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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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O resgate de uma Cuiabá histórica pelo olhar afetivo de Walmir Leite marcam exposição

Foto: Marianna Marimon

O resgate de uma Cuiabá histórica pelo olhar afetivo de Walmir Leite marcam exposição
O sentimento é de nostalgia. Adentrar os salões onde estão expostos os quadros de Walmir Leite é deixar se apoderar de um sentido já existente, mas que não nos pertence. Poder apreciar suas obras é realmente voltar a um tempo que já se foi e não volta mais. A sensação é de que algo muito valioso se perdeu e recuperar mesmo que apenas em pinturas, demonstra a imensidade e importância deste árduo trabalho que é realizado há mais de 20 anos. A exposição “Um passeio revivendo Cuiabá” promete emocionar aqueles ligados a terra mais quente do Brasil.

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As pinturas feitas com espátulas e referências do academicismo remetem a um tempo que não existe mais. Porém, poder reviver este tempo que não nos pertence é se inserir na história e contar aquilo que não podemos viver. Walmir Leite retrata Cuiabá dos ‘tempos de outrora’, como gosta de dizer, e revela nuances de uma cidade esquecida entre as novas construções.

São quadros que trazem à tona uma Cuiabá que se perdeu. Com ares históricos, Walmir Leite narra as mudanças que acontecem por volta de 1800, e todas as pinturas trazem informações históricas que nos situam no tempo/espaço. A cidade que hoje se levanta em concreto, nas pinturas de Walmir se revela serena, espirituosa, e misteriosa.

A ponte secular do Córrego da Prainha construída no século 19 e demolida em 1968 quando foi realizada a canalização. A Usina Itaicy de Antônio Paes de Barros que tinha até moeda própria, a “Tarefa”. O Porto Geral de Cuiabá, por onde as monções chegaram ao Centro-Oeste do Brasil, o coração do país, vindas lá do Rio Tietê em São Paulo e aportavam às minas do Cuiabá no século 18.

O templo do prazer “Palácio das Águias”, o famoso prostíbulo construído em 1801 e demolido em 1960 para dar lugar ao que conhecemos hoje como Morro da Luz, mais especificamente, onde as pessoas pegam ônibus. Em contraponto, as igrejas da Boa Morte de 1864, a Catedral Senhor Bom Jesus de Cuiabá, que é a primeira igreja da cidade, ainda no período colonial.

A mais antiga praça de Cuiabá, a da República construída no século 18, e Walmyr retrata o primeiro Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da cidade, que era a tração animal, o ‘bondinho’ cuiabano cujos trilhos vieram direto da Inglaterra, em 1898, com vida curta tendo acabado em 1920, com a vinda dos carros. O atual Ganha Tempo edificado no século 18 já abrigou inúmeras funcionalidades, tendo sido a residência do Marquês de Aracati, Quartel de Milícias da Guarda Nacional, Tesouraria Provincial, Liceu Cuiabano, Departamento de Estatísticas, Departamento de Obras Públicas, Corpo de Bombeiros e Imprensa Oficial de Mato Grosso.

A “Reacção” de 1910 foi o jornal mais antigo de Cuiabá. Curioso também é observar os nomes dados à época para o que são hoje, as principais vias da cidade, como a Rua 15 de Novembro que era chamada de Rua Larga, a atual Pedro Celestino era a Rua de Cima, a Ricardo Franco era Rua do Meio, a Travessa da 21 de Abril era o Beco Torto e a Travessa da Alegria é atualmente a Voluntários da Pátria.



E Walmir Leite conta que sua pesquisa de pintura é baseada no trabalho de historiadores, e que as fotos em preto e branco, ganham cores, movimentos e vida nas mãos do artista, que narra uma história que também é sua, ao se lembrar dos tempos de infância nas ruas estreitas de Cuiabá, e ao viver nas estórias do sogro, o professor Benedito Figueiredo, que faleceu em maio aos 103 anos e foi um dos fundadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

“Elementos da minha infância também são retratados nas obras. Há 65 anos atrás, o vendedor de leite vinha à cavalo, o verdureiro trazia as frutas e verduras num carrinho de mão e o padeiro deixava o pão nos pregos das janelas, e nesta época, não havia ladrão”, relembra.

Quando da abertura da exposição, Walmir Leite conta que muitos se emocionaram, principalmente a ‘cuiabania’. “Me sinto bem em expor esta vida de Cuiabá, e há 20 anos passei a me dedicar a este registro da cidade, e poder vivenciar toda esta metamorfose que aconteceu desde a década de 60”, explica.

Sobre a nova identidade cultural e social de cidade que se transforma, Walmir defende a preservação e restauração do pouco que ainda resta de histórico em Cuiabá. “Esta antiga Cuiabá precisa ser restaurada e preservada, e esta é uma forma de resgate da cidade, que você realmente se transporta no tempo”, acrescenta.

Curadora da exposição, Marília Figueiredo Leite, ressalta que a arte de Walmir é uma arquitetura afetiva pictórica. “O Walmir reconstruiu a cidade que perdemos e nos traz outra dimensão e perspectiva, um olhar saudosista ao trazer de volta o Bar Colorido de Silva Freire e Rubens de Mendonça, entre tantos elementos já esquecidos e traz o questionamento: como pode se destruir quilo que se é?”, concluiu.

A exposição “Um passeio revivendo Cuiabá” de Walmir Leite pode ser apreciada por toda a população, até o dia 6 de dezembro, próxima sexta-feira, das 13h às 19h, no antigo Bemat na Avenida Getúlio Vargas. A entrada é gratuita.
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