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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Cadeirante que sonha em se tornar um atleta paralímpico vai conduzir a Tocha em Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Cadeirante que sonha em se tornar um atleta paralímpico vai conduzir a Tocha em Cuiabá
Na próxima quinta-feira (23), exatamente às 13h54, o cuiabano Fernando Bezerra inicia seu caminho em busca de seu maior sonho: ser um atleta paralímíco. Neste horário, ele pega em suas mãos a Tocha Olímpica depois de ter organizado um verdadeiro mutirão para ser um dos indicados.

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Fernando é cuiabano, tem 17 anos, e nasceu com espinha bífida, uma malformação congênita caracterizada pelo fechamento de um tubo neural, ou seja, algumas vértebras não são totalmente fechadas. Ele nunca conseguiu mexer as pernas e chegou a correr risco de morte pela gravidade do problema. Durante toda sua vida já fez 25 cirurgias, mas nunca ficou parado.

“Eu sou uma pessoa elétrica, não consigo ficar parado. Mesmo depois da cirurgia, quando precisava ficar de repouso, não consegui”, contou Fernando em uma entrevista ao Olhar Conceito. Essa vontade de se mexer, segundo seu pai, Nilson Bezerra, foi o que sempre o levou a praticar atividades físicas.

A atividade, para ele, sempre foi uma forma de recreação, interação, de se divertir e uma válvula de escape. Fernando chegou até mesmo a jogar basquete durante algum tempo, mas parou, e agora quer pensar de forma prática para se tornar de fato atleta.

“Aqui em Cuiabá não tem time de basquete para cadeirantes. Na verdade não tem nenhum time de nenhum esporte, então não existe perspectiva de crescer na área. Por isso, estamos pensando em investir em esportes individuais, que seria mais fácil de treinar e de levá-lo para competições”, explica o pai.

Para se inspirar e escolher o melhor caminho, Fernando vai viajar para o Rio de Janeiro durante as paraolimpíadas, assistir aos jogos e decidir qual esporte tem mais a ver com ele. No entanto, o caminho até lá não é tão simples.

Venda de camisetas

Na última quinta-feira (16), quando receberam a notícia de que Fernando seria um dos condutores da Tocha, a família decidiu fazer um mutirão para arrecadar dinheiro para comprá-la (a tocha custa U$S600).

“Eu fiz isso também para ensinar valores ao meu filho. Ao invés de simplesmente comprar pra ele, ensiná-lo a ir atrás do que quer, a fazer negócio, conhecer pessoas”, explica Nilson. Em dois dias, somente via WhatsApp, eles venderam 150 camisetas, que devem ser usadas pelos amigos que vão assistir a condução.

O que ‘sobrou’ da compra da Tocha será depositado na conta de Fernando, para que ele compre os ingressos das Paraolimpíadas. Segundo Nilson, este foi um dos pedidos do filho no ano passado. “Ele veio e me pediu, pai, quero carregar a Tocha e assistir as paraolimpíadas. Pensei que ir aos jogos seria mais fácil, mas quando entrei nos sites as passagens estavam caríssimas, e os hotéis todos lotados”, conta. Hoje, meses depois, os preços já abaixaram, e ele conseguiu comprar parte da viagem.

Condução

O segundo pedido de Fernando, para carregar a tocha, era um pouco mais difícil de alcançar do que o primeiro. Nilson explica que os condutores foram escolhidos em três categorias: ou pelos patrocinadores (Bradesco, Nissan e Coca Cola), ou eram indicados pelo Comitê Olímpico (no caso, pessoas importantes do esporte ou da cultura) e outros selecionados por meio de indicação no site oficial.

Fernando foi indicado por um amigo, e depois disso mais de duzentas pessoas reforçavam a indicação. Sua história teve mais de mil curtidas na página oficial. “Uma pessoa tinha que entrar no site, indicar alguém e contar a história dessa pessoa. Depois, o indicado ia lá e completava a história. Os mais votados eram selecionados para carregar”, explica Nilson.

Para eles, a condução significa apenas o começo, mas vai marcar a vida de Fernando. “Eu vi gente vendendo a tocha por até R$120 mil. Mas eu não venderia por nenhum dinheiro do mundo”, conta. “Faz parte da história dele. Depois da condução, vamos levar para o TRE [onde Nilson trabalha], para o Colégio São Gonçalo [onde Fernando estuda], e depois disso queremos colocar num quadro. Pra lembrar pra sempre, mostrar pros filhos e netos dele”, finaliza o pai.

A Tocha Olímpica chega a Várzea Grande e Cuiabá na próxima quinta-feira (23) e será conduzida por 140 pessoas. Saindo da região metropolitana, segue para o interior e passa por regiões turísticas como Bom Jardim (Nobres), Pantanal e Chapada dos Guimarães.
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