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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Depois de passar por 9 cirurgias e perder 45cm do intestino, mulher de MT cria grupo de apoio sobre endometriose

Foto: Arquivo Pessoal

Nilzete, hoje mãe, ajuda outras mulheres com endometriose

Nilzete, hoje mãe, ajuda outras mulheres com endometriose

Os quase vinte anos de luta contra a endometriose fizeram com que Nilzete Spinelli Orlato, hoje com 36 anos, aprendesse a lidar com a doença. Mas depois de nove cirurgias, várias com risco de morte, depressão pós-parto e a retirada de 45 centímetros de seu intestino, ela sabe que não é fácil. Exatamente por este motivo, a rondonopolitana criou a Fan Page “Endometriose entre amigas”.

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“A ideia era transformar a minha endometriose em uma amiga. Eu não estava entendendo porque ela estava tão descontrolada e me fazia tanto mal”, conta Nilzete. Para isso, a advogada foi estudar biologia e entender sua doença, sempre com o objetivo de ser um exemplo de garra para outras mulheres que passassem pela mesma situação. Hoje, o grupo tem quase seis mil integrantes, e já existe também um grupo no WhatsApp, com 109 mulheres que, diariamente, trocam informações.

Nilzete soube da doença aos dezoito anos de idade. Na época, seu ovário esquerdo estourou, assim como a tuba uterina esquerda e ela teve hemorragia interna. “Na cirurgia os médicos viram meu intestino rompido, e retiraram 15 cm do intestino, o ovário esquerdo e a tuba uterina esquerda”, lembra.

Na época, o médico alertou que ela não poderia ter filhos. A revelação foi um baque, e Nilzete chegou até mesmo a pensar em suicídio. “O médico disse que eu iria sofrer. Minha doença era crônica, e eu viveria por milagre de Deus, pois teria que fazer cirurgias contínuas para descolar os órgãos que iam aderindo uns aos outros, até eu não aguentar e morrer. Eu entrei em desespero e fiquei depressiva, só chorava, meu peso foi para 49 kg, não comia, não tinha ânimo para nada”.

Aos vinte anos, veio a segunda cirurgia, e aos 25, ela descobriu que estava grávida de quatro meses, mesmo menstruando normalmente. “Eu não era casada, namorava com um rapaz que hoje é meu marido, mas sofri um monte. Essa é uma história bastante delicada, minha vida com a gravidez e um relacionamento com o pai da minha filha. Veio outra luta! Tive diversas emoções e frustrações, não sabia se ficava feliz por estar carregando dentro do meu ventre uma criança. Eu sonhava em ser mãe e pensava que jamais poderia conseguir”.


Nilzete grávida (Foto: Arquivo Pessoal)

A gravidez foi complicada, e a criança também nasceu com limitações, como refluxo e intolerância à lactose. Nilzete teve depressão pós-parto. A vontade de acabar com a própria vida voltou. “Suportei traição, humilhação, indiferença, bullying na faculdade (...). Foi juntando tantas coisas em minha cabeça, em meu coração, que eu não sabia distinguir o certo do errado”.

Para completar o sofrimento, ela teve mais uma crise de endometriose logo após o nascimento da filha, e passou por mais uma cirurgia. O processo se repetiu quando a menina tinha cinco e sete anos de idade, este último, muito grave. “Havia estourado o ovário direito e a tuba uterina direita, o apêndice estourou, supurou, e 15 cm do intestino foram junto, e a bexiga quase rompeu também. Entrei no centro cirúrgico às 15 horas e sai as 20h30”.

A luta não acabou. Neste ano, Nilzete descobriu que a endometriose e o endometrioma aderiram outros órgãos, como útero, intestino, baço, pâncreas e o diafragma do pulmão. Além dos medicamentos que toma regularmente, ela também mudou a alimentação, cortando carne vermelha, peito de frango, repolho, não glúten, açúcar branco, dentre outros.


Nilzete e sua filha (Foto: Arquivo Pessoal)

Todas as limitações, no entanto, não abalaram a mato-grossense. Exatamente por isso, ela decidiu criar o grupo, e lá conheceu diversas outras histórias como a dela. Hoje, fazem parte do ‘Endometriose entre amigas’ pessoas dos Estados Unidos, Portugual, Espanha, além de todo o Brasil. Para ajudar a orientar essas mulheres, Nilzete chegou, inclusive, a fazer doutorado em Psicologia Social. “Seria um egoísmo não compartilhar as informações que sei sendo portadora de endometriose. Aprendi com elas que a minha dor e meu sofrimento é mínimo pelo carinho que sinto por cada uma”.

Em cinco anos de grupo, muitas histórias chamaram sua atenção. Uma, em especial, foi de uma colega que queria se matar e lhe pediu ajuda. “[Ela] me ligou chorando, e de tantas dores estava pensando em suicídio, por não ser compreendida no serviço, com o marido, os filhos, e irmãos, pais. Ela tinha 54 anos e descobriu a endometriose no início da menopausa, olha o sofrimento desta mulher. Conversei com ela por quatro horas, e fui conversando e acalmando essa amiga. (...) Conversei com o marido e a mãe por telefone, expliquei que ela precisava de compreensão e carinho, que nós portadoras de endometriose temos alterações de humor frequentes”, conta.



Quem quiser conhecer o grupo, pode procurar pelo nome “Endometriose entre amigas” no Facebook. Segundo Nilzete, a ideia é essa mesmo: passar força umas para as outras. “Desistir não é o lema. Carrego um lema muito grande, e quero compartilhar com vocês: Tenham fé e não temam mal algum”, finaliza.
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