São 14 discos, 25 hits, 01 autobiografia, 01 marca de cerveja em 30 anos de carreira. Você pode não conhecer Eduardo Smith de Vasconcelos Matarazzo Suplicy, mas certamente sabe quem é “Supla”, “Papito” ou o “Charada Brasileiro”. Filho da ex-ministra Marta Suplicy (PMDB) e do ex-senador Eduardo Suplicy (PT), o bom maluco completa 50 anos de experiências como cantor, compositor, ator, instrumentista, apresentador de televisão, empresário, além de produtor, ativista político e entregador de pizza nos EUA. Uffa! Em meio a isso tudo, ainda deu tempo de visitar Olhar Direto e bater um papo conosco. Ele dispara sobre diversos temas: aborto, igreja, maconha, política e o cenário rock de Cuiabá, em um papo sem papas, além de lançar suas recentes produções. 

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“Mamãe está meio brava comigo que eu falei que ela era golpista”, ri Supla enquanto entrava na sala de entrevistas. Descontraído, vestindo elegante blusa verde com estampas de Cannabis sativa (a popular maconha), calças pretas importadas do Japão (como fez questão de salientar) e meias verdes, Supla cumprimentou antes toda a redação de Olhar Direto. Questionado sobre Marta Suplicy, já de cara, não nega que a ida para o partido de Michel Temer (PMDB) tenha estremecido as relações com o filho.

“She´s very angry right know (ela está bem brava agora). Falei ‘mãe, eu não faço parte do PMDB’. Eu tenho respeito pela minha mãe, por tudo o que ela fez, mas acho que ela entrou em uma viagem errada hoje em dia. Já meu pai eu acho fantástico, apesar dele ser um pouco autopromoção demais”, adianta.

What?!

Pausa: para o leitor não acostumado ao modo de expressar do cantor, adianto: ele inclui inúmeras expressões americanas ao longo de sua fala, you know?. Questionado se tratar de um recurso estilístico, em diversas entrevistas nos jornais, nega, preferindo atribuir as expressões aos mais de 07 anos que viveu nos Estados Unidos.

Visita à Cuiabá:

O cantor fez sua segunda apresentação neste ano em Cuiabá, na casa de shows Malcom, a convite do produtor cultural Marcelo Rocha, novo colunista de Olhar Conceito. Supla não veio de mãos vazias e trouxe seus recentes lançamentos: sua autobiografia “Supla: crônicas e fotos do Charada Brasileiro" e seu último CD, “Diga o que você pensa”.

Tópicos e Disparos:

Percebi que Supla não disfarça em demonstrar quais assuntos mais lhe interessam, ignorando absolutamente os que não despertam sua atenção, desse modo decidi separar em tópicos várias de suas falas, sem muito bla bla bla, deixando a matéria com a sua cara (seja ela bonita ou não, rs). Ao longo dos assuntos, inserimos clipes de seu mais recente disco, além de outros sucessos da banda Brothers of Brazil, que formou com seu irmão, João Suplicy. Sem mais delongas, suba o som, respire fundo e enjoy it, folks! 
 

Livro e CD:

“Esse livro é quase uma revista, foi muito fácil escrever, com umas fotos, conta toda história, da para entender de onde eu venho, o que eu sou e como penso”, conta o cantor, que adianta o próximo tópico.

“Estou também divulgando o disco que saiu no início deste ano. Falo das coisas de hoje em dia. Tem muita coisa, é muito interessante. Toco em todos os assuntos. As pessoas têm um pouco de medo de falar o que pensam, enquanto outras passam dos limites e perdem a educação. O saudável é todos pensarem diferente, isso é política, ter a educação de não se colocar numa posição soberana e saber escutar o que o outro está falando”. 

 

Maconha:

“Eu fumo maconha, sou a favor da legalização, acho um absurdo estar cheio de gente por aí bebendo cachaça e se matando. Eu penso assim: se eu tivesse filho eu queria ter uma conversa muito aberta e franca sobre tudo com ele. Uísque faz mal, maconha faz mal, muito refrigerante também faz mal, se você for um esportista, não vai poder fumar maconha, nem beber, nem comer esse tipo de comida. Você tem que ser criado para ser uma pessoa que saiba viver em sociedade, não um completo idiota que siga um cego qualquer. É assim que eu penso. Se pensarmos em droga, desde os primórdios as pessoas se drogam. É por algum motivo, não é? Deve ser. O ser humano tem isso, desde os romanos, dos vikings. Devemos saber os limites, entretanto. O que eu não gosto é de hipocrisia”.

“O importante é que a maconha é como se fosse um remédio. Veja a esclerose múltipla. Pessoas sofrem com essa doença e não conseguem tratamento. Mas agora será liberado nas drogarias do Brasil”. 

Aborto e Igreja (aviso: conteúdo explícito):  

"Eu não tenho filhos. Iria ter com uma moça com quem me relacionava, mas...graças a Deus ela perdeu. Não estava pronto para ser pai e creio que não terei filhos". 

"Acho engraçado essas coisas de 'ah, não pode namorar'... mas o que falam quando eu era menino e um padre tentou pegar no meu p***? Eu não tenho religião, mas acredito que exista, sim, algo superior que não pode ser explicado".  

 

Internet:

“Outra música desse disco é a ‘Fanáticos Virtuais’ (do vídeo acima). Estava até conversando... seu site (Olhar Direto) é fantástico, pois várias pessoas podem acessar e vários movimentos começaram na internet, como o Occupy Wall Street, em Nova York e em Londres. Movimentos de direita e esquerda, não importa. As pessoas conseguem se comunicar pela internet. Outra coisa que pega são os youtubers, eu respeito eles, eles trabalham 24h falando lá, é uma forma também, eu só não sigo. Eu tentei, mas pensei: ‘eu, me inspirar em suas opiniões? Estão muito fracas suas opiniões’. 

"Estava até falando para minha sobrinha de 13, 14 anos e vi o que ela estava assistindo, falei ‘suas ideias são mais legais que a desses caras, faz seu próprio canal, porra”.

América Latina:

“Depois de eu ter conhecido uma minha amiga boliviana, passei a dar muito mais valor a América Latina. Brasileiro não dá valor para a América Latina e eu me culpo, nós somos muito americanizados. Aprendi muito com ela e estou melhorando. Essa musica diz um pouco disto, desse fascínio que temos pela juventude americana que nunca vai morrer, Jim Morrison, Janis Joplin, we still hypnotized, you know! (ainda estamos hipnotizados) por essas coisas”.
 

Donald Trump:

“Espero que ele não faça as coisas que andou prometendo. Eu tive coragem de fazer essa musica quando ninguém estava. Eu mandei essa musica para o pessoal do Chilli Peppers (Red Hot Chilli Pepers) e falei ‘vocês precisam de um brasileiro para falar do Donald Trump? Vocês não vão fazer nada? E então eles começaram a criticar no Facebook. Eu estava nos EUA em outubro do ano passado do Donald Trump e ele disse ‘eu posso estar na 5ª avenida, dar um tiro numa pessoa e as pessoas que votam em mim vão continuar a votar. Que tipo de mensagem é essa? Você dar um tiro numa pessoa? He is not qualified for the job. (Ele não é qualificado para o trabalho). Ele é só um puta marketeiro”.

Cenário musical de Cuiabá / Vanguart: 

Supla admite ainda não conhecer muita coisa sobre o cenário musical de Cuiabá, mas se lembra de Vanguart. “Vanguart é uma ótima banda, mas que está perdida. Eles sumiram. O Flanders foi ‘flanderar’ por aí, quis fazer carreira solo. Você precisa dar os passos corretos. A carreira não é só tocar musica, infelizmente. Ele tem talento, gosto dele, já troquei ideia com ele, mas de repente anunciou disco solo. Quando começa a fazer essas coisas, disco solo, bla bla bla ...Mas tem muita banda nova tocando por aí...”

Diferencial deste disco / Machismo:

“Esse disco tem uma concepção, eu estou questionando nas letras, meus discos sempre tiveram, é verdade, mas neste, quando terminou tudo, pensei ‘nossa, tem uma concepção legal isso aqui’. Faltou apenas uma música chamada ‘machistas criacionistas’, então ainda vou lançar ela, pois estamos sempre fazendo atos machistas e a gente nem percebe. A música acabou nem entrando, vacilei, ela completaria”.
 

Eduardo Suplicy:

“O trabalho do político não é estar com as pessoas? Não é andar cheio de seguranças, é andar com o povo, pegar ônibus, metrô, não ficar só no escritório, lá você não vai ficar sabendo o que tá acontecendo. Político tem que estar junto com as pessoas e é o que ele faz, por isso ele tem o respeito. É simples. Enquanto os caras estão aí roubando milhões e fazendo drama, tipo o Garotinho”.

Eduardo Cunha:

“Pegaram o Eduardo verdadeiro”, ri o cantor, se referindo a prisão de Eduardo Cunha (deputado do PMDB, réu na Lava Jato). (O cantor brinca fazendo referência à prisão de seu pai, o ex-senador Suplicy, que foi preso este ano em uma manifestação em São Paulo. Entrevistado sobre o fato, o cantor Supla criticou: "Prenderam o Eduardo errado!"). 

(Na ocasião) entendo que a PM estava seguindo ordens e o pessoal estava em um local não apropriado, mas se ele não tivesse estado lá, o pessoal iria apanhar, ele estava lá e ninguém apanhou. Já estavam começando a bater e jogar bomba, ele foi lá, conseguiu apaziguar, foi preso, mas valeu a pena, ninguém apanhou. É isso que o político tem que fazer”. 

 

Imagem de Celebridade / Casa dos Artistas:

“Foi muito boa a televisão para mim, como a ‘Casa Dos Artistas’. Vendi um milhão de discos, não posso falar mal. Mas muita gente prefere tentar me colocar como celebridade, mas quando veem o show pensam ‘opa, o buraco é bem mais embaixo aqui’. (Imagem de celebridade) para mim é vazio, é uma coisa meio Big Brother. Tem gente que acha que eu venho do ‘Piores Clipes’ ou da ‘Casa dos Artistas’, eu sou muito antes disso. Vim da musica, vivi longe do Brasil por sete anos, vivendo de musica, no lugar onde realmente queria estar, no rock n´ roll. Eu poderia ter sido um galãzinho de novela, mas larguei tudo. Pouca gente teria coragem de abandonar isso e virar mister Jo Pizza (entregador de pizza), como eu fiz”.

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