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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Bonito por natureza

Em momento breve de exuberância, florada de Ipês alivia monotonia do concreto e alimenta contrastes entre cidade e cerrado

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Em meio a vegetação seca, Ipê chama a atenção de pedestre na Avenida do CPA.

Em meio a vegetação seca, Ipê chama a atenção de pedestre na Avenida do CPA.

Sob a poeira do inverno no cerrado, galhos nus, folhas secas e troncos retorcidos resguardam em si a beleza da renovação, do tempo e da paciência. Incansáveis, esperam pela chuva para poder novamente chegar ao seu vigor. O cenário, ao contrário que do que possa soar, se mostra exuberante e emoldura em verdes pálidos a florada do Ipê, árvore símbolo da região. Em Cuiabá, o colorido das flores que tomam os galhos e se espalham pelo chão nos arredores da planta, dá seqüência a um conjunto de contrates, lançando sobre a monotonia do cinza esfumaçado e urbano , vibrações em roxo, branco, lilás e amarelo.

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O alívio estético da floração ameniza a dureza do cotidiano concreto , ao desviar, mesmo que brevemente, o olhar pouco interessado de quem segue rumo à obrigação. Assim, por onde brotam, não passam impunes nem mesmo os mais apressados. “Que bonita essa árvore. É Ipê né?”, indaga ao colega uma passageira de ônibus, ao descer do coletivo e dar de cara com a planta. Em poucos segundos, confirmam, acendem seus cigarros e seguem cruzando entre os carros da movimentada Avenida do CPA.

Na mesma região, no entorno do Parque Estadual Massairo Okamura, as flores aparecem como iscas, fisgando a atenção de quem passa a pé, de carro ou ônibus. Ali, um casal de idosos aproveita a caminhada diária para admirar o fenômeno, que ocorre apenas uma vez por ano. Sem sair do ritmo, deixam que o pescoço faça curva em direção às árvores enquanto destacam a mudança no cenário e lamentam a brevidade da situação. “Achamos lindo. É bom porque muda a vista um pouco, mas só que é muito rápido.”

O privilégio, no entanto, não pertence apenas a este trecho e se repete, felizmente, por outros pontos da Capital, como nas redondezas do Palácio Paiaguás, nas avenidas Fernando Correa e Lava Pés. Dentro dos bairros, normalmente nas residências, a grandeza da planta vence os muros e presenteia a rua com uma chuva de flores. Versátil, a árvore que encontra condições perfeitas no cerrado, também tolera alagamentos, sendo recorrente no Pantanal e na cabeceira do rio Cuiabá, onde estão em plena floração.

É neste período de estiagem, baixa umidade e temperaturas mais amenas, iniciado em julho, que o Ipê canaliza água, deixando cair todas as suas folhas para, em seguida aproveitar a insolação e florescer. De acordo a professora de Botânica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Anajde Lemes do Prado, o fenômeno começa aproximadamente 30 dias após a primeira chuva do período e pode durar por até duas semanas entre a primeira e a última florada. No entanto, considerando cada árvore individualmente, a presença de flores não dura mais que uma semana.

Poética em uma primeira análise, a floração tem papel que vai muito além do embelezamento e da apreciação, sendo fundamental para a manutenção de ecossistemas e na perpetuação da espécie. Ela é responsável por atrair (para além dos olhares), pássaros como o tico-tico rei e beija-flor, e insetos como as abelhas, que se alimentam do néctar e promovem a polinização da planta. Embora só esteja fértil durante o dia, a noite o Ipê também atraí morcegos que, assim como os outros bichos, vão em busca de açúcar e água, além de concentrar microorganismos importantes para o equilíbrio natural.

Hermafrodita, a planta busca por água a profundidades de até 20 metros, florescendo usualmente entre os meses de agosto e setembro e frutificando nos meses de outubro e novembro. A professora ainda chama a atenção para a sincronia entre fauna e flora e destaca a importância da planta também para a concentração de gás carbônico. “Além da beleza intensa ele ajuda o meio ambiente, facilitando o ciclo da água, promovendo sua evaporação e conseqüentemente a formação de nuvens de chuva”, afirma a professora.

Ainda segundo Anajde, o Ipê é de fácil trato e se adapta também a outros ambientes e temperaturas, podendo ocorrer, por quase todo território nacional. Para os que almejam tê-la em casa, sua recomendação é de que sejam plantadas a uma profundidade considerável, de pelo menos dois metros, uma vez que suas extensas e fortes raízes podem causar rachaduras em paredes e calçadas. Em cultivo, a árvore pode iniciar o processo reprodutivo após o terceiro ano de vida.

Compartilhe com o Olhar Direto imagens de Ipês pela cidade e acompanhe a florada na região por meio das próximas matérias. As fotos podem ser enviadas para e-mail conceito@olhardireto.com.br, ou pelo aplicativo do OlharDireto.
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