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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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De Cuiabá à Miami

Artista cuiabana cria técnica inovadora e têm o trabalho exposto nos Estados Unidos

Foto: Stéfanie Medeiros

Artista cuiabana cria técnica inovadora e têm o trabalho exposto nos Estados Unidos
A sala é ampla e arejada. As paredes brancas, o teto comprido e o espaço visualmente limpo teriam uma atmosfera moderna, não fossem as obras de arte que cobriam o lugar desde o chão até o teto. Estas obras com ar rústico assim o são por conta de sua matéria prima: a madeira. Mas algumas, mesmo com aquele toque inegável de sua origem campestre, ganham novas cores, novas formas, desenhos, movimentos e dinamismo.

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E este é o legado de Lara Donatoni Matana, 44 anos, artista desde os 22: Dar movimento e uma nova dinâmica à madeira, trazer de volta a vitalidade dos troncos que um dia foram árvores. Lara abriu o espaço onde expõe suas obras há quatro anos, por conta da falta de galerias em Cuiabá.

No grande salão, as obras que mais chamam atenção têm aquela combinação única de verde e azul que formam a plumagem do pavão. Esta série, uma das mais populares de sua galeria, foi feita com uma técnica inovadora que a própria Lara criou.

Utilizando-se de lâminas extremamente finas de madeira colorida, Lara as encaixa em suportes igualmente miúdos, chamado “fingers”. Como estas tiras são finas e se quebram com facilidade, Lara teve dificuldades de incorporar movimento à sua criação. Mas depois de experiências bem sucedidas, foi aos poucos aperfeiçoando os suportes, fazendo com que eles tomassem diversas formas e ganhassem dinamismo. Nasceu então a nova técnica tão peculiar nas obras de Lara.

A série do pavão, além de captar os olhares por suas cores vivas, também se destaca pelos movimentos delicados, a combinação de formas e desenhos. Mas Lara, que ressalta repetidas vezes que seu trabalho é artístico, pois cada obra é única, e não artesanal, precisa que suas criações tenham significado.

De acordo com a artista, antigamente acreditava-se que o pavão, que se alimenta de vermes, insetos, sementes e frutos, era capaz de transformar as toxinas que ingere nas cores exuberantes de suas penas. Ou seja, a ave pegava o prejudicial e o tronava em arte, mesmo que não fosse proposital.

E é isto que Lara faz nesta série. Para honrar a simbologia do pavão desde o início da produção de uma obra, Lara utiliza apenas madeiras que estão “estragadas” de alguma forma: troncos roídos por cupim, pedaços de árvores que caíram no temporal, restos de serrarias e laminadoras. É com este material que produz sua arte, com o toque peculiar e singular da artista.

Do pincel à madeira: Como Lara começou nas artes
                                                                                                                       (Foto: Rildo Amorim)   
Lara casou-se muito cedo e, aos 22 anos, já tinha dois filhos. Depois do nascimento do segundo bebê, a futura artista teve depressão pós-parto, embora não soubesse disso. No entanto, sua mãe percebeu a mudança de comportamento e de humor. Buscando uma alternativa saudável que pudesse ajudar Lara nesta fase, sua mãe a convidou para as duas fazerem aulas de pinturas juntas.

Sem nunca ter pintado ou se envolvido no mundo artístico de qualquer outra forma, Lara hesitou, mas concordou, animada com a ideia. E nestas aulas de pintura que começaram apenas para “dar trabalho à professora” que Lara descobriu sua vocação.

No começo, utilizava apenas tintas e telas. Mas uma viagem à Belo Horizonte, em Minas Gerais, mudou esse cenário. Em uma exposição, conheceu o trabalho de uma artista com a madeira. Apaixonou-se. Queria desenvolver sua arte utilizando aquele material.



No entanto, trabalhar com a madeira exige uma série de equipamentos que Lara não tinha a disposição. Contava com a ajuda de uma marcenaria, mas as peças que ela precisava, muitas vezes trabalhosas e complicadas de se fazer, não davam tanto lucro quanto confeccionar móveis. Lara precisava de um estabelecimento especializado para dar continuidade aos seus quadros e esculturas.

E em 2003, com o apoio do marido, abriu a própria mercenária, especializada nas obras de arte que desenvolve. Há 10 anos Lara trabalha com uma equipe, agora composta por cinco pessoas além dela mesma. É Lara que idealiza a peça, faz o desenho no papel e decide de que forma será desenvolvida.

Mas a montagem da peça Lara já não faz mais sozinha: Conta com sua equipe para preparar o material e compor a obra. No entanto, a artista faz questão de acompanhar todas as etapas, principalmente na série pavão, que não pode ter erros, alterações ou ajustes fora do planejado.

Exposição nos Estados Unidos

Com seu trabalho consolidado, Lara tem galerias que a representam em São Paulo e Rio de Janeiro. E foi em um destes espaços na capital paulistas que uma curadora colombiana conheceu o trabalho da artista mato-grossense. Encantada com aquela técnica única e trabalho singular, a mulher pediu que entrassem em contato com a artista, convidando-a para uma exposição em Miami, nos Estados Unidos.

E do dia 03 ao dia 08 de dezembro, três peças de Lara estarão expostas na “Red Dot Art Fair”, uma das maiores feiras de arte do mundo. Nos dias de exposição, uma estrutura de quase 5 mil metros quadrados onde valoriza-se trabalhos inovadores e singulares.

O reconhecimento do trabalho de Lara, no entanto, não é novidade. A artista ocupa a cadeira de número 2 da Academia Brasileira de Belas Artes.

Serviço


Casa de Arte Lara Matana
Travessa João Bento, 170-4, Quilombo, Cuiabá.
Para mais informações: (65) 3623-6535
Site oficial
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