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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Mesmo sem sinagoga em Mato Grosso, judeus comemoram chanucá com festa e reflexão

Foto: Reprodução/ Ilustração

Mesmo sem sinagoga em Mato Grosso, judeus comemoram chanucá com festa e reflexão
Em uma mesa de almoço de domingo, uma família discutia os planos de natal. Para o mais velho da mesa, o avô, o natal havia tornado-se uma “anarquia”. Ele sentia falta de a família toda arrumando-se para ir à missa do galo, voltando para a ceia e celebrações. Em contraponto, a mais jovem da mesa disse que agora não é mais assim por conta da diversidade. Para ela, isto era uma coisa boa, uma evolução. O avô respondeu com um seco “é”.

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Paralelamente a esta cena, outra família cuiabana celebrava seu feriado de final de ano. Trata-se da família de Hélcio Corrêa Gomes, que desde o dia 16 de dezembro comemoram a “Festa da Inauguração”, feriado judaico chamado de Chanucá (pronuncia-se 'rãnuká'). As celebrações desta data, na casa de Hélcio, finalizam-se nesta terça-feira (23).

Hélcio explicou ao Olhar Conceito que é judeu sefaradim, de origem oriental. Sua família é descendente do marroquino Avraam Cardozo, exilado da Espanha para Portugal em 1432. Os filhos de Avraam, por sua vez, foram exilados de Portugal para o Brasil.


(Ilustração)

Ao contrário do costume das sociedades patriarcais, o nome dos pais judeus não vão para os filhos. Era uma forma de fugir de uma morte certa pela Santa Inquisição. “Eu não tenho nome dos meus pais, eles dos avôs e minhas filha não possuem o meu nome. Aqui remanesce mania antiga de fundar dinastia a cada geração, como costume herdado para fugir da Santa Inquisição”, explicou Hélcio.

De acordo com Hélcio, Cuiabá tem cerca de 10 famílias judias, mas Mato Grosso ainda não possuí nenhuma sinagoga. Apesar disto, elas comemoram a “festa das luzes” em suas próprias casas. Nesta semana de comemoração, as casas judaicas enchem-se de iguarias, como, por exemplo, sonhos fritos com doce de leite, receita típica judaica que espalhou-se pelo mundo. Dentre outros pratos típicos da data, também estão bolos com fritas, pães, Latkes de batata (bolinho frito) e várias frutas cristalizadas. “E, é claro, um bom vinho para a alegria do anfitrião e visitantes”, disse Hélcio.

Ele ainda ressaltou que não é permitido comercializar a data de Chanucá. “Mais que dar presentes, o que é importante neste feriado é receber a luz e renovar os pactos de amizade”, explicou Hélcio. Mas as crianças recebem uma atenção especial, ganhando quitutes e brinquedos.

Outro costume do Chanucá é dividir as tarefas domésticas entre os anfitriões e visitantes, independente do gênero. “Evidentemente, as louças e limpezas são compartilhadas e aqui visita e homens não ficam inertes e agraciados com opressão das empregadas ou das mulheres. A liberdade iluminada insiste na igualdade de gênero e distribuição dos deveres domésticos”, disse.


(Ilustração)

Entenda a Chanucá

“A festa da inauguração (Chanucá) é comemorada em novembro ou dezembro durante um período de oito dias. A cada dia se acende uma vela, num candelabro de oito ramificações típico de Chanucá. Essa festa comemora uma grande vitória dos judeus ocorrida em 165 a. C., quando inauguraram novamente o Templo de Jerusalém, depois que os invasores sírios o haviam profanado e proibido o culto judaico. Essa festa vem adquirindo características semelhantes às do Natal cristão, com troca de presentes e muito atenção às crianças”, explica a obra “O livro das religiões”, de Jostein Garrder (mesmo autor do “O mundo de Sofia”), Victor Hellern e Henry Notaker.

Mas Hélcio complementa com o significado da celebração para os judeus. “O radical da palavra Chanucá é chinuch, que significa educação. Chanucá é um processo espiritual cumulativo e gradativo, através do qual as trinta e seis luzes, que são acesas neste período crescem em intensidade interior para se revelar cada vez mais a luz da criação nos homens e nas mulheres. Aqui as luzes geralmente usadas como metáfora para sabedoria. O símbolo universal para o entendimento do sagrado e paz iluminada”, explicou.

Ano após ano, na época de Chanucá, as luzes são acesas em todos os lares judaicos para celebrar os acontecimentos e vitórias sob as injustiças, o obscurantismo e violência. “Esta tradição ilumina não somente os caminhos de Israel, mas do mundo em busca da liberdade e luz espiritual, que nunca apagará por completo enquanto viver o humano”.

História do Chanucá

Chanucá é o momento em que festeja a liberdade religiosa como direito fundamental. Há cerca de 2.200 anos, Israel passava por período de dominação estrangeira. Os judeus habitavam aquela terra havia mais de 1.500 anos.

Acostumado com ocupação de outros povos, os judeus pagavam impostos à quem estava no poder e, em troca, poderiam praticar sua religião. Até que um rei selêucida (O Império Selêucida foi um Estado helenista que existiu após a morte de Alexandre, o Grande da Macedónia) decidiu helenizar toda a população de Israel, proibindo a prática do judaísmo e transformando o Templo de Jerusalém em local de adoração a deuses gregos.

Iniciou-se então uma revolta, liderada por um grupo conhecido como os Macabeus. Após três anos de luta contra o exército muito mais poderoso, Jerusalém foi libertada do domínio estrangeiro e o Templo voltou a ser o centro da vida judaica. Em Chanucá, comemora a vitória da fé contra a injustiça e da liberdade contra a opressão.
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