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Domingo, 28 de abril de 2024

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Em passagem por Mato Grosso, Lenine lança campanha contra o trabalho escravo e apóia documentário que trata do tema

Foto: Reprodução/SEcom-MT

Em passagem por Mato Grosso, Lenine lança campanha contra o trabalho escravo e apóia documentário que trata do tema
Reconhecido internacionalmente por sua voz e composições inconfundíveis, o cantor pernambucano Lenine faz de sua extensa carreira de suas músicas, instrumentos poderosos de transformação social. Engajado em causas ecológicas e humanitárias, ele esteve em Mato Grosso no último final de semana para apoiar a divulgação do documentário “Invisíveis”, que, por meio de depoimentos de trabalhadores explorados na nova “escravidão contemporânea” esclarece o conceito desta modalidade criminosa de trabalho.

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O projeto vai produzir conteúdo audiovisual cinematográfico para a esclarecer o conceito contemporâneo de trabalho escravo, que compreende modalidades de trabalho rural, urbano, doméstico e de exploração sexual, em que um empregado é submetido pelo empregador a condições degradantes de trabalho, jornadas exaustivas ou qualquer tipo de cerceamento de liberdade.

Segundo a Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae), em julho de 2014, Mato Grosso era o terceiro estado com maioria das ocorrências de trabalho escravo. Nos últimos 10 anos, mais de cinco mil pessoas foram retiradas do trabalho análogo à escravidão no estado. Deste modo, o apoio do cantor contribui para reforçar a seriedade da campanha. “Meu trabalho é o depoimento do que vejo. É uma ferramenta que pode ajudar. Isso além uma questão de educação”, disse o artista.

Ao longo de seus 32 anos de carreira, Lenine se engajou como colaborador de grupos como o SOS Mata Atlântica, Witness (ao lado do músico e defensor dos direitos humanos Peter Gabriel), Rain Forest Alliance, ONU, WWF, Projeto Albatroz Brasil, Orquestra Sinfônica Heliópolis, Movimento Pró Criança, Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), campanha Ser Diferente é Normal, Instituto Metasocial, entre outros.

De acordo com um dos documentaristas responsáveis pela inciativa, Diego Baraldi, a sensibilização é a ideia principal, uma vez que, de forma abstrata, todos já ouviram falar sobre o tema, no entanto sem compreender profundamente a sua gravidade. “A ideia é trazer a tona a dimensão pessoas que a gente não conhece. O foco são as histórias dessas pessoas. Para isso nos apoiamos em alguns eixos que podem até chocar por mostrar as casas de trabalho escravo, por exemplo. Mas isso leva a conhecer a situação em uma dimensão cinematográfica. Também tem uma parte mais informativa, que detalha o que são as situações análogas a escravidão”, explicou.

A proposta é que o documentário seja um projeto de longo alcance, já que propõe o estudo pelo alcance do audiovisual. Assim, o trabalho nasce como um longa-metragem, que circulará por festivais pelo país e, a partir disso, encontrará e dará dá voz aos personagens. Em seguida outros públicos como os de TV aberta terão acesso ao conteúdo, que poderá ser adaptado as grades de programação contemplando todos os públicos.

A frente da Secretaria de Trabalho e Assistência Social Valdiney de Arruda, fiscal doMinistério do Trabalho, avaliou que a iniciativa carrega consigo uma proposta de contracultura, que tem por objetivo tirar uma causa do anonimato, para que o problema do trabalho escravo deixe de ser tratado como normal.

“São várias situações, entre elas, roubar a cidadania das pessoas. A maioria não possui sequer o registro civil, muito menos uma carteira de trabalho. Eles já estão tão acostumados a viveram à margem da sociedade que acham normal terem os documentos apreendidos para que não fossem embora. Viverem sem água potável, dormindo em barracos, redes, caçando para poder se alimentar. São muitas as violações. A nossa meta é tirar essas pessoas da invisibilidade e devolver a cidadania que lhes foi roubada”, pontuou.

Além de Lenine, o ator Wagner Moura, embaixador Mundial da Boa Vontade da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também está apoiando o projeto “Invisíveis” e gravou um vídeo que será exibido o evento de lançamento. O ator colabora com a OIT desde 2013, quando apoiou a campanha “Cartão Vermelho contra o trabalho infantil”.

Escravidão contemporânea


Uma pesquisa da Ipsos Brasil identificou que a maioria dos brasileiros não sabe responder com clareza o que caracteriza uma situação de escravidão. A escravidão contemporânea no Brasil assemelha-se à servidão e tem sua face rural e urbana. No campo, geralmente os aliciadores, a serviço de fazendeiros em zonas de expansão agrícola, recrutam trabalhadores, que acabam sendo explorados.

Como descreve a ONG Repórter Brasil: “Ao chegarem ao local do trabalho, eles são surpreendidos com situações completamente diferente das prometidas. Para começar, o gato [aliciador] lhes informa que já estão devendo. O adiantamento, o transporte e as despesas com alimentação na viagem já foram anotados no caderno de dívida do trabalhador que ficará de posse do gato. […] despesas com os emporcalhados e improvisados alojamentos e com a precária alimentação serão anotados, tudo a preço muito acima dos praticados no comércio. Se o trabalhador pensar em ir embora, será impedido sob a alegação de que está endividado e de que não poderá sair enquanto não pagar o que deve. Muitas vezes, aqueles que reclamam das condições ou tentam fugir são vítimas de surras”.
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