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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Com 57 anos de profissão, artesão divide tempo entre sessões de hemodiálise e técnicas de marchetaria e entalhe

Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito

Com 57 anos de profissão, artesão divide tempo entre sessões de hemodiálise e técnicas de marchetaria e entalhe
Os desenhos nos móveis podem enganar a um observador desatento. O que à primeira vista parece pintura revela-se ‘machetaria’ após uma conversa com o artesão responsável. A técnica, que utiliza pedacinhos de madeiras coloridas – e que depois de coladas, lixadas e envernizadas parecem que sempre fizeram parte da madeira original – foi aprendida sem professor. Edimar Pinto Rodrigues é autodidata, e sempre foi assim.


Quadro feito em machetaria (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)

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Começou a trabalhar com madeiro aos onze anos de idade. Seu pai era carpinteiro, mas o primeiro emprego não foi em família: “Naquela época a gente tinha que se virar, comprar sapato, roupa. E eu então cheguei em uma marcenaria, perguntei se eles estavam precisando de marceneiro, olha a pretensão! Aí o dono disse que sim. Fui aprendendo olhando os outros fazerem”, conta Edimar. No primeiro emprego, ficou um ano, e depois foi passando de marcenaria em marcenaria em Goiânia, sua cidade natal.

Depois de passar três anos servindo ao exército, o artesão, já com vinte anos de idade, voltou para trabalhar com um alemão que o ensinou a fazer torno: “Ele me colocou na máquina e me mandou olhar o que o outro estava fazendo e copiar. Foi assim que aprendi. Ninguém pegava na sua mão pra ensinar como fazia não. Naquela época quem quisesse aprender tinha até que pagar pra isso”. Depois de dois anos ali, Edimar tentou seguir outros caminhos e profissões, mas em cinco anos estava de volta às madeiras, desta vez em condições melhores.


Mesa feita com machetaria (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)


“Montei minha própria marcenaria, e depois trabalhei na JL móveis em Goiânia, como designer e fornecedor”, conta. No tempo de vacas gordas, mudou-se para Cuiabá mas um imprevisto o fez perder o que tinha conquistado até o momento. Voltou para a cidade natal para reconstruir sua vida, mas o coração já era cuiabano. De volta à capital mato-grossense, alugou um galpão: “Trabalhei durante cinco anos dia e noite, comecei a juntar dinheiro e comprei um terreno, onde estou até hoje”. Há oito anos, Edimar começou a estudar a técnica de machetaria: “A madeira é recortada e encaixada”, explica. É difícil para um leigo entender como aquilo fica tão lisinho.

Há quatro anos, os rins de Edimar decidiram que não queriam mais trabalhar. Os recados vieram por meio da visão – não enxergava nada além de luzes – e do cansaço. Uma corrida ao médico e o artesão estaria fadado a trocar seu sangue três vezes por semana, para o resto da vida. As marcas da hemodiálise estão cobertas pela manga da camisa, e a veia treme com o fluxo acelerado de sangue, mas Edimar não lamenta: “Minha vida não mudou nada, só que agora de segunda, quarta e sexta só posso trabalhar no período da tarde. Eu falo que vou pra lá para descansar”.


Edimar e criado-mudo restaurado; desenho em machetaria (Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito)

E para não deixar nem o corpo nem a mente parados, o artesão, além de continuar produzindo e restaurando todos os tipos de móveis e quadros, também dá aulas a quem estiver interessado em aprender técnicas de machetaria e entalhe. Atualmente, ele trabalha apenas com a ajuda de freelancers: “Eu tinha uns funcionários, mas depois que eles aprendem, vão embora”.

O trabalho de Edimar pode ser conferido na Via Ravenna, Rua Pacaembu, 161, bairro Praeirinho. Mais informações sobre orçamentos ou sobre os cursos pelo email edimar-viaravenna@hotmail.com ou pelo telefone (65) 9285-0772.
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