Mobilizados pela ameaça de remoção, os artesãos que trabalham no Beco da Matriz organizam um abaixo-assinado que já conta com cerca de 15 mil nomes. Em reunião na Câmara Municipal na última terça-feira, 22, eles apresentaram aos vereadores suas reinvindicações e pediram que Prefeitura e o Ministério Público não retirem a categoria do local. A proposta dos órgãos é transformar o Beco em um calçadão. A desocupação, prevista para hoje, 24, afetaria mais de 300 trabalhadores, que de maneira direta ou indireta dependem da feira para se sustentar.
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Conhecida como dona Tuti, a presidente da Associação Mato-grossense dos Artesãos (AMA), Devanir Dantas, conta que o Beco foi ocupado com anuência da gestão municipal há 16 anos.
“Aqui era um lugar perigoso, sujo, lotado de usuários de droga. Não era possível passar sem ser assaltado. Nós lutamos e conseguimos o espaço, que hoje se tornou um lugar limpo, onde centenas de pessoas podem comer por um preço justo e consumir nosso trabalho. Ninguém veio tentar nos tirar ainda. A polícia garantiu que não iria dar início a nenhuma ação sem avisar com antecedência. Nós não vamos sair”, disse.
Recentemente o vereador Dilemário Alencar (PTB), propôs que fosse aprovada uma lei municipal para beneficiar esta classe. De acordo com o projeto, o ambiente, que seguiria com a readequação para um calçadão, serviria ao comércio exclusivo do artesanato e da gastronomia. O parecer foi aceito pelos artesãos.
À frente de sua barraca, onde são vendidos apetrechos como brincos, colares, e filtros dos sonhos, ela defende que, caso o projeto tenha andamento, os artesão sejam temporariamente realocados para a Rua Antônio Maria, ou para a Praça da República, ambas em frente ao Beco. Em sua opinião, estes são os únicos lugares viáveis para que eles continuem a trabalhar.
“Se sairmos daqui, vamos pra onde? Os artesãos de outros lugares estão querendo vir pra cá, é aqui que tem movimento. Se formos pra outro lugar, sei que não voltaremos mais, foi assim com o caso dos camelôs. Todo mundo está vendo que o Brasil e o Mundo estão em crise, se perdermos o sustento que tiramos daqui, o que iremos fazer?"
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Para a comerciante Sidnéia Gomes, que há cinco anos atua ali, a saída representaria uma perda incalculável tanto no orçamento, quanto no desenvolvimento do artesanato local: “Por meio da feira já consegui expor meu trabalho em São Paulo. O Poder Público diz que investe na cultura e no turismo... o artesanato não faz parte disso? Isso aqui pra mim é tudo!”
Devanir também falou sobre a hipótese de que a ação seja motivada pela Bienal de São Paulo, que será realizada no Palácio da Instrução, do lado da rua. “Eles acharam que seria feio a gente aqui, enquanto acontece o evento”, afirmou.
O secretário de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), Leandro Carvalho, nega este rumor. Ele explica que as notificações judiciais para a retirada dos comerciantes vêm sendo feitas desde 2014 e não foram cumpridas pela Prefeitura, e que a ação é uma proposta do MPE e não da Secel.
“Essa é uma ação proposta pelo MPE contra a Prefeitura de Cuiabá e foi determinado pelo juiz que os comerciantes fossem retirados do local. Essa decisão não cabe à Secel, que não faz parte deste processo”.
Agora, a categoria segue buscando o apoio da população e do Prefeito para que o projeto de lei seja aceito e que suas atividades tenham continuidade.
