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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Amigos prestam última homenagem a Jejé e relembram sua alegria, carisma e coragem

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Amigos prestam última homenagem a Jejé e relembram sua alegria, carisma e coragem
‘Minha vida era um palco iluminado / Eu vivia vestido de doirado’ poderia dizer Jejé de Oyá, caso fosse perguntado sobre sua história enquanto viveu. Hoje, na Capela Jardins, enquanto seu corpo era velado por amigos e pessoas significantes da cuiabania, eram os outros que lembravam de sua luz e seu carisma.

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Não se sabe ao certo com quantos anos José Jacinto Siqueira de Arruda faleceu, mas o que se percebe é que Jejé será eterno. Sua história e o legado que ele deixou para a capital mato-grossense eram os principais assuntos dos que foram prestar a última homenagem a ele. Leila Freire, esposa de Silva Freire, lembrou dos diversos anos em que a amizade entre sua família e o icônico colunista era firme:


O colunista social Carlinhos Corrêa e Leila Freire, esposa de Silva Freire

“Conheci o Jejé mais ou menos em 1962, ele trabalhava no Sesc na Cândido Mariano e a gente sempre participava das atividades lá”, lembra. “Ele foi a primeira pessoa que soube reagir àquela sociedade".

Leila conta que Jejé ficou por muito tempo sozinho na empreitada de ‘peitar’ a sociedade, pois foram muitos anos até aparecerem outros homossexuais assumidos na alta cuiabania. “E ele era querido por todos. É uma perda muito grande, mas ele também precisava descansar, já estava com a idade avançada. Fica a lembrança de um grande amigo”, lamentou.

Telma Couto, doutora em astronomia e sobrinha de May de Couto, também esteve presente par dar seu último adeus. De Jejé, ela se lembra da figura carnavalesca: “Ele era o rei do carnaval. Eu era criança e me lembro que nos carnavais de rua as pessoas gritavam ‘Lá vem Jejé!’, e ele aparecia. Era conhecido de muitas famílias, frequentava as festas da alta sociedade, sabia de tudo. Quando eu cresci e adquiri mais maturidade, percebi o quanto ele era corajoso... era negro, homossexual, pobre, tinha tudo para não crescer na vida naquela época, e mesmo assim ele não se deixou abater pelas dificuldades. Foi um grande guerreiro”, lembra.


Telma Couto

Para ela, a principal forma que Jejé encontrou de brigar com as adversidades foi o humor: “Ele era muito irônico, brincava muito, e ria de quem ria dele. Ele infelizmente morreu pobre, porque em vida trabalhou com dignidade e não com sede por dinheiro... Mas o legado que deixa para Cuiabá é a alegria e o recado de que se pode conseguir quebrar os obstáculos e sair por cima”.

Já o colunista social Carlinhos Corrêa, apadrinhado por Jejé nos anos 80, acredita que a principal característica era o poder: “As pessoas respeitavam porque ele tinha o quarto poder, que era a caneta na mão. Se alguém falasse alguma coisa dele, ele descontava no outro dia”. A coragem e, principalmente, a bondade do padrinho é o que vai ficar marcado para o afilhado. Os dois se conheceram nos anos 60, quando Carlinhos ainda era uma criança: “Ele ia à missa no São Gonçalo e eu lembro que ficava admirado com aquela figura, principalmente pela bondade. Ele sempre dava bala e chocolate para as crianças”, lembra.

Com o passar dos anos, Jejé enxergou um potencial no Carlinhos e o convidou para escrever com ele a coluna social do antigo Jornal do Estado de Mato Grosso. “Ele tinha um estilo próprio e eu também criei o meu”, afirma. O colunista ainda se lembra de todas as pessoas que Jejé lançou em sua coluna, das dicas de boas maneiras que oferecia, além dos comentários apimentados. Sua partida, para Carlinhos, não deve ser lamentada: “Nós que somos cristãos temos que estar preparados”, limita-se a dizer.

Diversos outros amigos se lembram de Jejé pela alegria, carisma e alto astral. Colegas de trabalho como Maria Carmen e Carlos Roberto de Arruda conversavam sobre as noites no bar internacional e no Choppão, e entre sorrisos recordavam a boa companhia que era o amigo. “Ele era um ícone mesmo. Vir a Cuiabá e não conhecer Jejé era como ir a Roma e não conhecer o Papa”, afirmou Maria.

E nada mais justo, o ‘rei do carnaval’ será homenageado neste ano pelo bloco chapadense ‘Quem é ele, quem é ela’. Carlos Estevão, presidente do bloco, afirmou que desde o primeiro desfile, em 2015, a ideia já era ter Jejé como tema. “Porque ele era uma pessoa que não fazia distinção entre ninguém, era amigo de todo mundo. Estamos procurando ajuda e patrocínio, mas o bloco vai sair, nem que seja somente uma faixinha”, garantiu.


Carlos Estevão

Carlos e Jejé se conheceram quando o carnavalesco veio de Poxoréo para vender brilhantes na capital: “Como ele conhecia muita gente da sociedade, me ajudava indicando, falando para as pessoas que eu era de confiança”. Com lágrimas nos olhos, o amigo de longa data assegura que a homenagem no carnaval será uma forma de agradecimento.

O corpo de Jejé será enterrado às 17h no Cemitério da Piedade. O icônico colunista faleceu na última segunda-feira (11) em decorrência de uma parada respiratória.
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