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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Cinemas de rua, Escola de Cinema e Economia Criativa: Confira última parte da entrevista com Leandro Carvalho

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

 Cinemas de rua, Escola de Cinema e Economia Criativa:  Confira última parte da entrevista com Leandro Carvalho
Neste final de ano, o Olhar Conceito fez uma entrevista extensa com o Secretário de Cultura Leandro Carvalho. Leandro fez um balanço sobre os dois anos de gestão, comentou os principais programas, as dificuldades, e falou ainda sobre os planos para os próximos anos. Neste domingo, você confere a última parte da entrevista. 

Ele comenta, por exemplo, o projeto de criação de cinemas de rua nas cidades do interior, a MT Escola de Cinema, o programa de desenvolvimento da Economia Criativa e explica por quê não é possível - e nem indicado - usar o dinheiro destinado à cultura para 'saúde e educação', como pede a população.

Leia a primeira e a segunda parte da entrevista:

Sistema de Museus, editais do audiovisual e mais: Confira segunda parte da entrevista com Leandro Carvalho
Muito além do 'Vem pra Arena': Em entrevista exclusiva, Leandro Carvalho faz balanço da gestão e comemora resultados

OC – Vai diminuir a quantidade de editais no próximo ano por conta da crise?

Leandro – Não, diminuir não. A gente quer seguir e aumentar, diminuir não. Eu diria também que nós vimos trabalhando num programa de desenvolvimento do audiovisual nesse último ano, e a gente muito em breve vai apresentar esse programa pra consulta pública, pro debate. Então a gente tem já desenhada a MT Escola de Cinema, a Nelson Mandela Escola de Cinema e Liberdade e o MT Lab. Esse seria o eixo educacional. E a gente quer apresentar isso pro setor audiovisual, pra sociedade, pra gente debater, mas a partir de uma minuta, a partir de uma proposta, a gente quer ouvir as pessoas pra ver como a gente pode melhorar. Eu quero frisar essa forma de trabalho. De diálogo, de consultas públicas, a gente vem fazendo isso desde o começo. A gente está sempre dialogando, ta sempre ouvindo, o que pode ser melhorado, o que não pode.

E além desse eixo educacional no audiovisual, tem outros eixos. Tem o eixo de difusão, eu tenho conversado com muitos prefeitos eleitos pra construção de salas de cinema, eu estive recentemente com o presidente da Ancine e ele nos apresentou o programa ‘Cinema da cidade’, que é um programa de construção de salas de cinema em cidades onde não há cinema. Eles tem uma linha de financiamento de dois milhões de reais com uma contrapartida de 500 dos estados e municípios. A gente quer pleitear esses recursos, já estou construindo isso com os prefeitos eleitos.

OC – Mas isso seria somente para as cidades que não tem cinema?

Leandro - Necessariamente pras que não tem cinema. Na área do audiovisual nós temos uma grande discussão e a gente quer aproveitar que a Ancine, a partir deste ano, considere investimentos em educação e formação como contrapartida pro investimento de produção. No Fundo Setorial do Audiovisual a gente tem dois pra um no Centro Oeste, como foi esse ano, a gente investiu R$1,5 milhão, a Ancine R$3, fizemos um edital de produção de R$4,5 milhões para 19 produtos, longas metragens e outras tipologias. O ano que vem, nós estamos trabalhando em parceria com a Setas [Secretaria de Trabalho e Assistência Social] - e isso é importante também porque é uma característica do nosso governo – Sejudh [Secretaria de Justiça e Direitos Humanos] e Tribunal de Justiça, pra construir esse programa, porque nós estamos falando de uma escola dentro de um Centro Socioeducativo [Escola Nelson Mandela].

Outra coisa é o Programa de Desenvolvimento da Economia Criativa, feita também com várias secretarias, e aí vocês estão vendo, as Maratonas com mil coisas. Esse último evento das Cidades Criativas, enfim, a gente está fazendo muita coisa nessa área também. A gente criou uma superintendência da Economia Criativa, uma novidade na máquina, com um superintendente muito capaz, o Rafael Mazzeto, economista que veio da Seplan [Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação], super profissional, e o Centro no Grande Hotel, que nós temos os recursos aprovados no BNDES, no valor de R$4 milhões deles, mais R$1 nosso, pra reforma do Grande Hotel, pra ele virar o Grande Hotel da Criatividade mais o Centro da Economia Criativa.

OC – E isso é pra quando?

Leandro – Isso é pro ano que vem, pra começar a obra ano que vem e concluir em 2018 também. Já era pra ter começado, assim, mas eu fico angustiado, porque a máquina pública é lenta, não anda. E pra mim é tudo pra agora, pra amanhã, então fico angustiado. Mas o projeto é trabalhar em parceria com o Sebrae, Governo do Estado, várias secretarias. Pensar integrado transversal, o que é fundamental. Porque a cultura perpassa os diferentes segmentos, então pensar economia da cultura nunca foi feito. (...)

Eu sempre cito esse dado, o audiovisual injetou, em 2014, 23.4 bilhões na economia brasileira. (...) É uma indústria que emprega mais que a automobilística e a farmacêutica, a gente está falando de trabalho, emprego, uma cadeia enorme de pessoas, desde o ator, as produtoras de áudio, vídeo. Então, assim, é uma indústria. Não é só a indústria tradicional. Como o governador disse: o que nos trouxe até aqui, não é o que vai nos levar daqui pra frente. A gente precisa diversificar materiais econômicos.

OC – É a forma de fugir da crise?


Leandro – De fugir da crise. E esse programa é multifacetado. Eu poderia falar que cada uma das áreas tem frentes diferentes de atuação, e o nosso desafio é integrar aquilo que se refere ao turismo, ao desenvolvimento econômico, como a gente usa os CAEs, os Centros de Atendimento ao Empreendedor da Sedec [Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico] no interior, como a gente usa a Rede Sine e emprega a rede do trabalho, o contexto da economia criativa, como é que a gente fomenta áreas tradicionalmente fora da nossa atuação, como design, moda, gastronomia.

OC – A ideia então é formalizar? Pegar um designer e dar uma carteira de trabalho?

Leandro - A ideia é dar ferramentas pros empreendedores. Se você é uma designer, se você tem esse dom, como que você pode se qualificar, desenvolver coleções cada vez mais atrativas? Se você é uma designer de joias, e você está num estado que tem a tradição incrível, que nós temos, dos povos tradicionais, como é que você pode ter uma coleção com o EAD? A gente trouxe o pessoal do EAD, a Escola Europeia de Design, que é uma das maiores escolas do mundo, uma escola italiana de design que tem na Europa toda, tem doze na Itália, um em Barcelona, uma em São Paulo e uma no Rio. Eles trabalham com os alunos de design, e quando chega depois de dois anos, três anos do curso, a coleção vai direto pra Milão. (...) Então como você fecha esse ciclo? A pessoa tem que vender. Economia criativa, economia da cultura, é antes de tudo economia. Então a pessoa tem que conseguir sobreviver. Aí ela precisa ser uma boa gestora, precisa ter todo um conhecimento de vendas, de marketing, etc. Isso em tudo, nas mais diversas áreas.

O próprio mapeamento da Economia Criativa, com dados de quanto essa economia representa em Mato Grosso, então tudo isso, todo esse levantamento está sendo feito pra que a gente saiba por onde ir. E por falar em mapeamento, também tem o Mapas Culturais, que foi uma iniciativa bem legal, em que a gente está cadastrando os empreendedores, cadastrando os equipamentos de uma forma colaborativa. Então também é uma coisa que nunca teve, enfim, que muda nossa visão de onde estão os profissionais e de um olhar mais abrangente, envolvendo turismo, envolvendo outras áreas. E a própria Economia Criativa.

OC – E você acha que a população está tão aberta assim a essas iniciativas da cultura? Porque muita gente reclama que não tem dinheiro pra saúde, não tem pra educação, e vão fazer um show com tanto investimento. Como você acha que isso tem que ser passado pra população não pensar dessa forma?


Leandro – É o que a gente vem tentando comunicar. Quantas famílias trabalham nos restaurantes no Vem pra Arena? Qual o impacto que isso tem na economia? No fundo, o que o Estado investe, pra fazer um evento como esse, se reverte num valor muito maior de renda pra centenas, talvez milhares de pessoas. É esse o viés. Não é um gasto, é um investimento. A gente está investindo em promoção e fomento da economia em valores objetivos, mensuráveis. Além disso tem aquilo que é imaterial, que é não mensurável, que é isso. Quanto custa um trabalhador que ganha dois salários mínimos poder levar a família dele pra passear num final de semana na Arena? E ele poder propiciar pro filho dele pular no pula pula, de graça, porque ele não tem dinheiro pra pagar o pula pula. (...)

E a gente tem 0,3% do orçamento inteiro, pra um setor tão importante, tão estratégico. Então assim, é importante também. Precisa de melhoras? Precisa, mas são coisas separadas. Eu entendo também quem faz o comentário, mas assim, no dia da Vanessa da Mata estava também o Wesley Safadão, tinha ingresso que chegava a R$450. Quem pode pagar R$450? Quando custaria o ingresso da Vanessa da Mata?

E tem outra distorção. Estava escrito “A Secretaria pagou R$85 mil pra Vanessa da Mata”, não sei se você viu, que foi o que saiu no Diário Oficial. Então quem vê pensa que ela pegou R$85 mil e colocou no bolso. Mas é o valor bruto, a nota fiscal já cai pra R$70, aí tudo está incluído: passagem aérea, alimentação, hospedagem, o empresário, o cara que vendeu o show, toda a banda. Imagina? (...)

OC – Você está orgulhoso do seu trabalho?

Leandro - Super orgulhoso, por isso. A Secretaria está hoje em um lugar bonito, um lugar nobre, na Galeria Lavapés, novos equipamentos como o Memorial Rondon, enfim, tantas coisas que a gente fez. Não sei o quanto você acompanhava antes, mas o que era, como a gente encontrou a Secretaria, pro que é hoje, e em pouco tempo. Dois anos pra uma administração pública, e em ano de crise, a gente perdeu muito tempo e energia com o processo de fusão com o esporte e depois separação, a gente gastou muita energia com a mudança de espaço (...).

O ano passado foi um ano muito difícil de reconstruir a Secretaria, com novo organograma, novo espaço, junta com o esporte, separa do esporte, e ao mesmo tempo a gente pensou novas políticas, reestruturou as leis, criou novos parâmetros, novos editais, novos prêmios. Então estou muito orgulhoso. Esse ano já foi um ano mais tranquilo, de consolidação, e tudo isso numa ambiente de crise, um ambiente super restrito, super complicado, com contingenciamentos permanentes de orçamento. A gente tem que se readequar o tempo todo, então estou super feliz, super orgulhoso.

OC – Quais são as perspectivas pros próximos anos?

Leandro –
Muito otimista. Acho que agora a gente vai começar a colher o resultado de uma plantação muito sólida. Isso tudo que eu estou te falando é tudo pensando no longo prazo. E processos que começaram já há um tempão atrás, com as reformas grandes, de biblioteca, do Grande Hotel, e no ano que vem já começa a funcionar a Escola de Teatro, os próprios Pontos de Cultura, então a partir de fevereiro, março, a gente já tem trinta e cinco novos pontos funcionando, com dinheiro na mão, porque o recurso dos Pontos de Cultura está em conta, então vai ser pagamento imediato. Imagina, no ano que vem a gente vai ter um ano de produção de 35 anos.

A gente também já está indo pro terceiro ano do Circuito de Festivais, a gente quer criar o Circuito de Festivais de Cinema no ano que vem, isso é uma perspectiva importante. E a gente tem um programa muito grande com a Seduc, que foi apresentado ontem, que a gente teve um dia com a Gife, Grupo de Instituições, Fundações e Empresas, no Palácio do Governo, então a gente ficou a manhã inteira com o governador e representantes de algumas das maiores empresas do país e multinacionais. Então a gente se reuniu no Garcia Neto, em cima, com os secretários de Educação, Trabalho, Saúde e Cultura, áreas prioritárias que apresentaram projetos pras maiores empresas do país. Então a gente apresentou o projeto de Economia Criativa, com o foco no visual, apresentamos nosso projeto do Sistema de Bibliotecas, são mais de 140 bibliotecas no sistema, então fortalecimento das bibliotecas, ampliação de acervos, intercâmbio, e programa de música nas escolas que estamos construindo com a educação.

A gente tem um programa muito ambicioso de implantação de ensino de música nas escolas chegando a 125 escolas em cinco anos com núcleos de ensino de música. A gente vai atender quase 30 mil alunos. Então assim, é um super programa, com um foco social usando a música como ferramenta de desenvolvimento. A música pode desenvolver qualidades cognitivas nas pessoas, a memória, a concentração, capacidade de conviver em grupo, disciplina, respeito à hierarquia.

OC – E quando que começa esse projeto?

Leandro - A gente já vem trabalhando há mais de um ano nesse projeto, é um projeto muito grande, e ele vai ser feito através de chamamento público também, pra que uma Organização Social faça a gestão do programa. A gente vai publicar o chamamento público provavelmente no início do ano que vem. (...)

A gente fez uma parceria com o British Council, Conselho Britânico, pra implantação do programa World Voice numa escola pública de Várzea Grande. Na semana passada foi mais uma etapa da capacitação dos professores. Teve uma etapa no começo do ano e na semana passada teve outra etapa, e é um programa que está se desenvolvendo e que a gente quer criar.

OC – Isso faz parte do música nas escolas?

Leandro -
Não, isso é uma outra coisa, que já está em andamento. Só tem em São Paulo e Mato Grosso. O British Council tem esse programa na Índia, em diversos países.

OC – E como funciona esse programa?

Leandro – Vem os educadores britânicos que tem uma metodologia de trabalhar com os professores, com os alunos, usando a voz, daí o World Voice. E eles trabalham com os alunos, desenvolvem uma série de atividades em sala de aula, junto com os professores de várias escolas acompanhando. Aí depois eles trabalham só com os professores, capacita os professores. E os professores conhecem novas formas de usar a voz pro seu trabalho em sala de aula, independente da disciplina, com técnicas, é incrível.

OC – E isso já aconteceu?

Leandro –
Já começou, no começo do ano, e agora teve a segunda etapa. (...) Esse é o piloto, em Várzea Grande, mas a ideia é expandir. (...)

Aí a gente tem a parceria com a Bill & Melinda Gates Foundation pra implantação de um núcleo de tecnologia das bibliotecas, a gente acabou de inaugurar o primeiro na Biblioteca Estevão de Mendonça, pra você ver as parcerias que a gente vem fazendo. A gente tem a parceria com o Banco Santander pra uma exposição do Bené Fonteles.

OC – A exposição vai ser quando?

Leandro - A exposição vai ser em janeiro, de um super fotógrafo, no Palácio da Instrução. Parceria com o Banco Itaú, no Itaú Cultural. Vamos fazer uma programação de ‘Rumos’ do Itaú Cultural ano que vem, super bacana, uma programação com oficinas. Aqui em Mato Grosso via ter uma programação diferenciada em relação ao Rumos. Além da Bienal no primeiro semestre.

(...)

E agora, daqui pra frente, nesses dois últimos anos que faltam já está muito claro até onde a gente vai conseguir chegar. Quatro anos é muito pouco tempo pra fazer qualquer coisa, então é importante ter muito claro o que você quer fazer, desde o início. Se você me perguntasse como é que eu vejo, acho que algo que ajudou muito foi ter claro o que fazer, desde o início. Pegar um rumo, e continuar com ele até o final. A gente está no meio do caminho, a gente sabe bem onde quer chegar, os resultados já estão vindo com bastante força, e pensando nisso já temos um planejamento 2017/2018 bem claro, porque fizemos isso no Plano Estadual. O Plano Estadual já é um planejamento detalhado de dez anos, então o gestor que vier depois de mim já vai ter isso. Quando nós assumimos não tinha nada. Não tinha um Plano, a gente teve que reconstruir, criar muita coisa, e isso deu muito trabalho, foi uma energia muito grande.

OC - Esses dois próximos anos serão mais fáceis?

Leandro – Eu acho que sim. Mas nunca é fácil, né. É sempre muito trabalho.
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