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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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após reclamações

Bares da Praça da Mandioca são proibidos de colocar mesas na rua e movimento cai 70%

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Mario Cesar, proprietário do 'Azambuja Bar'

Mario Cesar, proprietário do 'Azambuja Bar'

Quem passou pela Praça da Mandioca na última semana pode perceber que ela está diferente. Sem mesas ou cadeiras nas calçadas, o movimento caiu drasticamente (pelo menos na parte de cima). No último dia 27 de dezembro, terça-feira, pouco depois do natal, o Ministério Público Estadual passou uma orientação para a Prefeitura de Cuiabá que, já no fim da gestão Mauro Mendes, notificou todos os estabelecimentos da ‘Lapa Cuiabana’.

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Para Mário César, proprietário há dez anos do ‘Azambuja Bar’, o que fica bem em frente à Praça, a notificação tentou atingir algumas pessoas, mas acertou outras. “Não vou dizer que não tem baderna. Tem. Mas é ali pra baixo. Nos bares aqui de cima só vem o pessoal tradicional, nunca teve briga, nada. Lá pra baixo que ficam os jovens, que badernam, urinam na porta dos moradores”, reclamou.

“Lá embaixo”, onde Mário Cesar se refere, é a Rua Ricardo Franco. Ali estão estabelecimentos que abriram recentemente, frequentados por pessoas mais jovens, aos finais de semana e mais tarde do que o que costumam abrir os bares de cima. “Eu abro às 17h e fico até meia noite, uma e meia da manhã no máximo. Aí o pessoal lá de baixo abre às dez e vai noite afora”, comenta o proprietário do Azambuja.

Segundo Mário, seu movimento caiu 70% após a proibição de colocar suas mesas na Praça. “E eles, que são os que fazem a baderna, não foram prejudicados porque o povo lá fica de pé. O meu público é mais velho, não tem como não ficar sentado”, lamenta.


Elzio Pacheco, comerciante (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto) 

A reclamação é a mesma de Elzio Pacheco. O empresário abriu seu bar, "Cantinho da Mandioca Espeto Pub" há apenas cinco meses, mas é morador da Praça há 63 anos. “Não tem como falar que diminuiu o movimento. Acabou. Noventa e nove por cento das pessoas não querem ficar na área interna do bar, e sim na rua”, lamenta.

Segundo Pacheco, a notificação veio depois que um dos moradores da Rua Pedro Celestino (onde está seu bar), que tem uma construção na Ricardo Franco (rua “de baixo”) não conseguiu passar de carro e ficou irritado. “Ele disse que juntou vinte e nove assinaturas pedindo pra tirar as mesas e liberar a rua”, lembra.

“Nós estamos conversando com o Major, com a Associação de Moradores, mas todos estão falando que vai ser muito difícil reverter a situação. Eu disse pra ele, se ele tem 29 assinaturas, tenho certeza que eu consigo muito mais dos clientes pedindo para voltar a ter mesas”, afirma. Pacheco também concorda que a parte de baixo é a mais prejudicial. “Tinha que ter uma união entre os comerciantes de cima e de baixo, mas eles [os de baixo] falam que não fazem parte da Mandioca, que fazem parte do Beco, que são independentes”, lamenta.

Leoni Magalhães é morador da parte de baixo há três anos. Aos setenta e dois, o ex-policial afirma que o abaixo-assinado foi bem vindo. “Tinha muita prostituição, drogas e anarquia. Tem que pelo menos regulamentar isso”, afirmou. O morador confirma que a reclamação partiu de um dos moradores do local, com quem ele compactua o pensamento.


Leoni Magalhães, morador (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

“Eu só vou dizer uma coisa pra você. Você gostaria de abrir a sua janela duas da manhã e ver homem beijando homem, e mulher beijando mulher? Só isso, não preciso dizer mais nada”, lamentou. Para Magalhães, o barulho também é um dos fatores que mais incomoda. “Veio aquela Roberta Sá, e outros, e colocaram o palco bem aqui na porta do meu quarto. Quem aguenta isso?”.

Leonardo Figueiredo, o ‘Bigode’, é um dos comerciantes da rua de baixo. Segundo ele, a notificação foi para todo mundo. “Como todo mundo colocava mesa, acabávamos colocando também, a pedido dos clientes. Mas não trabalhávamos com garçons nas mesas, como fazem os outros estabelecimentos”.

O empresário acredita que, apesar de não trabalhar da mesma forma que os outros – o Bigode tem música ao vivo dentro do estabelecimento – a notificação pode prejudicar a todos. “É ruim para o movimento geral da Praça e pode, se mantida a longo prazo, desmotivar as pessoas de visitarem o local”, lamentou.

Além da diminuição do movimento, a proibição de mesas fez com que não acontecesse, também, o tradicional réveillon dos moradores. “A gente sempre faz a virada de ano na Praça para os moradores, mas esse ano eu fiquei na Prefeitura a tarde toda e não consegui liberação. Eles deixaram fazer a festa, mas sem mesa e cadeira. Como a gente ia cear sem mesa? Ainda mais os moradores daqui, que são quase todos da terceira idade?”, contou Luiz Carlos Dorileo, morador e proprietário do Bar Don Luiz, aberto há oito anos no local. Para ele, o movimento também caiu 60% depois da notificação.


Luiz, proprietário do bar Don Luiz (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Diante de tantas opiniões que se contradizem, o que quase todos buscam é o diálogo. Para Maurides de Sá Costa, cuiabano tradicional, professor e que passou a infância na Mandioca, a palavra chave é a regulamentação. “Tem que regulamentar, estipular um horário. Tem gente que prefere que a Praça não seja habitada, mas eu não concordo. Se não for habitada, a região morre”, finalizou.


Praça da Mandioca (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Outro lado

A Prefeitura de Cuiabá foi procurada e, via assessoria, informou que este foi um dos últimos atos da Secretaria de Ordem Pública da gestão passada, e ainda não existe nenhuma sinalização do atual prefeito, Emanuel Pinheiro (PMDB) sobre o que será feito no espaço.

“Isso vai ser estudado, afinal de contas estão tomando pé da situação agora. A equipe de transição preparou, só que muitos secretários, como é o caso do Salles [Secretaria de Ordem Pública] ainda estão tomando pé da situação, e isso deve ser discutido e decidido não só pela pasta dele, mas pela cultura, de serviços e limpeza urbana, etc”.
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