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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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aniversário da 24

A última moradora nascida na Rua 24 de Outubro relembra o "tempo da saudade"

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

A última moradora nascida na Rua 24 de Outubro relembra o
Pessoas andando, entrando em lojas, correndo para conseguir um lugar nos bistrôs e encantando-se com o charme do local. Assim é a Rua 24 de Outubro atualmente, embora ela guarde muitas histórias ao longo de sua extensão. Nesta sexta-feira (24), faz 84 anos que a Rua tem este nome, em homenagem à Revolução de 1930.

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Com tantas coisas acontecendo em uma rua que renova-se a cada ano, às vezes fica difícil lembrar do passado, de como eram as coisas antes e de toda uma tradição por alí cultivada. Mas no meio da agitação atual, uma pessoa lembra.

Em frente às fachadas rosas, amarelas, brancas e azuis, uma casa com portão vermelho escuro, quase marrom, guarda em seu interior a lembrança dos ‘velhos tempos’. Ao ultrapassarmos o limite do portão, entramos em uma casa com a arquitetura bem diferente do que a que estamos acostumados. Parecendo um mini complexo de casas, a construção é somente uma pequena amostra do grande casarão que costumava ser.

Em seu interior com paredes cor de rosa, fotografias de família e ‘ar de saudade’, Maria Natividade convida para sentarmo-nos nos bancos de madeira e conhecer os seus 71 anos de história. Em 1943, Dona Natil, como é conhecida pelos vizinhos, nasceu na Rua 24 de Outubro e morou na mesma casa a vida inteira.


(Foto: Stéfanie Medeiros/ Olhar Direto)

Dona Natil, senhora conversadeira, conta histórias com os olhos cheio de saudades dos seus tempos de infância. Naquela época, ela costumava brincar na beira do Rio, onde seu pai, Tomaz Aquino, tinha uma propriedade. Nestes tempos ‘mais simples’, Aquino era dono de várias terras que compunham o Bairro Santa Izabel. “As casas daqui eram tudo com a boca para a rua, não tinha calçada que nem agora. Nós brincávamos a tarde inteira no chão de terra”, disse Dona Natil. Ela então suspira e murmura “saudade demais desse tempo”.

Quando perguntamos do que Dona Natil sente mais saudade, ela não hesita em responder “dos amigos”. A senhora, sentada no banco de madeira de sua sala de estar, vestido azul marinho de bolinhas brancas e sandália aberta de couro, conta que o melhor da 24 de Outubro na época eram os vizinhos. Os moradores da região cuidavam um dos outros, a violência e perigo de assalto eram mínimos. A vida era quase que comunitária. “A gente podia confiar uns nos outros, a gente cuidava dos filhos das amigas e não tinha medo de deixar nossas crianças com os outros. Hoje em dia isto não existe mais”, conta Maria.

Depois da escola, Dona Natil foi para o magistério. Ensinou alunos de uma escola na beira do rio Parí, onde a lenda conta que mora o Minhocão. Para fazer o percurso de casa até o trabalho, Maria andava mais de 20 Km a pé todos os dias e chegava em casa à tempo de fazer o almoço. “Naquele tempo, quem tinha carro era só rico”. Mãe de quatro filhos, Dona Natil e seu marido nunca deixaram de trabalhar, cuidar da casa, família e fazer economias. “Depois de muito tempo trabalhando e guardando nosso dinheirinho, nós compramos um jipe. Mas esse dia foi uma alegria tão grande”, contou ao Olhar Conceito.



Grande acontecimentos

A Rua 24 de Outubro é conhecida pelos cuiabanos como um lugar onde grandes coisas aconteceram. Anteriormente, a Rua chamava-se Senador Azeredo, forma de homenagear o advogado cuiabano e senador Antônio Francisco Azeredo. Mas então chegou o ano de 1930 e uma mudança ocorreu no país.

Nesta ano em questão, um movimento armado liderado por Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul culminou com o golpe de estado que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, encerrando a política do café com leite e a República Velha. Nas eleições presidenciais, Júlio Prestes disputou o cargo com Getúlio Vargas. Em virtude do golpe de estado, Prestes foi exilado e Getúlio assumiu a chefia do estado.

Com o que ficou conhecida como ‘Revolução de 1930’, Cuiabá e Mato Grosso também presenciaram algumas mudanças. Azeredo saiu do poder e, em seu lugar, vários interventores com mandatos curtos governaram Mato Grosso. O segundo deles, chamado Antônio Mena Gonçalves, foi quem mudou o nome da rua histórica no centro de Cuiabá.


(Foto: Stéfanie Medeiros/Olhar Direto)

Mas ao conversarmos com Dona Natil, temos a impressão de que os grandes acontecimentos foram reservados às manchetes dos jornais. Maria, com sua simplicidade, carisma e dom para contar histórias, transmite ao seu ouvinte um tempo simples, onde as pessoas conheciam-se todas pelo nome e andavam despreocupadas por uma 24 de Outubro ainda sem asfalto, saneamento básico e estrutura, mas já cheia de cultura e tradição.

Mas a Rua 24 de Outubro é uma junção de seu passado, presente e o que um dia será. Clique AQUI para ler sobre a rua atual e conferir a programação de aniversário da 24 de Outubro.
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