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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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30 anos de natal

Dando mais conselhos do que presentes, Papai Noel já rezou até com aluno que ia fazer prova

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Dando mais conselhos do que presentes, Papai Noel já rezou até com aluno que ia fazer prova
Quem acha que o Papai Noel é uma figura pagã que afasta as pessoas de Deus e as aproxima do consumismo precisa conhecer José Nilton Ferreira Lopes. Trabalhando como Papai Noel há mais de trinta anos, sendo onze destes no Pantanal Shopping, o paulista carrega consigo um terço e fala o tempo todo sobre a fé.

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“Eu sou católico, mas não sou contra religião nenhuma porque nosso Deus é um só”, disse Zé em entrevista ao Olhar Conceito. Para ele, seu trabalho é bem mais do que tirar fotos com as crianças. “Trago meu terço comigo, faço sempre uma oração antes de começar a trabalhar para que Deus ilumine as palavras que eu vou falar para as crianças”.

A história começou há muito tempo. Zé morava em Rancharia (SP), em uma colônia italiana, e tinha uma loja de brinquedos, artigos de pesca e importados: “Nada acontece por acaso, não. Acho que Deus foi preparando a gente (...) a cada semana a gente [ele e a família] saía num bairro, levava um brinquedo pra quem estava com problema, roupas... E quando eu não tinha essas coisas pra dar eu levava bala, pirulito... outra semana levava lanche, e foi pegando, todo mundo começou a falar “O senhor é nosso papai Noel, cara!”. E ele acreditou. Na época, pintava sua barba que era preta. Hoje, trinta anos depois, não precisa mais disso.

Sua primeira vinda para Cuiabá foi no ano 2000, quando veio fazer o Natal Bem Bolado Goiabeiras. Trabalhou em outros shoppings, em agências de publicidade e até mesmo no Governo do Estado, sempre como Papai Noel. E a incorporação foi tanta que para Zé Nilton o personagem vive o ano inteiro. Ele visita, por exemplo, o Hospital do Câncer todas as semanas do ano. Foi ali que ele viveu uma das histórias que mais marcou sua vida.



“O que marcou mais na minha vida foi uma criancinha de três anos e seis meses que perdeu os dois olhinhos por câncer, e ela falava assim ‘Papai Noel, eu não enxergo o senhor com meus olhos, mas eu sinto o senhor com o meu coração’”, conta.
“Teve um ano que eu tava aqui, a enfermeira chegou e falou pra mim: ‘Papai Noel, a Dani ta na UTI do Pronto Socorro, e não ta bem’. E eu já tinha comprado até o presentinho que ela queria, que era uma panelinha”. A garota estava entubada, e quando ele chegou no hospital para visitá-la, a surpresa foi ainda maior: “Eu fui conversar com ela, e de repente ela jogou a chupeta da boca e eu falei ‘Oi meu amor’, e ela abriu o olho e fez força pra sentar. Eu sentei ela, e ela disse ‘Papai Noel, trouxe meu presente?’”. Depois desta conversa, a garota deitou e dormiu de novo por mais três dias.

São histórias como essa que alegram os dias de Zé Nilton. Ele coleciona centenas de outras em que conheceu crianças doentes que se curaram, pais desacreditados que depois levavam os filhos para que ele visse como estavam saudáveis. E a resposta dele é sempre a mesma: “Deus te deu um presente maravilhoso e não vai tirar, só depende de você. Se você tiver fé e concentrar bastante, em dezembro você vai levar sua filha lá no pantanal shopping pra mim”.

Os conselhos quase religiosos também são dados às crianças que passam por sua casa no shopping. Segundo ele, são cerca de 500 nos dias de semana e 800 nos finais de semana, isso sem contar os adultos. E ele afirma que sempre procura conversar e não iludir os pequenos:

“Eu não gosto de falar mentira pra ninguém. Se chegar uma criança e falar assim ‘papai Noel, eu quero ganhar um computador’, eu não iludo. Eu vejo se o pai da criança tem condições de dar, se ele der um sinal pra mim eu falo que vou levar (...). Mas quem não tem condições a gente sabe. Daí eu falo ‘Ó meu amor, não sei não o que vai dar pra levar pra você esse ano, mas eu tenho certeza que o que eu for levar pra você, você vai ficar muito feliz!”. Apesar de falar isso com dor no coração, ele prefere ser sincero.



Nos hospitais e bairros carentes, por outro lado, onde ele vai voluntariamente, sua intenção é sempre levar os presentes para as crianças. Como ele faz isso o ano todo, conta que gasta cerca de R$1500 por mês só de presentes, balas e pirulitos.

Nestes trinta anos como bom velhinho, as principais mudanças que ele percebeu foram nos pedidos: “Hoje vou falar pra você, as crianças de seis anos pra frente, poucas querem brinquedo. Elas falam assim ‘Papai Noel, eu quero paz no mundo, eu quero felicidade, o que o senhor vai dar pra mim o senhor dá pra alguém que precisa... outras crianças falam assim, Papai Noel, eu quero que meu papai e minha mamãe voltem”, conta. E ele aconselha, mais do que promete.

Com seu terço na mão, faz orações para os pequenos e já ficou conhecido pela religiosidade. Por estar no Pantanal Shopping, já rezou até mesmo com alunos da Unic que estavam indo fazer prova. Aqui em Cuiabá, já deu benção para o bispo Dom Nilton e o padre Júlio do São Gonçalo. No dia a dia, a missão dele é clara: “Eu to aqui pra distribuir amor e carinho (...) Eu sou feliz fazendo isso aí, adoro o que eu faço”, finaliza.
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