Olhar Conceito

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Notícias | Política Cultural

entrevista

Após hiato, Secretaria de Cultura ganha novo fôlego com choque de gestão e retoma ações culturais

Foto: Priscilla Silva - Olhar Direto

Secretária de Cultura Janete Riva

Secretária de Cultura Janete Riva

Após um hiato de mais de um ano, a Secretaria Estadual de Cultura (SEC) ganha um novo fôlego com um choque de gestão administrativo, em que foi possível realizar ações que haviam sido esquecidas em 2012. Um ano turbulento para produtores culturais e artistas, que se viram desamparados pelo poder público.

Leia mais: Projeto Artes no IL resulta em painel exposto na UFMT; programação também traz seminário

Foram quatro gestores ao longo de 2012, o que não permitiu uma continuidade de ações na pasta, e que interrompeu ações culturais que já aconteciam há anos, como os festivais de Cinema, Teatro e Siriri e Cururu. Agora, estas ações estão sendo retomadas.

Há 10 meses à frente da pasta, Janete Riva, imprimiu um novo ritmo de trabalho e abriu as perspectivas para a classe artística, que agora, possui voz e vez na Secretaria de Cultura. A gestora afirma que as portas da Secretaria estão sempre abertas, e recebe em seu gabinete, produtores culturais que buscam apoio para suas ações, o que pode ser considerado um fato inédito, em que o poder público se abre para trabalhar em conjunto com quem realmente entende as necessidades do Estado.

A democratização da gestão, já que Janete consciente de seu papel e da pouca experiência com cultura, pois, sua nomeação na pasta visava acabar com as dificuldades financeiras e administrativas, revelam um novo momento cultural em Mato Grosso.

“Para mudar a realidade de Mato Grosso a questão é sempre orçamentária, porque a demanda é imensa, muito rica. Temos um Estado que tem uma dimensão continental, e é uma colcha de retalhos no quesito cultural. Não conseguimos atender a demanda. Não temos fundo de reserva. Então quando se mudar a consciência de que cultura não é despesa e sim investimento, de que mexe direto no cidadão enquanto social, quando houver essa visão e uma aplicação maior de recursos, acredito que possa mudar”, discorre.

Confira na íntegra, a entrevista com a secretária de Cultura, Janete Riva, que apresenta um panorama das ações realizadas em 2013, as perspectivas para 2014, a briga por orçamento e principalmente, a democratização da gestão com olhar voltado para o pequeno, em que a Secretaria recebe os produtores culturais para que juntos, possam dar um novo rumo para a cultura de Mato Grosso.

Olhar Conceito - Quais ações foram implementadas em 2013, o que de efetivo aconteceu na SEC?

Janete Riva - Efetivamente conseguimos trazer credibilidade para a pasta. E a volta do produtor cultural aqui na SEC, pois 2012 foi um ano difícil para os produtores culturais, pela não continuidade de gestão. Foram quatro secretários que passaram por aqui no ano passado, então o artista e produtor cultural estavam sem rumo, realmente abandonados. A nossa prioridade foi organizar o financeiro da casa e conseguindo isso partimos para realizar algumas ações, como o Festival de Quadrilha do Araguaia, e em parceria com a Prefeitura de Cuiabá fizemos o Festival de Cururu e Siriri, e também a Cavalhada de Poconé, Festança de Vila Bela, e outras ações de incentivar o produtor cultural via intercâmbio.

Olhar Conceito - Foi retomado em sua gestão, o diálogo com a classe artística e produtores culturais?

Janete Riva - Optamos por não desenhar uma linha para os produtores seguirem, mas pensamos que eles viessem aqui com o segmento, traçar esta linha para caminharmos juntos. Com isto tivemos o Festival Mato Grosso em Cena, e nesta conversa diretamente com os produtores, foi um trabalho da SEC com a direção deles. O Festival de Cinema que será lançado na próxima semana, mas deve acontecer em janeiro, fizemos a Feira do Livro, o Panorama das Artes Matogrossense, Panorama Jovem Arte Matogrossense, então são ações que mostram aos produtores que a SEC está aqui a disposição, e que em 2014 será melhor, com a pasta saneada, e haverá mais investimentos, pois, este ano o orçamento já estava carimbado.

Também conseguiremos até novembro, pagar todo o PROAC de 2013. Em 2012 o empenho foi cancelado por questão financeira, e conseguimos mostrar que pode ter esta confiabilidade. O edital foi lançado agora, e os produtores podem ter a segurança de obter o recurso com os projetos aqui apresentados.

Olhar Conceito - A secretária possuía um contato com a cultura? Como está sendo a experiência de conhecer por dentro a máquina e conseguir realizar ações?

Janete Riva -
Não tínhamos experiência alguma na questão cultural, temos uma equipe pequena e o adjunto Fabiano Prates que tinha uma noção como produtor cultural, mas fomos convocados pelo governador para administrar. E é nosso perfil, e por isso, optamos que o produtor venha nos ajudar. Tivemos reunião com a classe teatral, e em depoimento disseram o quanto era importante estar aqui auxiliando nas decisões do fazer cultural.

Olhar Conceito - É difícil gerir a cultura ou faltou empenho das gestões passadas?

Janete Riva - 
Acredito que tudo é uma questão de gestão, e quando a gente teve esse pensamento de direcionar a organização da pasta, é para mostrar esta preocupação em realmente valorizar o produtor. Acredito que pela experiência ao longo destes 10 meses, mostrou que com a cultura você consegue fazer com pouco. Tudo o que o produtor precisa é um incentivo, um empurrão para conseguir andar. E pelas ações deu para notar, que talvez tenha faltado um olhar para o pequeno, porque o grande está estabelecido e pontualmente consegue sobreviver, mas o pequeno precisa dessa luz. Um artesão que confecciona sua viola de cocho consegue passar a arte do fazer, mas a Secretaria precisa olhar que não basta só a oficina para aprender, mas a musicalização também.

Encerramos o “Cantos do Brasil” com a Orquestra de Mato Grosso, que está entre as 10 premiadas do país, e conseguimos aditivo para passar por cinco municípios do interior. Depois de 20 anos parado, também conseguimos revitalizar o relógio da Matriz. São ações que aos poucos mostram que é possível fazer com pouco. Mas volto a dizer, a questão orçamentária aqui é complicada, a Secretaria está perdendo muito em 2014, e estamos brigando junto à Assembleia Legislativa para mudar o que a equipe do governo nos colocou. Pedimos que é possível fazer, pensando também na gestão, mas que não se amarre a Secretaria e acredito que 2014 será um ano diferenciado, pela credibilidade readquirida e pela gana que o produtor cultural tem, principalmente por ser um ano festivo de Copa, e a Secretaria tem que estar preparada para responder a este anseio.

Olhar Conceito - Quanto irá perder no orçamento, e a senhora acredita que é uma contradição diminuir os investimentos em ano de Copa com fluxo previsto de até 80 mil turistas?

Janete Riva - 
Acredito que não vamos perder porque estamos brigando pelo orçamento, mas a equipe econômica cortou aproximadamente R$18 milhões (o orçamento do próximo ano está previsto para R$36 milhões). É muita grana. Pensando no Estado acaba sendo pouco, mas para a SEC é muito importante para desenvolver todas as ações e ampliar algumas. Quanto aos pontos de cultura já solicitamos ao MinC, um novo convênio, pedimos R$10 milhões, para que possam continuar com os 36 em funcionamento. É uma política pública que mexe direto com a comunidade, uma raiz pujante de produção. O Instituto Ciranda que fica dentro da Orquestra de Mato Grosso e está sendo requisitado por todos os municípios, é lúdico, o sonho de poder estar em uma orquestra. Queremos ampliar e pensar em novas políticas públicas que possam ser eficazes, mas para isto, precisamos da garantia orçamentária.

Olhar Conceito - Quanto a realização do Plano Municipal de Cultura, o Estado participou? Como está o plano de cultura para Mato Grosso?

Janete Riva -
Toda vez que o assunto é relacionado ao MinC, temos algumas frustrações. Os representantes que vem para cá, sempre temos dificuldades, a não ser pelo Ponto de Cultura, sinto que o MinC está meio perdido. A 3º Conferência Nacional da Cultura aconteceu semana passada, e todos ficamos desanimados com o discurso da ministra, porque as coisas estão demorando a acontecer. Enquanto não emplacar de fato o Sistema Nacional de Cultura, que é o que está sendo trabalhado, as coisas estão amarradas e o MinC se prende ao sistema. O nosso plano estadual foi para a Casa Civil em maio, voltou para cá com pedido de readequações, já voltou para a Casa Civil, e mandará para Assembleia Legislativa para aprovação. O dever de casa de Mato Grosso está sendo feito, mas não está sendo respondido à altura pelo MinC.

Olhar Conceito - O plano estadual de Mato Grosso, terá o olhar voltado ao pequeno?

Janete Riva - 
Abre-se a discussão de uma forma muito maior, quando você coloca o plano estadual. O que mais está fomentando a vontade de aprovação é que aumentamos o número de conselheiros, para que cada pólo do Estado tenha representantes. É a forma mais democrática que encontramos, para que todos tenham voz e vez na SEC. Muitas reclamações de que regiões não são contempladas, então que o representante esteja aqui para realizar suas ações. Acredito que esta liberdade que as regiões terão, será muito maior, consequentemente aumentando o número dos representantes do interior, amplia-se a discussão e quanto mais pessoas participam, o resultado é melhor.

Olhar Conceito - Qual é o maior entrave do setor cultural?

Janete Riva - 
É a questão orçamentária, porque pela dimensão não conseguimos prestar assistência de acordo com a necessidade. E hoje você não consegue fazer um diálogo direto nos municípios, os prefeitos vem pedem um palco para o show, é claro que fomenta o intercâmbio cultural, mas não muda o contexto. Então precisamos que as pessoas entendam que através de oficinas de capacitação, o resultado seria muito maior. Conscientizar sobre a importância da cultura nos municípios para ser capaz de mudar a realidade.

Olhar Conceito - E o programa incubadora Brasil Criativo?

Janete Riva - 
É um escritório, que o nosso será aberto em janeiro, pois, o MinC estará aqui, mas será uma ponte para você conseguir uma visão de como cuidar do seu negócio. Acredito que a cultura precisa virar um produto para que o produtor possa viver, porque, senão estará sempre batendo a porta da SEC, sem conseguir sua subsistência. Ele deixa de ter a preocupação só do fazer e passa a ter com a prestação de contas, que é uma das nossas demandas, de tentar simplificar, e chamá-los para fazer isto com apoio da SEC. O projeto incubadora terá este foco de capacitação para saber fazer o seu projeto e direcvionar o seu investimento.

Olhar Conceito- O que ainda vai acontecer em 2013?

Janete Riva - 
O lançamento do Festival de Cinema que será agora e outro projeto bacana é o Arte em Movimento. Os ônibus conseguiram trazer outra alegria, e o nosso objetivo de visão enquanto gestores é formar público em Mato Grosso. As pessoas saem de Cuiabá para outras cidades para a vida cultural, e quando há peças aqui, não há público, não há valorização. E nos ônibus buscamos esta formação e por exemplo, fiquei muito feliz, quando passou um ônibus numa reportagem na TV, e a minha secretária de casa disse: - Olha dona Janete aquele ônibus é do Adir Sodré né? Então para mim, só isso já valeu, porque ela identificou. Faremos as cantatas de natal, no CPA, Pedra 90 e Centro. Reabertura do Museu Histórico, que estava há um ano e 10 meses fechado, fizemos a reforma, e se tudo der certo, no dia 22 de dezembro já estaremos reabrindo as portas.

Olhar Conceito - E quais são os planos para 2014, e referente a Copa do Mundo?

Janete Riva - 
Por incrível que pareça, a SEC nunca é convidada para discussão, porque a Fifa coloca a cidade-sede e não o Estado-sede, então é Secretaria Municipal que é convidada. Não tem uma ação direta em relação À Copa do Mundo, e achamos isto muito injusto. Mas é a prioridade, é Cuiabá.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet