantemente encontrar através de suas palavras, de suas canções, explosões, transmutações.

Por que poeta de La Transmutación? Porque é a mudança contínua, que transcende a própria mutação.
Romper com o status quo para sonhar com o novo. Rasgar os velhos recortes para ilustrar a poesia enfurecida com o mundo já cansado de caminhar. Sodré acreditava. Acreditava com tanta força.

Nunca entendi porque Sodré queria com tanta insistência pregar nas paredes da universidade, uma folha de jornal em que publicaram um conto meu ao lado de um poema seu.

Agora que ele se foi, eu começo a entender. Sodré acreditava nas palavras, na poesia, na arte, na beleza, nos sonhos. Era um sonhador, um incentivador. Um poeta maldito, mal-dito. Um poeta que fazia das letras sua única musa, sua única paixão, seu refúgio, seu mundo. Poesia era sua vida.

Das andanças pelo Brasil ao lado da trupe de artistas do Caximir, Sodré conseguiu se encaixar e achar seu lugar no mundo. Afinal, um louco poeta como ele, não poderia viver em padrões pré-estabelecidos por uma sociedade que rejeita o que vem de fora.

Sodré abraçou o que era, e não tinha vergonha de ser um poeta de miúdos, que aos passos trôpegos caminhou pela vida, passeando pelas palavras como se fosse um semi-deus.

O poeta de La Transmutación transmutou-se em poesia.



Confira vídeo homenagem feito por fãs de Sodré em um dos inúmeros Saraus realizados pelos companheiros, que visavam minimizar a saudade insana. 



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