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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Setembro amarelo

Enlutados por vítimas de suicídio são foco de palestra; Grupo de apoio é reaberto para compartilhamento de experiências

Foto: Olhar Direto

Enlutados por vítimas de suicídio são foco de palestra; Grupo de apoio é reaberto para compartilhamento de experiências
Para cada suicídio cometido no mudo, de cinco a dez pessoas tem suas vidas impactadas diretamente pelo ato. Os sobreviventes, como são chamados familiares, amigos e profissionais envolvidos com os casos, sofrem um luto classificado como mais intenso e longo do que o observado em outras formas de morte. Sob a sombra do luto, eles se equilibram entre a tristeza e a reconstrução, tentando transformar a dor em saudade e minimizar os danos da perda.

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Em Mato Grosso, onde, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança (Sesp), o número de suicídios chegou a 87 no primeiro semestre de 206, a quantidade de enlutados é de quase 500 pessoas, se for levado em consideração o número mínimo. Em Cuiabá, eles podem contar agora com o suporte do Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio (Gass), criado pelo Centro de Valorização da Vida (Cvv), para que suas lutas e vitórias sejam compartilhadas.

O grupo foi reaberto na terça-feira (21), em um evento que contou a palestra “Conversando Sobre Luto”, da psicóloga e suicidologista Karen Scavacini. Ao longo de sua apresentação, ela destacou a importância de que os tabus que rondam o assunto sejam quebrados, e que o preconceito dê lugar a informação. Ela também explicou que, devido à culpa e os estereótipos que rondam o suicídio, o luto nestes casos se mostra de uma maneira diferente.

“Podemos dizer que é um tipo de luto com duração maior e mais intenso, com características e impactos mais fortes. Não estou falando que a dor é maior, mas sim que suas características são próprias do suicídio em si.”

Neste período, os processos sociais mudam e comumente as outras pessoas se afastam, reduzindo o círculo de amigos a apenas um ou dois. Outro equívoco comum é acreditar que o luto tem um prazo, e que depois de determinado tempo, o enlutado precisa sair da cama, de casa, se divertir. “Isso é muito difícil porque não é cronológico. Tem gente que insiste que a pessoa tem que voltar a dançar, por exemplo, a fazer festas, mas ninguém tem que fazer nada disso se não estiver pronto.”

Nestes contextos também é possível que o sobrevivente apresente sinais de um potencial suicida. Por isso, o mais importante, é evitar os julgamentos, tanto aos que partiram, quanto aos que ficaram. “Uma coisa bastante comum é que fiquemos procurando culpados, acusando um familiar que não viu sinais, outro que não orientou. Não é assim que funciona. Muita gente se questiona por não ter reparado em nada, ou pior, é questionada por isso. Mas existem inúmeros tipos de suicídio, e normalmente os sinais dados pela vítima só fazem sentido após sua morte.”

Karen citou ainda casos nos quais, devido a pressão, familiares mentem sobre a causa da morte do suicida. “A gente nem percebe quando pergunta alguém sobre a morte de um familiar. A primeira coisa que fazemos é falar ‘morreu do que?’ Se for suicídio a resposta é muito dolorosa. Tanto que muitos tendem a inventar outra coisa, acidente, aneurisma... Mesmo assim as pessoas vão dando sequencia ao assunto, querendo saber como foi, como aconteceu. Isso não ajuda.”

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Para ela, grande parte deste problema está relacionada a atribuição religiosa de pecada, atribuída ao suicídio ao longo do tempo, que também pode receber denotações de fraqueza ou coragem. Soma-se a isso a negligência de dois assuntos considerados como tabu pela sociedade, a morte e o transtorno mental. Deste modo, como a sociedade não entende que é um comportamento multifatorial, que não tem um culpado, ela tende a fazer essas associações e aumentar o tabu.

“Podemos fazer com um suicídio o que foi feito com a Aids e com o câncer há 20 anos. Ninguém falava sobre isso antes. Hoje as pessoas sabem como se prevenir, o que fazer. Então a prevenção do suicídio deve seguir por este caminho.”

Na Capital, sobreviventes podem buscar ajudar na sede do CVV, na Rua Comandante Costa, 296, no Centro. As reuniões acontecem nas terceiras terças-feiras de cada mês. Os interessados também podem entrar em contato pelo número (65) 3321-4111.
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